quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Debaixo do cobertor


Estava tão quente. Transpirávamos tanto. Bebíamos tanta água para não ficarmos desidratados. Mas agora o tempo mudou. Está frio. Muito frio. E meu corpo pede calor. Meu coração pede a quentura boa dos sentimentos bons. Enfio-me debaixo do meu cobertor. Debaixo dele parece tão seguro, tão quente, tão macio. Sinto até uma vontade estranha de ser um só com ele. Ou ser simplesmente ele.
Não sou egoísta e sei que muita gente está passando frio. Tem tanta gente sem amor, sem carinho, sem afeto. Gente vazia e triste. Queria trazer todo mundo pra debaixo do meu cobertor e mostrar que o mundo pode ser diferente. E que as pessoas também podem ser diferentes. Não sei por que cargas d’água escrevo isso. Só sei que debaixo do meu cobertor sinto que estou protegido. Meu corpo frágil, que deseja ardentemente a segurança de braços fortes e sensíveis, encontra refúgio ali.
Vez em quando nossa alma fica tão cansada que nosso corpo acaba sentindo. É isso. O corpo reflete o que a alma sente e tenta esconder. Mas é em vão. Nossa fragilidade é tão grande. Basta um sopro e logo podemos nos despedaçar no chão. Não há segurança em todos os abraços. Não há verdade em todas as palavras. O mundo, às vezes, é muito escuro e assusta. E a criança só sente medo de abrir a porta e sair por aí. O mundo é um mistério que nos foi apresentado no dia em que um bendito homem nos retirou do lugar mais aconchegante do mundo. O útero da nossa mãe.  Queria mesmo era esse cobertor feio de carne, sangue, etc... Queria me sentir protegido outra vez. Porque quando a luz rasga a escuridão diante dos nossos olhos, ficamos assombrados sem saber o que pode acontecer dali pra frente.
E tanta coisa já aconteceu. O acontecido gera em nós tantas marcas. Decepções. Alegrias. Tristezas. Amor. Ódio. Enfim, são tantas e diferentes marcas. Marcas que fizeram de nós pessoas mais sensíveis, mais frágeis. Outras pessoas infelizmente ficaram mais endurecidas, fechadas, amarguradas. Que triste isso... Queria mostrar para essas pessoas o meu cobertor. Não tem nada de muito extraordinário. Não tem nada de magia. Nada de grandezas. Nele só cabe coisas pequenas, coisas simples. Nele só cabe o que é bom. Por isso, toda vez que me enfio debaixo dele, deixo do lado de fora tudo o que é ruim.
Sabe por quê? Dentro dele só cabe amor, esperança e fé. Amo o que sou. Amo os que carrego dentro de mim. E amo até alguns que ainda nem olharam direito pra mim, mas admiro de longe.  Espero sempre ser uma pessoa melhor. Espero sempre morrer em cada dormir. Espero renascer em cada acordar. Tenho uma fé que você pode achar boba ou doida. Tanto faz. Acredito que esse cobertor, na verdade, são os braços de Deus me aconchegando a cada noite e me devolvendo pra mim mesmo. O que eu perdi. O que ainda não encontrei. Tudo está ali. No silêncio. Na noite fria, que não é tão fria por causa do meu cobertor. Nas palavras pensadas que, às vezes, não conseguem ser ditas pra ninguém. Ali, debaixo do cobertor. Há sempre muito amor.
Que nunca falte. Amém!

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