sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Foda-se


O começo - quando te disse sim - foi o (meu) fim. Estranho, ou não, é isso. Sins que destroem tudo. Nãos que edificam. E eu não aprendi a lidar comigo e com esse excesso de sentir. Sinto além de mim, de ti e de todos. Estou cansado de habitar neste corpo. Este corpo se cansou de mim. Queria viver dentro do teu corpo só pra saber se a vida dói menos aí. Vez em quando parece que você é intocável e inalcançável. Você vê meus olhos despidos, mas não tem coragem de pular de cabeça na escuridão que há neles. Você não se perde em mim. Eu vivo perdido nesse labirinto. Você prefere viver confortavelmente dentro de você. A sua companhia é a mentira, a sujeira acumulada embaixo de um está-tudo-bem-amanhã-eu-resolvo. Você fede por dentro. Mas eu gosto do teu fedor. E te cheiro. E te cheiro. E te cheiro. E teu cheiro... ah, não (!) teu fedor não saí de mim. O que restou de nós – mesmo sabendo que esse 'nós' não existiu, mas existiram os nós que fiz em você – foi apenas o cheiro inebriante das tuas virilhas. Agora já não há mais nada intacto em mim. Está tudo sólido em ti. Porque, no fundo, você bem sabe que viver de mentiras é confortável. A verdade é um tapa na cara. Você não gosta de dor. Eu também não. Mas, ao contrário de você, não vivo em fuga e nem fico anestesiando. Deixo a dor doer. Deixo a ferida sangrar. Deixo os olhos abertos para minha alma (você) visitar. Que triste. Você está ocupado demais cuidando de tecer suas próprias fantasias. Dentro de você eu não caibo. O teu 'eu' ocupa todos os espaços. Seria claustrofóbico viver no teu corpo. É, já não quero mais o que eu queria. Já não sei mais o que querer. Não sei nem se querer é certo. Meus braços não suportam o peso desse cansaço. Foda-se. Você e o seu mundinho de certezas e racionalidades. Deixa eu me perder um pouco mais. Porque, pra você, tanto faz. Foda-se. Você e a tua incapacidade de tocar e se deixar tocar por alguém. Foda-se, já que não posso vomitar teus beijos e nem tua saliva. Foda-se, já que não posso me esconder dos teus olhos que ainda estão escancarados em minhas lembranças. É o verso mais bonito e mais sincero que já escrevi. Acredite. Porque dói. E a dor é tão pura e tão verdadeira. É a minha dor. A dor que você não quis acariciar e nem ao menos colocar pra dormir. Ausente-se mais... e, a cada instante, aumenta em mim a vontade de calar meus dedos até minhas palavras morrerem nesse abismo que há em meu peito. Sim, somos abismos. Mesmo sabendo disso, meus pés insistem em se aproximar. Perigo. O teus olhos me olharam sem olhar fundo e eu pude sentir o abismo me estendendo os braços. Convite mortal. Fui.
Morri.
E ainda não despertei. Deixa-me saborear esta morte. Engula qualquer doce mentira e acredite no que quiser acreditar. Estou degustando essas verdades amargas que a tua ausência me oferece. Parte, mas não me deixa partido, amor. É impossível. Eu sei. Já entendi. (C)alma, teu barulho não me deixa adormecer. Sinto minha alma secar aos poucos. A tua ausência fez de mim um deserto sem oásis. Você não chove mais. Estou despido. Só não me dispo da minha pele porque é impossível. Impossível é arrancar de mim essas marcas. Tuas coxas quentes aqueciam as minhas coxas – frias. Quando sinto que estou esfriando por dentro vou esgueirando pelas beiradas das lembranças até encontrar tuas coxas – quentes – outra vez.  Teus olhos mudos me olhavam por olhar. Mas me olhavam. Era o fio que me sustentava. Só que eles queriam nadar na superfície de mim. E como te pedir pra mergulhar em mim se você nem ao menos consegue mergulhar em si mesmo? Teus lábios sempre foram inacessíveis. Os meus sempre permaneceram nessa sede incurável. Meus lábios ficavam secos de tanto e ir vir pelo teu corpo. Sobre os lençóis da memória ainda me vejo tentando sorver um pouco de você... até que em um momento me afasto de tua pele e vejo sangue. Sim, o meu sangue tingindo tua pele morena. Quanto mais tentava te sorver, mais eu era sorvido por você. Quanto mais queria te beber, mais você me bebia sem saber. Talvez eu só esteja de ressaca de tanto te beber. Talvez eu só esteja seco de tanto ser bebido por você. Talvez eu só esteja querendo te fazer um pedido.
Volta e chove outra vez. 

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

(Você não) me vê


Você não me vê. Que merda! Eu Não me escondo Mais de você. Eu rasguei as cortinas, abri as janelas e as portas. Eu rasguei meu peito. Mas você não entra. Você sempre mantem uma distância de mim. Você fica na soleira da porta só me observando. Mas não entra. Você não entra. Entre nossos olhos eu criei uma ponte. O teu ego agradeceu. Não sou tão perigoso assim. Você nem olha pra mim. Você me enche de mil desculpas. Você vive no mundo da lua. E não há foguete que me leve até você. Entre nós não existe mais uma linha tênue. Entre nós há um abismo intransponível. Quanto mais te quero, mais você se vai. Quanto mais me aproximo, mais distante você fica. Você fingi não entender o que está escorrendo pelos meus dedos, meus olhos, minha boca, minhas feridas. Porra! Você me fere e tanto e não me cura. Aquele que faz a ferida deveria ser responsável por tratar dela até que ela se cure totalmente. Apesar de não acreditar na totalidade da cura de uma ferida. Minha alma é colecionadora de cicatriz. Cada uma carrega em si uma história, um olhar, uma presença e um tanto de ausência. Não, não me venha dizer que você gosta de mim ou que você me ama. Você ama apenas o amor que eu tenho por você. Nada mais que isso. O meu amor é o objeto de desejo do teu ego. Quanto mais te amo, mais inflamado o teu ego fica. Quero te habitar, mas não caibo dentro de você. Não há espaço pra ninguém mais. O teu ego ocupa todo o espaço que há. E não há mais nada que eu possa dizer ou fazer. Estou cansado. Minha alma carece de um porto que não seja mais inseguro. Minha pende. Minha alma. Minha. Não, estou mentindo. Tua. Minha alma é mais tua do que minha. Mas você não vê. Acorda. Ainda estou aqui. Minha droga, meu vício, meu precipício, minha redenção.

[respeite meu devaneio]

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O grito do meu silêncio


Sempre detestei essa ruindade que existe em mim. Sempre quis ter um coração bom. Sempre quis fazer o bem. Sempre quis ser bom. Sempre quis ajudar todo mundo. E sempre quis abraçar o mundo com meus braços que, infelizmente, não são de borracha. Mas sou ruim. Sou ruim por natureza. E direcionar meus olhos pra dentro e confidenciar essa verdade a mim mesmo, é fazer um tratado de paz com minhas infinitas imperfeições. Sempre quis tanto, mas tanto... que quase nada consegui fazer. Esse sentimento de impotência diante da dor do outro, me dói um bocado. A dor do outro, vez em quando, dói mais em mim do que a minha própria dor. É estranho. É raro. Porque parece que endureci um pouco. Ou não. Volto a dizer do que sempre detestei. Sempre detestei sentir a dureza do meu coração. Eu já me detestei por isso. Talvez eu nem tenha endurecido. Talvez tenha se formado apenas uma casca grossa sobre a ferida. Porém, logo alguém vem. Vem e esbarra justamente no local outrora ferido. A ferida toma seu lugar de honra. Sangra. Não, eu não endureci. O sangue escorre, e posso provar do gozo e da dor que se tem quando a vida insiste em pulsar em seu peito surrado pelos nãos, pelos olhos desviados, pelos braços cruzados, pelas batidas insistentes em portas que jamais se abriram, pelas idas e vindas do amor – ou das possibilidades dele. Eu já tive vontade de me arrancar de mim. Há dias em que eu não me suporto. Dormir? Tento, mas nem sempre resolve. Ainda não existe um remédio que me cure de ser. Ainda bem. Ou não. Porque há sempre uma possibilidade. A vida é uma incerteza. Mesmo que sejamos teimosos e tenhamos uma criança birrenta gritando ferozmente bem lá no fundo da alma: eu-quero-assim-do-meu-jeitinho ou eu-quero-agora. Mas que merda! Eu já sei que sou ruim. Eu já sei que há muitos cantos sujos em mim. Só quero um pouco de paz pra descansar essa existência. Não quero ser perfeito. Credo! Deve ser horrível ser perfeito. E deve ser mais horrível ainda esperar por alguém perfeito. É preciso fazer as pazes com nossa humanidade. Sempre me acumulo em mim. Sinto que estou prestes a explodir. Não fique tão perto. Pode ser perigoso. Não quero machucar ninguém. Não suporto quando minhas feridas ferem quem eu amo. E na tentativa de não ferir, acabo ferindo ainda mais. Por quê?! Por quê?! Diga-me. Estou cheio de interrogações. Mas não me venha com as tuas respostas pré-cozidas. Você me ajudaria muito mais se ficasse calado e me abraçasse forte. Isso. Abraça-me forte, porque quero fugir. Faz nó cego em mim. Dispenso os laços. Posso te fazer uma última confissão antes que você se canse dos meus excessos e exageros desmedidos? Posso? Fa(la)rei.  Queria regressar aos teus braços. Porque eles – só eles – se ajustavam às deformidades da minha alma. E são essas deformidades e essas imperfeições e essas falhas e essas dores que não me deixam esquecer o meu excesso de humanidade.

domingo, 11 de agosto de 2013

você


você
segurou minha mão.
e naquele
toque
eu te dizia apenas:
fique
mais um pouco.
ainda é cedo.
não confunda mais
o tempo
de fora
com o tempo
de dentro.
é cedo. é cedo. é cedo.
dentro de mim ainda é
manhã.
enquanto você anoitece,
eu ainda estou
(tentando) amanhecer.
podemos ficar.
só não posso te suplicar.
meus dedos
entrelaçados aos teus
são pedido, prece
e súplica.
mas
você se foi de mim.
e meus
pedaços
foram com você.
você
tentou se desfazer de mim,
mas ainda estou aí
grudado em tua pele.
colado em tua retina.
não precisa notar.
ainda estou.
em você!

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Débil


Somos tão sós. Por mais que eu tente fazer nó em alguém, logo ele se desfaz. E a ausência me faz entender que eu sou o único que nunca vai embora de mim. Sim, é difícil aprender a conviver com os outros. Eu sei. Mas, difícil mesmo, é aprender a conviver comigo mesmo. O outro chega e logo se vai. Eu permaneço sempre aqui.
Sou tão insuportável. Sou tão azedo. Sou tão sensível. São tão cheio de excessos. Sou tão cheio de exageros. Sou tão doce que causo enjoo em almas que tentam experimentar de mim. Sou contradição. Sou sim e não (e talvez). Sou tanto, tanto, tanto... e acabo sempre me afogando em mim.
Onde estará minha salvação?
Por tanto tempo pensei que minha redenção estaria naqueles braços e minha esperança no verde daqueles olhos. Dissolveu. Assim como todas as minhas certezas. Eu estava em pé. Precisei cair. Eu estava inteiro. Precisei me despedaçar. Eu estava iluminado. Precisei me refugiar nas sombras. Aquele olhar me cegava. É, há olhares que ofuscam a verdade. Eu tentava encher aquele coração. Não era possível. Ele já estava cheio de si mesmo. Dentro dele só cabia o seu próprio ego. E eu era o responsável por acariciá-lo.
Minha alma pede caricias. Só que a ponte que nos ligava, quebrou. Nada mais concerta. Há estragos que não possuem reparo. Não quero reparar nada. Deixa tudo assim. Deixa você longe de mim. Deixa os teus olhos bem fechados. Deixa tuas palavras se perderem no vento. A culpa não é minha. A culpa não é sua e nem de ninguém. A culpa é do vento que te levou de mim. Escolhi pensar assim. Talvez seja uma forma de proteger das pontadas de dor em meu peito, toda vez que penso em cada gota de esperança que você bebeu de mim.
Estou tentando beber olhares. É inebriante bebê-los. Mas, infelizmente, as pessoas perderam o costume de olhar nos olhos. Vejo tantas pessoas trancafiadas em si mesmas. Há um grande espaço dentro delas. E há um grande medo também. Sei que algumas são egoístas demais para se deixar encontrar por alguém.
Permaneço sedento.
Depois que o nó se desfez, vivo tentando proteger o que restou de mim. Sei que sou aquele mesmo menino que constantemente levava a mão ao coração. Sempre fiz isso. Alguém pode achar incomum. Uma vez até me perguntaram a respeito, e eu respondi que é apenas para tentar proteger os sentimentos fervilhantes em meu peito. De alguma forma tento segurá-los em mim. Não, eu não quero que nenhum escape. Não quero ser tão só. Quero a companhia de cada sensação, cada emoção, cada dor. Minhas mãos são tão frágeis e meus braços tão débeis. De repente tudo escorre entre meus dedos. O chão frio recebe a quentura do meu sentir. Vazio. Abismo. Preciso chorar nossas ausências. Desaprendi.
E agora?
Agora. Estou preso aqui. Tornei-me o cárcere de mim. Vivo tentando, inutilmente, encostar minha solidão na tua. No entanto, você me parece ser tão inacessível. E eu pareço tão confuso e tão perdido dentro desse buraco que cavei com minhas próprias mãos na ânsia de me encontrar. Só me perdi. Então... por favor... encosta tua solidão na minha. E seremos sós, juntos.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Ainda te amo?


Estou repleto de você. Estou inundando. Estou transbordando. Minhas bordas não me suportam mais. Não caibo em mim e isso não é mais um clichê de mulherzinha. Estou aos pedaços que é para somente te lembrar que você precisa me juntar quando chegar. Não sei mais o que é estar inteiro. Esqueci a sensação. Esqueci tanta coisa. Esqueci meus maiores temores. Você bem sabe o quanto temo braços cruzados e corações vazios de amor. Estou inebriado mesmo quando você está ausente. Você deixa rastros em mim. Você está aqui. Sim, eu posso te sentir mais próximo. É tudo ilusão. Você nunca se foi. Nem eu me fui daquela cidadezinha de nome estranho e poucos habitantes. Nunca nos deixamos. Ainda estamos sentados no banquinho de madeira e naquela noite de lua cheia. Estamos um ao lado do outro. Nossas faces se voltam para o céu. Mas o céu está em teus olhos, meu amor. Não, eu nunca te chamei de amor e nunca pensei na possibilidade de você ser meu. Mas agora posso. Aqui eu posso tudo, minha lua. Estamos tão sós ali. Estou em chamas. É sempre assim. Tua ausência faz de mim gelo. Tua presença faz de mim fogo. Mas não quero que minhas chamas de te queimem. Estou me consumindo a cada vez que você me olha. Deixa que eu me derrame sobre você. Seja o meu (a)mar. Sou um pequeno rio. Desajeitado e perdido rio tentando desaguar em algum canto. Não! Eu não quero desaguar em qualquer lugar. Quero desaguar em você. Ainda não encontrei o caminho que me leva até o teu mar. Ainda estou perdido. Ainda estou sozinho mesmo estando ao teu lado por tanto tempo. Tempo... ah! o tempo não passa dentro de mim. Há um contraste nisso tudo. As horas do lado de fora insistem em passar, em voar, em se perder e em me fazer ficar perdido. Quero me agarrar na tua presença, mas logo vem a tua ausência fazendo as minhas chamas se dissiparem no ar. Sou gelo. E espero que os teus (a)braços venham me derreter inteiro. Voltarei a ser rio a querer encontrar o mar. Posso voltar a ser fogo se você assim quiser. Apenas me deixe ser. Não seja tão inacessível. Não esqueça das vezes que você me roubou, que você me levou mesmo sem querer. Não se assuste. Estou aqui mais uma vez dizendo que ainda espero por você. Espero. No meio do meu nada, no meio do meu vazio, no meio desse buraco no meu peito que está prestes a me engolir. Espero. Não sei se você chegará. Estou tão confuso. Estou me atropelando. Talvez eu esteja te afastando com toda essa minha intensidade louca e absurda. Você está aqui ao meu lado, mas há um abismo, insuportavelmente fundo, entre nós. Espero... mesmo pensando que não há ponte que nos aproxime outra vez. Não importa mais nada. Apenas me basta a certeza de que estou inundado de você. Não sei como isso pode acontecer mesmo com a distância que há entre nós. Fiz nó em você. Será isso? Vem agora ao meu pensamento que o impossível talvez seja sinônimo do amor.
Eu ainda te amo? 

quarta-feira, 29 de maio de 2013

O teu olhar


Você me viu de longe e num segundo eu já estava perto demais. Você me viu e teu olhar me despiu. Você me viu sozinho. Eu estava desprotegido. Eu estava encostado na parede daquele lugar frio. Eu tentava me apoiar na parede porque minha alma já estava enfraquecida. E você me viu.
Teu olhar... ah, teu olhar me alcançou. Teu olhar violou a minha intimidade, o meu secreto, o meu esconderijo. O teu olhar violentou a minha alma. Sinto-me rasgado. O teu olhar estuprou a minha alma. Aposto que você nem notou o que fez. (Não o que você fez, mas o teu olhar). Vivo nessa linha tênue. Desejo encontrar um olhar onde o meu possa descansar. Mas, por outro lado, tenho medo quando alguém me invade dessa forma e me deixa completamente nu. Sempre tive vergonha de ficar despido diante de qualquer pessoa. Disso você sabe muito bem. Sou um tanto tímido.
Mas eu não soube, nem sei e acho que nunca saberei me proteger de você. Teu olhar me expôs e eu vi aquilo que não queria ver. Eu me vi no teu olhar. O teu olhar me devolveu pra mim. Me assustei. De repente, você já estava diante de mim e me estendendo a mão e me convidando gentilmente para uma dança e me convidando a voar em teus braços. Eu ali, todo enfraquecido, todo perdido e encontrado no teu olhar, só queria beber até a última gota de você. Então você me olhou assustado, sem entender nada. Perguntou-me confuso “e se eu secar por dentro?” Ah, baby, você não seca. Não, você não seca.
Deixa eu te beber. Não, eu nunca fiquei bêbado. Eu não combino com bebida. Se eu misturar pode dar merda. Você sabe. Você sabe tanto de mim. Prometo te beber aos poucos. Gole após gole. Quero estar lúcido até o fim (se é que existe mesmo um fim). Mas vez em quando posso exagerar e te beber de vez. Assim mesmo, num gole só. Deixa. Por favor, me deixa mergulhar de cabeça nesse teu olhar-mar. Deixa eu me afogar. Deixa eu me encontrar. Deixa! Estou sedento. Só você consegue saciar a minha sede.
Estendi a mão, mas já não era mais eu que me conduzia. Era o teu olhar. Como uma marionete, eu era comandado pelo teu olhar. Se eles se fechavam, minha alma mergulhava numa profunda penumbra. Não feche os olhos. Não pisque mais. Teu olhar me mantem na luz. Teu olhar me chamou pra dançar antes mesmo de teus lábios pronunciarem o convite gentil. Não consegui dizer sim. Minhas mãos disseram por mim.
Dançamos. Meu corpo já não me pesava mais. Ou era minha alma que não me pesava mais? Não sei dizer. Só sei dizer que eu estava leve. E você me levava e você me trazia e você me prendia e você me perdia e você apagava a luz e você acendia e eu só dizia sim e eu queria e eu querendo mais e eu com essa sede de uma vida toda sem beber um pingo d’água. Você era minha redenção. Você era a minha segurança. Só que tuas mãos me soltaram e teus olhos se desviaram. Você foi a minha perdição.
Tão irônico e tão cruel. Você me salvou, mas você fez com que eu me perdesse. Agora vivo assim. Procurando. Sim, eu ainda procuro. Mesmo que eu diga para tantos que já me cansei, que já desisti e que amor não é pra mim. Escondi minha esperança no fundo do peito, lá no fundo mesmo, que é pra ninguém se atrever a destruí-la. Espero. Há um silêncio em mim que se chama espera. De olhar em olhar vou entendendo que há pessoas que ainda têm medo. Medo se encontrarem consigo mesmas. Medo de se encontrarem com o que são. Medo de se verem refletidas num olhar alheio. Medo de despencar num abismo. Ah, mas eu vou. Vou com medo mesmo.  Não sei se isso é coragem ou ousadia. Sei que vou. Talvez te encontre de novo. Só não sei se ainda me encontrarei no teu olhar.
Ah, o teu olhar. Vem me visitar.


terça-feira, 21 de maio de 2013

Estou doente


Estou doente. Extremamente enfermo. Dói muito. Agulhas são inseridas em minhas veias. Estão tentando – em vão – me curar. Elas, as agulhas, alcançam minha alma. Não me venha com esse discurso enjoativo de que sou insano ou dramático demais. Porque estou enfermo. E a doença sou eu. Sim, estou enfermo de mim. Estou sofrendo com o excesso do que sou. Sou um transbordamento de mim mesmo. Sou uma mistura do fui, do que sou e do que queria ser. Sempre me perco e caio na ilusão inconcebível de achar que posso me encontrar no outro. Mais que isso: constantemente (e estranhamente) penso que existe alguém que pode me curar de mim. Tento encontrar no outro a minha redenção e o meu descanso. Mas o outro, diversas vezes, me cansa muito. No outro, eu já encontrei a minha perdição. Porque o outro está se procurando em outro alguém. Vivemos assim. Vivemos nessa interminável procura por nós mesmos. E, quanto mais nos procuramos, mais nos perdemos. A vida é um labirinto. Se a gente se desespera, a saída nunca é encontrada – se é que existe mesmo uma saída. Não há motivos para desesperos. Não há, mas a gente sempre encontra um motivo (por menor que seja) pra se desesperar. Quando se torna perigoso demais viver dentro de mim, desejo ardentemente uma saída de emergência. Uma porta que me permita escapar do incêndio das minhas emoções e sentimentos. Pois há dias que são tão pesados. O tic-tac do relógio se torna ensurdecedor. (Dor, emudeça em meu peito, por favor.) Com sinceridade te digo que vez em quando me canso de mim. No entanto, é com a mesma transparência que te confesso que, se eu não fosse eu, com certeza, seria da mesma forma. O ser humano nunca está suficientemente contente com o que é e com o que tem. Somos inconformados.  Procuro refúgio e procuro mais. Procuro um subterfúgio. Procuro uma sombra num dia ensolarado e extremamente quente. Quero fugir. Quero me esconder. Mas não há escapatória. Tento fazer a todo custo, e de qualquer maneira, uma transfusão do que o outro é, em mim. Porém, há uma ligeira rejeição. Não há cura. Não! Estou fadado a ser eu. Essa talvez seja a única doença que nunca – e jamais – conseguirão encontrar uma cura. Quando éramos crianças geralmente chorávamos bastante e depois dormíamos um tanto mais. Tudo para descansar de alguma dor da infância, de alguma palavra dura ou de alguma briguinha infantil. Essa era a melhor forma de resolver nossos “probleminhas”. Aí crescemos, e dormir se tornou um descanso ou um adiamento da dor. Esse sono não é interminável. A dor também não é. Estar acordado, e permitir que a dor doa, talvez seja uma forma de sentir a vida pulsando em nós. Acho que eu não conseguiria viver num corpo que não sente dor. Se dói, é porque estamos vivos. Não sei se há uma conclusão para tudo. Acho que não. Pensamentos sempre se renovam e deixam de ser os mesmos. O que concluímos ontem, poderá ser o oposto do que pensamos hoje. A vida nos trata assim. A vida nos faz assim. Mostrando as possibilidades, revirando nossas certezas, dissolvendo nossas incertezas, fazendo o (im)possível. Montando, desmontando, remontando o que somos e o que desejamos ser. Chega! Desisti. Não há quem me cure de mim.

P.S.: Só falta eu me convencer disso.


sexta-feira, 17 de maio de 2013

Um conto sem título


A mesa estava posta desde o pôr-do-sol. Ela não queria que alguma coisa desse errado dessa vez. Não que houvesse acontecido outros encontros entre os dois. Aquele era o primeiro, e talvez único encontro. Afinal, é preciso considerar todas as hipóteses. Ela sabia bem disso. Já havia sofrido muitas decepções. Já havia alçado voo nas asas das expectativas e também havia caído de cara no chão por conta da realidade que, quase sempre, faz questão de cortar as asas de quem se ilude demais. Coração bobo. Coração cheio de sonhos e ilusões. Coração cheio de amor e carências. Um coração de menina. Um coração de mulher. Muitos corações dentro de um só corpo. Muitos desejos numa só pele. Muita sede num só olhar. Ela era um excesso em pessoa. Mas naquele momento ela precisava estar serena e calma. Por isso, a pressa com a arrumação de seu pequeno apartamento de frente pro mar. Aquela vista era realmente linda. Ela estava na varanda que dava de frente para o mar e para o esplendido pôr-do-sol. Não havia forma melhor de se aquietar um pouco antes das sete e meia. Esse era o horário em que haviam marcado o tal primeiro encontro. Na verdade, eles já se conheciam. Na verdade, eles já se namoravam. Pelo olhar. O olhar dela sempre o beijava todos os dias quando eles se cruzavam em sua rotineira caminhada matinal. Ele sempre distraído. Ela sempre atenta. Ela nunca desperdiçava uma oportunidade. Tudo era uma possibilidade de amor. Talvez esse fosse o principal motivo de tantas decepções. Mas, enfim, ela o namorava com o olhar. Ele não sabia disso. Porém, numa manhã um pouco acinzentada, ela tropeçou enquanto tentava encontrar o olhar dele. Ela era desengonçada. Mas isso foi a seu favor naquele momento. Ele ofereceu ajuda e perguntou se estava tudo bem. Ela corou de vergonha e sorriu meio sem graça com o toque gentil dele sobre seu ombro. Ela desejou que ele nunca mais tirasse a mão do corpo dela. Mas logo ele o fez. Ela disse que estava tudo bem e agradeceu pela preocupação. Ele continuou e ela seguiu um pouco grogue e cambaleando. Aquele olhar. Aquele olhar era o vinho para a alma dela. Ela não costumava beber muito. Não sabia como era estar bêbada. Sempre achou uma fuga da realidade e covardia beber até ficar embriagada. No entanto, de embriaguez da alma ela entendia muito bem. Foi justamente aquele olhar que a fez ficar embriagada. E como um viciado em álcool ela sentia uma necessidade enorme de tomar mais daquela bebida. Ela queria mais aquele olhar. Os dias passaram. O olhar dele deixou de ser indiferente. Ele começou a percebê-la. Os contornos do seu rosto magro. As ondas em seus longos cabelos louros, amarrados num rabo de cavalo. Pra ele, ela poderia ser só mais uma. Mas, pra ela, ele era mais que isso. Mais que um corpo dotado de músculos e beleza. Eles faziam caminhos opostos, mas, depois de algumas conversas, num banco qualquer da orla da praia, eles decidiram caminhar juntos. Um adentrando o território do outro. Ninguém mais estava na contramão. Primeiro o nome, depois o sobrenome, depois o-que-você-faz-da-vida, e depois aonde-você-gosta-de-ir. E aquele punhado de perguntas até chegar ao famoso quer-jantar-comigo? “Seria ótimo.” Essa foi a resposta dele ao convite dela. Ele não era de muitas palavras. Dizia sempre o necessário. Ela sempre tinha que controlar a vontade que tinha de despejar sobre ele o seu mar de palavras. Mas ela sabia que ele poderia se afogar. Depois do convite, veio a insegurança. Impossível é encontrar uma pessoa que seja segura em relação ao amor.  Como seria? O que aconteceria? Sem se arriscar, ela jamais saberia. A campainha toca e ela se assusta como se estivesse dormindo. Ele chegou. O coração salta freneticamente em seu peito. Ele chegou. Ela quer que dê certo. O vinho estava sobre a mesa. Ela não pretendia beber muito. Tinha medo da mistura de álcool com o olhar embebido de mistérios dele. Foi até a porta, respirou fundo e abriu. Ele sorriu e ela retribuiu o sorriso.
– Posso entrar? – Ele perguntou.
– Entre. – Ela respondeu desejando que ele pudesse ficar pra sempre ali com ela.
Jantaram. Conversaram. Beberam vinho. Ela estava embriagada pelo olhar dele e certa de que ele era um perigo pra ela. Mas ele era o melhor perigo que ela poderia correr. Quando ele a tomou pela cintura e a beijou ela sentiu que os beijos dele eram como um veneno. E quanto mais ele a beijava, mais ela queria. Ela queria o veneno doce que os lábios dele ofereciam. Ele não queria mais uma. Ele a queria. No simples. Nas palavras. No olhar discreto com que ela perscrutava cada movimento dele. Ele a queria com toda aquela urgência e insegurança de mulher. Ele deixou de ser moleque-que-quer-só-uma-transa. Ele desejava ser o lugar seguro para ela. Ela queria se abrigar nele. Eles queriam ser um. Quando eu olhava pra ele, enxergava-a. E quando eu olhava pra ela, enxergava-o. Os dois se confundiam. Os dois se misturavam de uma forma linda. Eles não formavam um casal perfeito. Isso não existe. Eles aprenderam a juntar suas diferenças, suas limitações para serem pessoas melhores. Um para o outro. E em cada limitação eles se construíam, se destruíam e voltavam a se reconstruir. Amor é isso. É estar indo ao chão e se reconstruindo tantas e tantas vezes. 


sábado, 4 de maio de 2013

Ela e a luz


Abriu as janelas do quarto. Era um novo dia. Mas, por dentro, ainda havia sobras de um ontem amargo e mal vivido. Quisera ela que as janelas de sua alma se abrissem com a mesma facilidade que as janelas de seu quarto se abriam. Suas forças se esvaíram e ela foi ao chão. Sua alma se trancou dentro de si com medo da luz do dia. Depois que se passa muito tempo na escuridão, a alma da gente se acostuma com os breus e deles não quer mais se apartar.
Era assim quando ainda estava segura, tranquila e protegida do mundo, no seio materno. Ela desejou regressar ao útero de sua mãe. Lugar secreto, escondido, o melhor canto de mundo que já foi criado. Queria aquecer sua alma, invernada, nas centelhas do amor, no entanto, só lhe restou a solidão e o frio existencial sendo acolhidos pelo piso claro de seu quarto meio bagunçado.
Tudo bagunçado. Do lado de fora é muito fácil arrumar, colocar em ordem, deixar limpo. Mas, quando se trata do lado de dentro, a gente se perde e esquece que o tempo tem se apressado e não temos conseguido acompanhar seus largos passos. O tempo. Ah, o tempo passa. Ela não. Ela se recusava a passar com o tempo. Tudo bagunçado. Esqueceu? Ela deixou o passado bagunçado. O passado morava em seu presente. E o seu presente nunca era vivido. Quis, mais uma vez, ter forças suficientes pra se levantar, se manter firme diante das janelas abertas e deixar o sol aquecer seu corpo esguio de menina.
Levantou-se e sustentou todo o peso de seu corpo sobre os pés de bailarina que desistiu da dança. A vida tocava, mas ela não dançava mais. O peso da culpa e o medo de aceitar suas falhas incapacitaram-na de dançar. Tudo escuro. Tudo sujo. Tudo pesado. Tudo bagunçado. O mundo estava sobre suas costas. Suas costas carregavam o mundo. A leveza da menina se foi quando ela decidiu que ia crescer. E crescendo, esqueceu de suas limitações.
É preciso se perdoar, menina. Aceitar que aconteceu. Aceitar que não deu. Aceitar que há dias escuros que só voltaram a se iluminar quando abrirmos as janelas da alma sem medo da luz. Os breus que nos cobrem a alma são os medos que nos limitam a visão. Você sabe. Eu já te disse, menina. Você deve ter esquecido. Ver, ou melhor, enxergar dói. Ver além da superfície é mergulhar com os olhos. E quando dói muito a gente prefere ficar cego.
Ela abriu os braços como se pudesse abraçar toda luz e quentura que emanavam do sol naquela manhã. Sentiu-se estranhamente confortável com aquela luz tocando sua pele e com o calor que tomava seu corpo. Cerrou os olhos com força e desejou intensamente voltar à superfície. Era como se a luz pudesse penetrar sua pele e beijar sua alma. E, no beijo, se tornaram uma só. A luz e ela. Ela e a luz.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Das minhas feridas escorrem palavras


Estou inteiramente e inegavelmente rasgado ante a mudez dos teus olhos. Aqueles mesmos olhos que outrora beijavam a minha pele empalidecida. E como eu gostava de ser beijado por teus olhos. Teus olhos. Teus olhos. Teus olhos. Vou repetindo por dentro pra não me esquecer da intensidade com que os teus olhos me olhavam e me beijavam.
Se sou comida ou bebida pra alma, não sei. Sei que você enjoou de mim. Você me vomitou e eu ainda não sei o motivo. Meus lábios estão cansados e meus dedos já se calaram. Não consigo mais te escrever. Não consigo mais te perguntar o motivo dessa tua indiferença. Pode me odiar. Sim, eu preferia que você me odiasse com toda intensidade que você é capaz. Porque ódio dói menos que indiferença. No ódio, você ainda é lembrado de alguma forma pela pessoa. Mas, na indiferença, você é completamente esquecido.
Estou ferido. Você me feriu sem me tocar. E acho que essas feridas são as que mais demoram de cicatrizar. Você me fere com esse olhar mudo. Estou ferido. Repito. E das minhas feridas escorrem palavras. Essa foi a minha escapatória. Esse foi o meu remédio. Esse foi o meu cuidar das feridas. Esse é o meu porre de (quase) todos os dias. Escrever. Escrever. Escrever. Até sentir as palavras secarem dentro desse meu coração burro que traz o mundo inteiro pra dentro de si. Vou acomodando sentimentos e palavras e gestos e ausências e silêncios e pessoas e desejos e necessidades. Vou juntando tudinho dentro de mim, ao ponto de me sentir estourar pelas beiradas.
Sou um perigo. Sou o carro em alta velocidade a atravessar o sinal vermelho em uma avenida agitada. Atropelo tudo. Atropelo o mundo. E me ferro. Acho que posso ir mais. E acho que posso ir mesmo estando todo ferido.
Quanto maior for a proximidade, maior será o perigo. Não existe ninguém mais perto de mim do que eu mesmo. Sou o meu maior perigo. Talvez eu já tenha te dito isso. Desculpa se volto a repetir. Palavras nunca são repetitivas. Palavras se renovam dentro da gente. Eu, por exemplo, vivo me reciclando. Reciclo sentimentos que já estavam tão mofados e velhinhos. Não prestava pra mais nada. Mas aí vem o senhor amor e a senhora vida e tratam de reviver em mim o não-mais-vivido.
Quer saber? Quer? Se não, tanto faz. Se sim, obrigado por me escutar. Não culpo ninguém por cair tantas vezes nesses abismos no meio do caminho. O próximo passo é sempre meu. Sou eu quem dá o passo. Sou eu quem diz sim. Ao outro compete o convite. Mas só a mim cabe a decisão de ir ou não. Pode dizer que eu sou doido, maluco. Viver é mesmo assim. Não tem muita lógica. Se tiver, perde toda a graça. (Vi)ver dói. E, se não doesse, não se chamaria vida. Se chamaria qualquer outra coisa, menos vida.
Ai, vida, que dor é essa? Cadê minha anestesia?

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Marcado


Todas as experiências ruins e toda escuridão e toda dor e todas as feridas e todas as marcas e todas as lembranças. Eu deveria esquecer tudo. Eu deveria simplesmente amassar como um papel rasurado e jogar no lixo. Eu deveria me desfazer de tudo. Eu deveria jogar no mar e deixar as ondas levarem pra bem longe de mim. Assim como quem vê da praia um banco se perder no horizonte. É frustrante. Quanto mais desejo que tudo se distancie de mim, mais se aproxima. Tudo está dentro de mim e eu ainda continuo querendo que vá embora. Faz as malas, não se despeça e nem mande lembranças. Não é tão fácil assim. Sei disso, mas prefiro acreditar que as coisas são ou poderiam ser assim. Tudo o que aconteceu do lado de fora ficou marcado como ferro em brasa aqui dentro do meu peito. Acontece que algumas lembranças são como tatuagens na alma. Minha alma está marcada como quem está vivo. Uma alma sem marcas é uma alma que jamais se dispôs a viver. A vida tratou de me marcar. Sem dó. Sem piedade. Sem compaixão. Eu poderia dizer que não queria tantas marcas. Mas viver é estar sujeito a ser marcado. Carrego em mim as marcas de quem, mesmo com medo, está tentando viver a verdade do que é e do que nasceu para ser. Não acredito que a gente nasce por nascer. Não acredito que a gente nasça no meio de um vazio sem nada a procurar. O vazio de dentro muitas vezes é maior do que o vazio de fora. E vez em quando nós confundimos muito o vazio interior com o vazio exterior. No meu peito há um buraco imenso cavado com minhas próprias mãos na ânsia de me encontrar, me preencher e me ver inteiro. Sou contradição. Ao mesmo tempo em que me sinto cheio, me sinto vazio. E ao passo que me sinto inteiro, me sinto aos pedaços. Junte. Sim, junte meus pedaços. Quebrei-me inteiro para que você juntasse meus cacos. Não tenha medo de se ferir. Porque amar é ajudar o outro a juntar seus cacos mesmo correndo o risco de se ferir. Talvez a falta e a ausência que mais tem me doído seja a de gente que corra riscos por mim, que se fira e se deixe doer por mim. Sinto-me desgastado de tanto gastar o meu amor. Sorte é que o amor em meu peito rasgado sempre se renova. De repente, fiz aquilo que sempre faço. Fechei os olhos. O mundo deixou de existir e pesar sobre mim. Sorri por dentro. Meus pedaços vão se juntando e eu vou encontrando uma forma de seguir. Andando por fora e andando por dentro. Eu sou um mundo a ser desvendado. E mesmo cansado eu preciso (pros)seguir, pois a vida fez de mim um menino marcado.


quinta-feira, 4 de abril de 2013

Sou uma tempestade


Pintei o meu cabelo há alguns dias só pra ver se você me percebe. Mas você, definitivamente, é um boboca. Sim, tive que pintar com uma cor bem incomum pra facilitar as coisas. Mesmo assim, você não me notou. Que merda. Será que eu tenho que andar nua em plena Avenida Paulista pra você perceber que eu existo?
Ando tão cansada dessa minha vida medíocre. Tenho fumado vários maços de cigarro, tenho bebido tanto café e comido tanto chocolate. Estou me sentindo gorda. Você me olha todas as manhãs e diz que eu sou louca e que não engordei nem ao menos uma grama. Engordei sim. Engordei por dentro. Minha alma me pesa e tenho me arrastado pelos cantos e pelas ruas e pelos bares e pelo meu trabalho e pela minha faculdade e por essas ruas frias e solitárias de São Paulo. É, por mais que as ruas estejam cheias, as pessoas andam sozinhas consigo mesmas. Meu olhar sempre se perde, procurando de rosto em rosto, um olhar que encontre o meu e possa ali descansar. É isso que minha alma deseja tanto. Descansar. Aí vem você e me diz que te tenho e não há motivos pra eu procurar em outro lugar esse tal descanso.
Você não me leva a sério. Isso me deixa irritada. Detesto quando alguém menospreza o que eu sinto ou o que eu penso. Detesto mais ainda quando você, ou qualquer outra pessoa, diz que sou dramática.
Sabe o que houve? Teus braços não me descansam mais. Teus braços não são mais o meu oásis, o meu lugar de descanso, o meu abrigo. E tudo isso porque você não me quer inteira. Você não me devora mais. Você apenas toca o meu corpo, os meus lábios, os meus seios. Teu toque não me toca mais. Teus olhos não me enxergam mais. Teus olhos eram o espelho para minha alma e agora sinto uma saudade imensa de enxerga-la nesse espelho.
Sou uma tempestade. E estou pedindo que você seja – sempre – o meu guarda-chuva. Não consigo ser garoa e nem ser chuva. Sou intensa demais. Um cafezinho não está resolvendo minha situação. A ansiedade está fazendo com que eu me sinta enclausurada dentro desse corpo. Não estou me cabendo. Queria que alguém existisse no meu lugar pra eu poder descansar um pouco de ser.
Estou com o peito rasgado diante dos teus olhos fechados.
Toda noite é sempre a mesma insônia. Minha alma está deserta. Estou sozinha mesmo estando com minha cabeça recostada em teu peito. Você acorda no meio da noite e passa os dedos entre os meus cabelos tingidos (que você insiste em não notar). Eu só queria que você me abraçasse a alma. Preciso chorar até secar a última gota que houver dentro de mim. Estou seca. Estou molhada. Estou quente. Estou fria. Estou e não estou. Sou e deixo de ser.
Peguei no sono bem tarde. Acordei bem cedo. Meu corpo se levantou e minha alma continuou enrolada entre os nossos lençóis. Eu ainda não sei qual é o motivo que me leva a insistir em nós. Se é mesmo que esse ‘nós’ ainda existe. Tenho medo de te ver partir. Ainda me lembro do último que partiu. Ele me deixou partida. E isso não é mentira e nem exagero. Sinto que você dá sentindo à minha existência. Depois que você chegou (inconscientemente) suas mãos juntaram os meus pedaços e me senti reconstruída de novo. Quando estou do seu lado, ainda que você seja indiferente e não me queira inteira, sinto que estou viva. Estou cansada de ver minhas esperanças morrerem e de sempre ter que sepultá-las. Quero viver agora.
Não se vá...
Na verdade, não estou cansada da vida. Estou cansada de você. Só que não consigo admitir isso. E dizer assim, em voz alta, parece uma loucura. Posso pintar meu cabelo de preto de novo. Posso parar de fumar tanto. Eu quero apenas que você note que eu existo.
Porra, eu te amo tanto.

(Sentou no canto de seu quarto e chorou por mais de duas horas. Depois ele chegou do trabalho. E nada mudou.)


sexta-feira, 22 de março de 2013

Não sou anjo


Sinto muito, mas eu não sou um anjo. Não tenho asas. Não sei voar. Nem tenho um bálsamo que possa te curar. Não carrego comigo o poder de estar lá (sempre) quando você mais precisar. Não, não me chame de anjo. Essa palavra traz um peso tão grande sobre meus ombros. Não sei te explicar muito bem. Só sei que anjos são criaturas tão divinas, tão puras, tão fieis. E estou muito longe de me parecer com um.
Sim, eu queria poder ser um anjo. Não pela divindade, mas porque admiro tudo aquilo que um anjo tem a capacidade de fazer. Não quero ser divino, pois sou fascinado pela minha humanidade completamente imperfeita. Minha imperfeição me aproxima mais do chão. Nunca gostei de “andar nas nuvens” como se não pertence também a esse mundo. Gosto dos meus pés assim. No chão. É onde eles devem estar sempre. Entre o céu e a terra, estou eu, procurando um caminho, que me leve até onde eu devo ir.
Quero apenas fazer tudo aquilo que devo fazer. Acredito que nasci com uma missão. Todo mundo nasceu com uma. Não sei bem se já descobri a minha e nem sei se você já descobriu a sua. Só sei que cada um de nós, sem exceção, nasceu com uma luz especial. Uma luz capaz de iluminar muita escuridão existente nesse mundo. Vez em quando me sinto meio perdido em meio a tantas pessoas. Não me sinto eu mesmo. E até mesmo nem me conheço.
Meu maior medo é perder minha identidade, me perder de mim e não conseguir me encontrar mais. Queria ser um anjo não apenas para salvar os outros. Queria ser anjo pra conseguir me salvar de mim e me salvar dos outros. Mas ouvi dizer que o dom que você recebe não serve pra você mesmo. Recebo com mãos abertas o remédio que não serve para curar minhas feridas, mas para curar feridas de corações que, às vezes, nem conheço muito bem. Mas não me importo.
Na inocência de criança a gente se lança de um penhasco na esperança de que alguém vá nos segurar lá embaixo. Confesso que já confiei em muitas pessoas dessa forma. Confiei cegamente achando que essa tal pessoa fosse me segurar lá embaixo. Mas é tão difícil ser resgatado por quem está com os braços cruzados e com o coração fechado. Vocês me falam de portas fechadas, mas o mais triste é ver corações completamente trancafiados. Ah, meu Deus, quanto medo em mim. Medo de me ver fechado, mofando dentro dos cômodos da minha alma pequenina. Não nasci pra viver trancado em mim. Sei que quando abro as portas há gente que entra pra fazer bagunça e deixar tudo aos cacos. No entanto, isso não pode me fazer desistir de mim e dos outros. No mundo ainda há pessoas que carregam em si um pouquinho de bondade. No mundo ainda há gente que precisa de ajuda, precisa de uma palavra, de um abraço, de um olhar. Precisam de apenas um gesto. Mas eu não consigo ser tudo pra todo mundo.
Então, por favor, permita-me ser o que sou para aqueles a quem devo ser algo bom. Já sei que vou tropeçar várias vezes nas inúmeras pedras das minhas inconstâncias e imperfeições, mas eu quero fazer o bem. Eu quero ser bom. Não preciso ser perfeito. Só preciso ajudar quem precisa. Só preciso iluminar quem está envolto pela escuridão. Só preciso curar quem está ferido. Sei que há alguém que agora está passando seus olhos por essas palavras mirradas que jorram aos poucos pelos meus dedos, e, sei também que esse alguém está precisando de um toque puro, desinteressado, um toque amigo e acolhedor. Queria poder te ver por dentro e poder te tocar. Queria te ajudar a curar essa ferida que se abriu, por algum motivo, na sua alma. Se está doendo e se você chora é porque algo está acontecendo. A ferida está se curando. Só se fere quem está vivendo de verdade. Não tenha mais medo dessas feridas. Deixa doer. Deixa curar. Deixa a ferida se ligar novamente. A dor passa. E você não precisa tentar amenizar com abraços vazios de amor. Deixa passar...


domingo, 3 de fevereiro de 2013

Cegos


– Você só quer o meu corpo nu. E a única coisa que eu desejo é ter a tua alma nua. Total e incondicionalmente entregue a mim.
Ele balançou a cabeça, confuso.
– Não estou te entendendo. Na verdade, eu nunca te entendo. Você me diz tantas coisas sem sentido.
Ela arregalou os olhos, indignada.
– É sempre assim. Você sempre diz que não me entende e diz também que sou louca. Mas, quer saber de uma coisa? Você entende perfeitamente o que eu te digo. Você é só mais um cara que finge não entender o que uma mulher diz. Só pra não se comprometer. Só pra não criar laços e nem deixar enraizar.
– Mas eu te curto. É bom ficar com você. Bobinha, você é muito legal. Só é um pouco exagerada, dramática e sentimental. Mas é legal.
– Você me curte? Eu não sou Facebook. Lá, você só curte e fica com aquilo que te faz bem. Mas comigo não dá pra ser assim. Não dá pra selecionar o que é bom e menosprezar o que não é tão bom aos seus olhos. Você só quer o prazer dos lençóis. Eu quero o prazer da entrega total. Nossos corpos se tocam, mas nossas almas não se olham. Ou melhor, minha alma tenta olhar e tocar a tua, mas você está sempre tão distante.
Respirou profundamente e revirou os olhos.
– Pronto! Começou de novo...
– Essa é a pior distancia. Quando nossos corpos estão pertos, mas nossas almas estão distantes. Você é tão fútil e superficial. Só você que não percebe isso. E espero que não seja tarde quando perceber o tempo que está escorrendo pelas suas mãos.
– Olha, eu não sei te entender. Eu não sei te explicar minunciosamente como eu me sinto quando estou com você. Só sei que é bom. E quero continuar.
– Desculpa, mas isso não basta. Eu quero mais. Eu quero te ter por inteiro. Quero teu olhar no meu. Quero a tua mão na minha. Quero teus braços para o meu corpo frágil. Só que parece que eu não sou suficiente pra você.
Respirou profundamente outra vez. E desejou ardentemente sair dali correndo e também desejou toma-la pela cintura e beija-la por um longo tempo para que não houvesse mais espaço para ela falar. Mas resistiu.
– Estou tão novo para assumir um relacionamento sério.
Ela fechou os olhos e seu rosto assumiu uma expressão cansada.
– E eu estou tão cansada de me gastar e me desgastar e me doar e me entregar para quem está de braços cruzados sem o menor interesse em me receber. Cansei. Mas sou insistente. Pareço chata quando falo nisso. Sim, sou exagerada. Você tem razão. Mas é o que eu quero. É o que eu sinto. Não posso deixar passar.
– Sinto muito...
– Eu sinto mais ainda. Mas se você quer assim. Que seja...
Ela fechou olhos mais uma vez como se quisesse evaporar naquele momento e sumir dali. O que ela mais queria era se atracar ao corpo dele e dizer que estava tudo bem. Mas ela sabia que não estava. Ela precisa dizer não. A maior causa de sua dor era por não saber dizer não. Foram tantos sins que a deixaram vulnerável. Ele a usou. Ela estava cega. E ele também. Ela voltou a enxergar. Mas, que pena, ele se levantou e foi embora. Cego. Indiferente. Incapaz de se entregar. Vazio. Sempre tentando se satisfazer em outras bocas, em outras camas. Incapaz de criar raiz em algum coração. Ele não se pertencia. E jamais poderia pertencer a alguém.
Mas o tempo sempre passa e tudo muda. Pena que nem todas as pessoas passam com o tempo e nem mudam com ele.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Peça-me pra ficar


Peça-me pra ficar. Na verdade, eu nunca quis partir. Sempre quis ficar. E queria ficar perto de você. Queria ser a tua pele. Queria que você me levasse em todos os cantos em que você fosse. Queria que minha alma mergulhasse na tua e fossemos uma linda mistura homogênea. Tanto querer em mim e tanta indiferença em ti. Heterogênea. Nossas almas, nossas vidas, nossos corações não se misturavam.
Se você tivesse me olhado nos olhos e me pedido pra ficar, eu te confesso que ficaria. Por você, só por você, e, por mais ninguém, eu ficaria. Mas teus lábios não se abriram. Nem teus olhos procuraram pelos meus. Então eu tive que ir. Tive que aceitar que você não cabia a mim. Minhas mãos não te alcançaram. Meus braços se fatigaram de tanto procurar pelo teu corpo fugitivo. Teu corpo não era meu. Teu corpo era de outros braços. Não sei de quem você é. Muito menos sei se você é de você mesmo. Desconfio muito da sua pertença. Acho que você deixa tudo e todos te levarem. Eu queria ir com você.
É uma merda ter que reviver isso. É uma merda sentir que, em teus braços, eu me sentiria incrivelmente seguro. Você me domaria como ninguém. Só de você me olhar eu me desmontaria inteiro e deixaria de ser eu. Eu quis ser você pra me sentir aliviado de ser eu. Mas era impossível. Eu nunca encontrei uma fresta para me acomodar dentro da tua vida.  Nunca segurei tua mão, mas sinto que ela sempre esteve entrelaçada na tua. Você era o meu esconderijo. Você era o meu refúgio. E eu fugiria com você. Nem que fosse pra sua casa, pro seu quarto. Eu poderia viver debaixo da sua cama e ninguém teria a necessidade de saber da minha existência. Bastaria somente que você soubesse. O que me mantinha vivo era essa certeza de que você sabia que eu existia e de que poderia bater em minha porta quando quisesse. Ou poderia, quem sabe, me surpreender no começo da noite com um susto e me fazer querer te xingar por isso. Bastaria um mundo só nosso. Onde eu existia pra você e você existia para mim. Mas tudo isso soa tão meloso. E agora quero vomitar todo essa doçura e amargura que estão assolando o meu peito que aspira por paz.
Você faz guerra dentro de mim. Você me afronta mesmo quando está calado. Você me questiona mesmo quando está ausente. E agora eu caí no erro de misturar passado com presente. Você é o meu passado. Tive que soltar tua mão. Tá, eu sei que nunca a segurei de verdade. Mas eu tive que soltá-la. Você nunca pediu que eu ficasse. Minhas asas estavam feridas, cansadas de tanto voar até o teu ninho. Bati asas e voei pra longe. Agora eu vivo por aí. Voando de coração em coração. Procurando o meu abrigo, o meu refúgio, a minha morada.
Já te fiz tantas confissões. Agora preciso muito fazer outra. Estou cansado. Cansei de ficar voando de coração em coração, de boca em boca, de ninho em ninho. Meu cansaço precisa descansar. Onde estará o ninho a que eu pertenço? Sou passarinho que resolveu se libertar da gaiola em que vivia. Eu me mantinha preso em você até o dia em que percebi que a porta da gaiola sempre esteve aberta. Acontece que eu tinha medo de voar, de me ver livre dos teus olhos tão profundos e instigantes. Não queria me sentir desprotegido mais uma vez. No entanto, eu tive que arriscar. Como sempre faço. Tive que me livrar de você pra me ver livre de mim mesmo e dessa dependência louca.
Não sei mais onde se encontra o teu ninho. Perdi o rumo e a direção. Não sei se isso é bom ou ruim. Só sei que agora me deu vontade de encontrar o caminho pra pousar naquele mesmo ninho. Descansar. Repousar. Me encontrar. Por isso, vem. Vem numa noite fria para que minha alma nua se vista de você. E ali se esqueça. E ali adormeça. Vem. Esse talvez seja o último pedido que eu te faço. Não queria mais pedir. Mas é inevitável.
Por favor, vem.


domingo, 6 de janeiro de 2013

Azedo


Queria ouvidos que estivessem totalmente dispostos a me ouvir e lábios que não me pedissem explicação alguma. Pois meu grito mais absurdo carece de ouvidos que o escute. Quero gritar. Quero dizer. Quero falar. Quero romper com tudo isso que está se acumulando dentro de mim. Quero rasgar-me inteiro para me ver livre de mim. Você me vê, mas não me vê por inteiro. Você me vê com seus olhos superficiais. Parcialmente me enxergas como estou. Uma parte de mim, a exterior, te sorri despreocupada e leve. É que resolvi vestir o meu sorriso mais bonito e fazer-de-conta-que. Vez em quando acontece isso. Finjo que. Faço de conta que. Digo que está tudo bem. Mas, quando mergulho em mim, sei que não é assim. Se você conseguisse mergulhar em mim saberia do que estou falando agora. E não me chamaria de louco ou dramático. Eu detesto que me chamem de dramático. Por mais que minhas palavras soem, de vez em quando, com certo drama de novela mexicana. Sou bem assim desse jeitinho. Fui feito assim. Criei-me assim. Desculpa se te incomodo. Ou se te firo com minhas amarguras. Acordei meio azedo hoje. Pior que limão. Comigo não funciona dizer "me chupa". Você não vai gostar. O problema é esse. Eu quero que gostem de mim. Quero que me amem. Não existe coisa melhor do que se sentir amado. Mas há um limite. Em tudo deve haver um limite. E meu limite se encontra no momento em que deixo de me amar para implorar o amor do outro. Não posso esquecer de mim pra implorar por alguém que só quer me virar as costas. É lindo querer ser amado. Mas é feio mendigar amor. Não quero restos e nem quero sombras. Cansei de tudo isso. Cansei de tudo mais. Cansei de mentiras. Cansei de me gastar e desgastar até a última gora por alguém que não derrama nenhum pingo sobre minha alma sedenta. Eu tenho sede. Sou um eterno ser humano insaciável. Quanto mais tentares me saciar a sede que tenho, mais serei sedento. Tenho fome de gente inteira. Tenho fome de gente que traz consigo seu coração, sua alma, sua mente. Não quero mais carcaças, corpos vazios, mentes ocas. Eu quero gente cheia, gente completa, gente que sabe onde quer ir. Gente que não tem medo de ir. Gente que insiste e, se for preciso, até persiste. Sou teimoso. E gosto de quebrar a cabeça, gosto de tocar os mesmos espinhos e sentir a mesma dor. Gosto de correr riscos e ver onde vou chegar. Mesmo me estrepando no final e sabendo que muita gente acha banal. Não é banal o que eu sinto e nem o que eu quero. Sinto mesmo! Não tenho medo de sentir. Não quero viver preso em mim. Nasci livre de mim. Livre de gente que faz todo mundo de marionete. Sei quem sou. E sei que vou. Vez em quando, te confesso tristemente, que esqueço quem sou. Mas continuo indo. Procurando. Seguindo um caminho que não sei bem aonde vai me levar.
Até logo. Vem comigo?