quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Debaixo do cobertor


Estava tão quente. Transpirávamos tanto. Bebíamos tanta água para não ficarmos desidratados. Mas agora o tempo mudou. Está frio. Muito frio. E meu corpo pede calor. Meu coração pede a quentura boa dos sentimentos bons. Enfio-me debaixo do meu cobertor. Debaixo dele parece tão seguro, tão quente, tão macio. Sinto até uma vontade estranha de ser um só com ele. Ou ser simplesmente ele.
Não sou egoísta e sei que muita gente está passando frio. Tem tanta gente sem amor, sem carinho, sem afeto. Gente vazia e triste. Queria trazer todo mundo pra debaixo do meu cobertor e mostrar que o mundo pode ser diferente. E que as pessoas também podem ser diferentes. Não sei por que cargas d’água escrevo isso. Só sei que debaixo do meu cobertor sinto que estou protegido. Meu corpo frágil, que deseja ardentemente a segurança de braços fortes e sensíveis, encontra refúgio ali.
Vez em quando nossa alma fica tão cansada que nosso corpo acaba sentindo. É isso. O corpo reflete o que a alma sente e tenta esconder. Mas é em vão. Nossa fragilidade é tão grande. Basta um sopro e logo podemos nos despedaçar no chão. Não há segurança em todos os abraços. Não há verdade em todas as palavras. O mundo, às vezes, é muito escuro e assusta. E a criança só sente medo de abrir a porta e sair por aí. O mundo é um mistério que nos foi apresentado no dia em que um bendito homem nos retirou do lugar mais aconchegante do mundo. O útero da nossa mãe.  Queria mesmo era esse cobertor feio de carne, sangue, etc... Queria me sentir protegido outra vez. Porque quando a luz rasga a escuridão diante dos nossos olhos, ficamos assombrados sem saber o que pode acontecer dali pra frente.
E tanta coisa já aconteceu. O acontecido gera em nós tantas marcas. Decepções. Alegrias. Tristezas. Amor. Ódio. Enfim, são tantas e diferentes marcas. Marcas que fizeram de nós pessoas mais sensíveis, mais frágeis. Outras pessoas infelizmente ficaram mais endurecidas, fechadas, amarguradas. Que triste isso... Queria mostrar para essas pessoas o meu cobertor. Não tem nada de muito extraordinário. Não tem nada de magia. Nada de grandezas. Nele só cabe coisas pequenas, coisas simples. Nele só cabe o que é bom. Por isso, toda vez que me enfio debaixo dele, deixo do lado de fora tudo o que é ruim.
Sabe por quê? Dentro dele só cabe amor, esperança e fé. Amo o que sou. Amo os que carrego dentro de mim. E amo até alguns que ainda nem olharam direito pra mim, mas admiro de longe.  Espero sempre ser uma pessoa melhor. Espero sempre morrer em cada dormir. Espero renascer em cada acordar. Tenho uma fé que você pode achar boba ou doida. Tanto faz. Acredito que esse cobertor, na verdade, são os braços de Deus me aconchegando a cada noite e me devolvendo pra mim mesmo. O que eu perdi. O que ainda não encontrei. Tudo está ali. No silêncio. Na noite fria, que não é tão fria por causa do meu cobertor. Nas palavras pensadas que, às vezes, não conseguem ser ditas pra ninguém. Ali, debaixo do cobertor. Há sempre muito amor.
Que nunca falte. Amém!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Já quis me vomitar



Nunca te disse, mas já quis me vomitar muitas e muitas vezes. Não quis contar antes porque tinha medo da sua reação. Tinha medo do que você pensaria sobre mim. Acho que você iria me achar muito doido e esquisito. Não faz sentido. Eu também sei que não faz. Não me diga mais o que já sei. Muita coisa em mim não tem sentido. Nem ínsito mais em encontrar um sentido para certas circunstancias. É tempo perdido. E o tempo é cada vez mais curto para viver. Não é normal. Sei bem que não. Nada em mim se apresenta normal ou natural. Posso dizer-te que sou extremante feliz por isso. É, sou feliz porque não sou normal. Ser normal deve ser muito cansativo e enjoativo. Eca! Quero vomitar. Mas agora não quero mais me vomitar. Quero só vomitar essa sensação de normalidade, sanidade e maré-mansa. A vida não é assim. Já provei em minha própria pele e em meu coração.
A vontade impulsiva de vomitar de hoje é o oposto da vontade insuportável que eu tinha antes. Antes eu queria me vomitar inteiro. Não me suportava. Não me aguentava. Não me gostava. Não me permitia. Vivia numa (in)constante náusea. Quando chegava a noite e todos dormiam, encontrava no silêncio e no vazio do meu quarto, a vontade de expulsar para fora de mim o lado que eu julgava não me pertencer. Mas me pertence. Aquele lado é meu. Aquele lado sou eu também. Não é tudo. Mas compõe o todo. Não entendia. E por não entender já quis me vencer. Fui vencido. Perdi uma das guerras mais sangrentas que travei dentro de mim. Por todos os lados só se via sangue, destroços e feridas. Restos de certezas e dúvidas ilesas que haveriam de se tornar certezas um tempo depois.
Então, o “tempo depois” chegou. Estou certo de que é justamente isso que sou. Sou gente antes de tudo. Antes de qualquer coisa. Antes de todas as portas que você tem que abrir até chegar até mim. Sou gente como você. Mas escolhi ser assim. Escolhi aceitar o que habita em mim. Escolhi me amar. Escolhi me olhar no espelho, e acolher minha imagem (antes rejeitada) refletida no espelho. Havia em mim um desprezo pelo espelho. Na verdade, eu tinha medo de me ver nele. Desprezava a minha própria imagem. Qual é o nome que se dá a esse medo? Alguém sabe? Não sei e não importa. O que sei é que o medo passou. Tenho nariz grande mesmo. Além de ser grande é vermelho. Mas estou respirando. É isso que importa. Ou não? Ou pra você importa mais um nariz perfeitinho? Não sou perfeitinho. Nem perfeito. Nem nada disso aí que reluz, mas no fundo o brilho está ofuscado.
Mais que ver minha imagem refletida no espelho, eu precisava fechar meus olhos e me enxergar por dentro. Encarar minha alma frente a frente. Olho no olho. Sem véus. Sem roupas. Sem nada. Totalmente nu. Apesar de toda minha timidez, foi o que eu fiz. Fiquei nu diante dos meus próprios olhos. E me enxerguei. E me vi. E o mais importante: amei-me. Não gostei completamente do que vi. Ainda estou um pouco insatisfeito. Mas é essa insatisfação que me faz querer mudar a cada novo momento. Nunca estarei satisfeito para nunca me fechar para essas mudanças tão necessárias em nossas vidas. Insatisfação é diferente de ódio. Não alimento mais aquele ódio por mim mesmo. Nem me desprezo. Pelo contrário, me prezo muito por ser quem eu sou. Orgulho? Talvez seja. Mas é um orgulho bonito. Um orgulho que não quer pisar em ninguém. Um orgulho que é apenas feliz por ser alguém. Alguém que não quer mais se vomitar.
As náuseas passaram. Aquele era o inicio de tudo. O inicio de uma gestação. Eu ia me gerar dentro de mim mesmo. Depois mais tarde ia me dar à luz. Por isso que dói tanto lutar para ser quem a gente é. Agora entendo mais claramente o que antes era tão escuro e sombrio. Mulheres dizem que a dor do parto é horrível. A dor de parir um ‘eu’ que rejeitávamos também é difícil. No entanto, é uma dor que vale a pena. Toda mãe sabe disso muito bem disso. Vale a pena sentir tudo aquilo para depois de tanto esforço ter em seus braços o seu rebento. Comigo foi e tem sido assim. Sofri as náuseas do começo. Agora sinto as dores de trazer à luz o meu ‘eu’, o meu menino que estava nas trevas. Para um dia, enfim poder segurar entre meus braços tão frágeis um ‘eu’ que me pertence. Um ‘eu’ que sou eu. E que nunca deixará de ser. Sim, o parto ainda não acabou. O parto é demorado. E a demora me ensina que o importante é continuar vivendo.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Cuidado invisível

“Nas horas mais difíceis, Ele te vê. Enxuga suas lágrimas. Te aperta bem forte junto ao coração e diz: "meu filho, não temas". Ele está ali ao seu lado. Sempre está. Para te curar. Te segurar pela mão. E te ensinar a caminhar, a não desistir, a avançar... Ele é o Pai. O Pai.”

Deus é esse cuidado invisível. Eu acredito nesse cuidado que eu não vejo, não sinto e nem percebo. É claro que vez em quando sinto e percebo. Mas nem sempre é assim. Basta-me a fé e a certeza de que Deus existe e de que alguma forma bem simples Ele está sempre ao meu lado. Eu, tão infiel. Eu, tão imperfeito. Eu, tão amargo. Eu, tão ingrato. Eu, que quando acorda, nem sabe respirar fundo e agradecer por estar vivo. Tanta gente acordou acamada. Tanta gente viu o sol nascer atrás de grades. Tanta gente está se sentindo abandonada e sozinha nesse mundo. E nós? Como acordamos? Bem. Com saúde. Com uma família linda. Deus não está ausente nessas situações difíceis. Deus está ali também. Deus é o próprio amor. É impossível falar de Deus sem falar de amor. É impossível falar de amor sem falar de Deus. Deus é amor. E esse amor está presente em cada família que sofre, que padece as duras penas. Deus está com você. Antes mesmo de você levantar, Deus já estava cuidando de tudo para que você pudesse viver o seu dia bem. Mas infelizmente você nem soube agradecer pelo simples fato de estar vivo e estar respirando. Nós trocamos a gratidão pela murmuração. Pra muita gente é melhor reclamar de tudo, dizer que tudo está ruim, que o café está amargo, que o pão está frio. Desculpa, mais frio do que o pão, só o seu coração que não sabe ser grato pelas coisas simples que Deus te deu. Deus nos dá muito. Deus nem sempre nos dá grandes coisas. Deus deposita em nossas mãos as coisas menores. Que são quase imperceptíveis. Seja mais sensível. Tuas lágrimas são amargas, mas Deus é doce. Ele pode derramar a doçura do seu amor sobre seu coração. Mas você precisa deixar. Deus só entra onde Ele é chamado. Deus só entra se a porta estiver aberta. Todos nós estamos condicionados ao sofrimento, mas não podemos nos afundar nele. Somos maiores que todas as circunstancias que nos acontecem. Não mergulhe na amargura da dor. Mergulhe na doçura do amor. Deus se revela ao seu coração com pequeninas epifanias. No sorriso mais doce da sua mãe. No gesto mais simples que uma pessoa faz. Minha mãe saiu um dia desses e quando se despediu me olhou com ternura, com vontade de me levar com ela, com vontade de me fazer um pequeno bebê de colo. Reconheci ali o amor de Deus. Deus é assim conosco. O seu amor é cuidadoso, zeloso e fiel. Podemos xingar, podemos guardar mágoas de Deus, mas Ele sempre estará ao nosso lado. Sempre com a mão estendida. Não seja mais criança birrenta. Aceita a ajuda de Deus. Aquela dor que você sentiu ou sente não foi culpa de Deus. Não culpe mais Deus pelos seus problemas. Você é ser humano. Você é gente como todo mundo. Se apegue a Ele. Deixe que Ele te envolva com o seu amor. Que cada membro do seu corpo seja envolvido pelo olhar de Deus. Que nada fique escondido diante dos seus olhos paternos. No olhar de Deus encontramos o oásis que tanto a nossa alma deseja. Procure. E encontre. Seja encontrado.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Se não quer o meu bem, por favor, nem vem


A cada dia que passa escolho confiar em pouquíssimas pessoas. Não é todo mundo que merece me receber por inteiro. O que a gente carrega por dentro é muito precioso pra qualquer um ter. Nem todo mundo sabe cuidar do nosso coração. Coração não é brinquedo. Coração não é um objeto. Coração não é uma coisa, que quando você está enjoado, deixa de lado e nem quer mais saber. Coração é muito frágil. Coração é sensível. Coração é um tesouro escondido. Não quero mais me deixar descobrir ou revelar por todo mundo. É que eu ainda vivia na ilusão de achar que tudo é recíproco. Se eu me dou por inteiro espero que o outro também se dê por inteiro. Mas não é assim.

A realidade é bem diferente lá fora. A realidade é feia e assusta muito. Assustou-me agora. Tem me assustado faz um tempo. No entanto, a ilusão é como uma névoa que limita a visão. Não conseguia enxergar as pessoas como elas realmente são. Queria enxergar só o lado bom que existe nelas. Queria enxerga-las do meu jeito. E te confesso que ainda existe um lado meu que quer ver tudo assim. Bonito, colorido e cheio de amor. Mas não é! Como é difícil fazer o coração entender que não dá pra confiar em todo mundo. Nem todo mundo que estampa um sorriso diante de você, merece a sua confiança, o seu respeito, o seu carinho e afeto. Muito menos os seus segredos.

Segredo é coisa séria, gente. Quando alguém entrega um segredo nas mãos de um amigo é porque ela realmente confia. E o que ela mais quer é que a pessoa cuide bem desse segredo. É como entregar seu coração nas mãos de alguém. Para que essa pessoa possa cuidar. Pena que nem todo mundo sabe cuidar bem do nosso coração. Tem gente que olha com desprezo e nojo, amassa como se fosse algo imprestável e depois joga no lixo.

Meu Deus, como as pessoas conseguem ser assim? Não entendo. É tão difícil entender o ser humano. É tanta hipocrisia e falsidade. Onde está o amor? Onde está a sinceridade e a honestidade das pessoas? Os valores estão em falência. O ego importa mais que o coração alheio. Não importa mais se pra chegar em algum lugar você tenha que atropelar muitas pessoas e pisar em muitos corações. O que importa é chegar lá. Não quero chegar em algum lugar com os pés manchados com o sangue da falsidade e da deslealdade. Ninguém merece sofrer. Ninguém merece o mal. A gente merece o bem. E se você não quer o meu bem, por favor, nem vem.

domingo, 16 de setembro de 2012

Coração: rabo de lagartixa


Palavras são parecidas com confetes que a gente sopra no ar. Elas caem em algum lugar e ali fazem sua morada. Certa vez a dona Pitty soprou algumas delas, e inevitavelmente chegarão em meus ouvidos e se transpuseram até meu coração. As tais palavras me diziam que o coração é que nem rabo de lagartixa. Todo mundo sabe do que ela está falando. Rabo de lagartixa é um órgão que se regenera. Pode cortar, pode ferir, mas ele sempre voltará a ser como era antes.

Acho que algumas pessoas não vão gostar muito dessa comparação que Pitty fez. Mas tente entender que isso é uma metáfora. Metáfora faz parte da vida. E essa foi uma das mais bonitas e reais que já vi. Coração é mesmo assim. Se corta. Se fere. Se machuca. Perde um pedaço de tão feia que a ferida é. Mas um dia se recompõe. Um dia ele se regenera. Não é do dia pra noite. Eu, você, nós, enfim, todo mundo sabe disso. Há alguns corações que ainda ficam com algumas marcas. Mas voltam sim a ser o que eram antes. Só não volta se você não se abrir de novo para o amor.

Nunca vou me cansar de dizer que o amor é o maior remédio que existe. O amor é capaz de curar feridas cheias de pus. Feridas que estavam necrosadas e perdidas aos nossos olhos. Feridas não querem ser tocadas. E quando estamos feridos naturalmente nos afastamos, nos fechamos, não queremos ser tocados por ninguém. Afinal, a ferida está aberta. Mas a gente precisa se abrir. A gente precisa deixar o amor tocar de novo. O amor que fere é o mesmo amor que cura. É estranho, né?

Na vida nós vamos perder um pedaço do coração muitas vezes. Uma. Duas. Três. Quatro vezes. A gente vai cansar e dizer que não quer mais. Que o amor não é pra gente. Que a gente não nasceu pra isso. Ou a gente vai dizer que só nasceu pra sofrer. Não, a gente não nasceu somente pra isso. Nascemos para ser feliz. Mas o sofrimento é a catraca que dá acesso ao trem da felicidade. Nem você e nem eu temos como pular essa catraca. Faz parte do percurso. Só chega no trem quem passou por essa dura catraca. Às vezes, trava. Às vezes, está superlotada. Mas você precisa tentar. Não fique desesperado. Não perca a cabeça. Coloque os pés no chão. Não olhe mais pra trás. O passado é convidativo e te chama a voltar e a desistir do futuro. Deixe o pedaço que você perdeu ficar lá onde ele foi arrancado. Lá na frente, ele vai se regenerar. Um pedaço novinho. Pronto para amar de novo. Pronto para tentar de novo. Sem pessimismo. Sem achar que toda vez vai ser igual às outras. Cada experiência é um recomeço. É um nascer de novo.

A gente necessita entender que na vida precisamos nascer, morrer e renascer várias vezes. Talvez você ainda está com a alma vestida de luto, por culpa de uma história que acabou de ser sepultada. Talvez sua alma ainda está chorosa e você mal consegue enxergar o caminho de volta pra casa. Mas chegou o momento de abrir o guarda-roupa e pegar sua melhor roupa para revestir a alma que estava enlutada. O nome da roupa? Esperança. Confesso pra você que guardo uma esperança bem atrevida no peito. Ela grita. Ela chama. Ela não deixa a incredulidade encontrar lugar em mim. Eu acredito. Acredite você também. Essa dor vai passar. Sepulte o que passou. E não volte ao túmulo para fazer visitas cordiais. Tenta de novo. Um dia você consegue. Um dia todo mundo vai conseguir. Esteja certo disso.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Não me ame


Não me ame. É isso mesmo que você lê agora. Eu, que me mostro tão necessitado de ser amado, estou te pedindo. Não me ame. Me amar pode ser perigoso e eu posso amar demais o seu amor. Essa é a linha tênue que me divide. Preciso, necessito e quero ser amado, mas, por outro lado, tenho medo por quem me amar. Tenho medo de ficar entorpecido por essa droga. Tenho medo de perder o juízo. Tenho medo de me viciar e depois passar pelas terríveis crises de abstinência. Tenho medo de tanta coisa que nem sei expressar em palavras.

Queria aprender a amar sem amar o amor que a pessoa sente por mim. Tem como? Não sei. Acho que não. Porque quando a gente ama, normalmente, ama tudo. Ama a pessoa. Ama o amor que a pessoa sente por nós. Ama os gestos. Ama as palavras, os olhares, os silêncios, as brincadeiras, enfim, ama tudo e mais um pouco. Tenho tanto medo de me encaixar, me acomodar e não querer sair mais. Um dia a pessoa poderá enjoar de mim. Um dia ela vai querer me expulsar de dentro de si. E eu vou ter que sair. Porque quando uma pessoa não te quer, você não pode ficar. Ninguém é obrigado a me aceitar dentro de si. Assim como também não sou obrigado a aceitar que alguém viva dentro de mim. Só deixo ficar quem eu quero. Só deixo ficar quem eu amo. E quem me faz bem.

O problema está aí. E quando a pessoa não quiser mais? Vou ter que sair. Vou ter que me expulsar contra minha própria vontade. Mas a droga já foi injetada em minhas veias. O amor da tal pessoa já corre em minhas veias e estou completamente dependente. Mas o outro não se importa como estou ou como posso ficar. Só quer me expulsar. Só quer se ver livre de mim. Mas estou ali querendo mais daquele amor. Pedindo. Implorando. Mas o amor acabou. A droga se esgotou. E meu coração começa a sofrer as crises insuportáveis da abstinência. Entende agora por que você não pode me amar? Não? Talvez seja melhor você não entender. Porque mesmo sabendo que posso sofrer, preciso ser amado por você. Ama-me. Entorpeça-me. Eu ansiarei por mais. Só não se esqueça: cuidado.

O tesouro


Em algum canto da minha alma (se é que a alma tem cantos) há uma sensação inquietante e que não consigo identificar o que é. Só sei que existe algo em mim que deseja liberdade. Sinto-me encarcerado dentro de mim mesmo nesse momento. Sinto minhas mãos tocarem as grades que me cercam. Não consigo emitir nenhum som. Não consigo gritar. Há silêncio dentro de mim. Esse silêncio sufocante. Talvez seja o silêncio a causa disso tudo, que parece tão simples. Mas, que, teimosamente, complico. Complico tudo. Não importa o que seja. Complico e ponto. Não estou conseguindo me envolver com coisas simples. Quero o complicado. Quero ir no fundo. Não quero a superfície. Quero entender. Quero saber. Quero os pequenos e mínimos detalhes. Vou cavando um buraco dentro de mim como quem está procurando um tesouro dentro de uma mina. Cavo, cavo, cavo. Me canso. Vez em quando me vejo perdido dentro dessa mina que sou eu. Olho para todos os lados e não vejo nada. Vazio. Silêncio. Nada. Só me resta cavar mais. Insistir e persistir. Um dia encontro o tal caminho certo. Um dia encontro esse tal tesouro que tanto procuro. Tesouro que foi escondido em algum canto, em algum quarto, em algum baú. Em algum lugar deve estar. É isso que me motiva a continuar: saber que o tesouro está em algum lugar. Esperando por mim. Assim como eu espero por ele. A certeza de sua existência faz meus passos avançarem. Essa procura não me deixa descansar. Apesar de querer alguns momentos de descanso. Há momentos em que minhas mãos estão fatigadas e os pés estão calejados de tanto andar. Mas essas andanças de cada dia me levam para mais perto da verdade, da realidade. Quero ir. Deixa-me ir. Deixo-me ir. Permito-me ir. Mesmo cansado. Mesmo fatigado. Mesmo querendo desistir de mim. Mesmo, às vezes, achando que essa busca é em vão. Mas não é. Encontrar-se não é em vão. Vão é desistir e nunca tentar. Então, vou tentar. Licença. Preciso continuar agora. Cavo... cavo... cavo... paro... paro... mas depois continuo. E assim a vida continua. Continuemos.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Não sou tapa buracos


Você é tão egoísta. Teu mundo é tão pequeno. Ele só te cabe. Ele é só teu. É teu mundinho. Ninguém entra nele. E você nem consegue sair dele. Mas, vez em quando, alguém entra. Também sei que você deixa alguém entrar. Mas é só por necessidade. Quando você precisa, entra. Quando você não precisa, quer distância. Não te entendo. Como pode uma pessoa se fechar tanto assim? Você nem percebe quando alguém está precisando de ajuda.

Não sei como uma pessoa consegue ser capaz de ser tão egoísta e indiferente. Teus olhos só conseguem enxergar o que existe dentro de você mesmo. Teus olhos têm uma visão tão curta e limitada. Você vive olhando para o seu próprio umbigo. Anda de cabeça baixa e acha que está tudo bem e que há segurança em seus passos. Mas não há. Se você não levanta a cabeça e olha pra frente, ou para os lados, você pode tropeçar, cair ou ser atropelado a qualquer momento. Não existe só você nesse mundo. Sei bem que a gente não depende só dos outros pra viver e ser feliz. Mas a gente precisa ser humilde, porque, afinal, um dia todo mundo precisa de uma simples ajuda. Todo mundo precisa de uma mão estendida, de um olhar amigo e sincero, e de um abraço para descansar nos dias de luta. Todo mundo precisa de mãos para ajudar a enxugar as lágrimas quando elas são demais e a gente não consegue limpar sozinho. Não somos dependentes dos outros, mas precisamos dos outros. Depender é diferente de precisar. Eu preciso de você. Você precisa de mim. Nós nos precisamos. Mas, entenda bem, estou falando das relações que são recíprocas e verdadeiras. Não estou falando de gente egoísta que nem você. Gente que só procura quando precisa. Gente que faz o outro de tapa buracos.

Sinto-me tão mal quando você faz com que eu me sinta um tapa buracos em sua vida. Não sou isso e nem quero ser. Não me encaixo na sua vida como tapa buracos. Não quero tapar nada. Quero somar. Quero completar. Quero ajudar. Quero dar a mão. Quero que você me devolva todos os dias o que você levou. Porque amar é isso: restituir todos os dias o que você roubou de alguém. É isso mesmo. Roubar. Amar é roubar. Mas não faz cara de espanto. No amor, roubar só é crime quando a gente leva e não trás de volta. Por favor, só leve se for trazer de volta. Se for pra roubar tudo que tenho e ir embora sem ao menos ter a dignidade de olhar pra trás e dizer adeus, por favor, não venha. Não entre. Não leve. Deixa de ser egoísta. E aprende que as pessoas têm sentimentos. Tem um coração batendo lá dentro, que está desejoso de ser amado. Desejoso de encontrar pessoas que sejam recíprocas. Pessoas que sabem amar e receber amor.

Amigo, levanta essa cabeça. Te quero por inteiro. Não te quero pela metade. Não quero só na hora que você estiver triste. Não te quero só na hora que você estiver chorando e estiver precisando de um ombro. Não te quero só na hora que você estiver decepcionado com o amor da sua vida. Também tenho meus amores e desamores e afetos e desafetos e tenho minhas alegrias e tristezas e doçuras e amarguras. Ruim ou bom. É tudo que tenho pra te oferecer. E quero te dar tudo. Assim como quero ter tudo de você. Não venha mais com metades. Quero compartilhar com você todos os momentos. O mais alegre e o mais triste. Tudo. Desculpa, mas no amor é tudo ou nada. O amor não aceita meio-termo. O amor só aceita sim ou não. Se for sim, pode entrar e ficar. Pode levar o que você precisar. Sempre sabendo que você precisa devolver. Se for não, nem precisa bater na porta.

Mais uma vez te peço desculpas. Chega um dia que a gente cansa de ser usado. Chega um dia que cansa de ser mais um na vida de alguém. Chega um dia que a gente precisa abrir a porta e mandar alguns irem embora. Educadamente, é claro. Ninguém gosta de se sentir um objeto nas mãos de alguém. Ninguém merece isso. Nem eu e nem você. E nem ninguém! Todo mundo merece respeito. Todo mundo merece um pouquinho de afeto e amor. E se não for pra ser assim, não adianta entrar na vida de alguém. Vamos deixar marcas bonitas nos corações que entrarmos. Vamos deixar um gostinho de quero mais. O mundo já está repleto de gente ruim e que só sabe ferir, roubar e deixar a pessoa se sentindo um nada. Queremos pessoas que nos faça sentir que somos especiais. Pessoas que nos faça sentir que somos insubstituíveis.

Acredito que ainda existe muita gente assim no mundo. Estão escondidas. Estão em algum canto do mundo. Talvez você esteja pertinho de uma delas e nem se deu conta ainda. Fique atento. O amor pode chegar em seu coração através de um amigo que sabe ser amigo de verdade. A gente cansou de mentiras, falsidades e relações que não são reciprocas. A gente só quer o que for verdadeiro. Queremos alguém que se alegre com nossa alegria. Queremos alguém que fique triste quando estivermos mergulhados na tristeza. Mas que saiba estender a mão pra nos ajudar a levantar. Eu quero ser pra você aquilo que eu queria que você fosse pra mim. Sem pedir nada em troca. Quero que habite em mim um amor desinteressado. Mas um amor que saiba se amar e se respeitar.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

As horas da solidão


A meu ver, o tempo nunca passou tão rápido como tem passado agora. O ano nem parece ter mais os trezentos-e-não-sei-quantos-dias que tem. As horas parecem escorrer como água jorrando de uma cachoeira. As horas parecem insustentáveis. Não há como segurar os segundos, os minutos. Eles passam. Passam rápido demais. Mas no meio desse caos das horas apressadas, há também as horas da solidão.

Quando estamos sozinhos as horas parecem não passar. Cada segundo, cada minuto, cada hora em nossa própria companhia é um fechar as portas para o que está acontecendo lá fora. A gente precisa disso. Todo mundo precisa do seu momento sozinho. Esse momento é algo precioso, valioso. Por mais que a gente seja carente e necessitado de atenção, de mãos segurando as nossas mãos, de ouvidos escutando nossas tagarelices e até os nossos silêncios. Tem gente que precisa aturar esses nossos conflitos do dia-a-dia. Coitados, né?

Mas, precisamos agora aprender a nos aturar. Será que você não se acha insuportável? Quando as vozes a sua volta se calam e você só consegue ouvir o barulho de dentro, há um desespero e uma angústia enorme. Porque, afinal, pra gente disfarçar e esquecer do barulho interior, nós procuramos os barulhos nos cantos desse mundo barulhento. Mas nem tudo dura muito tempo. Chega uma hora que as pessoas se vão, as vozes se calam, as luzes se apagam, as portas se fecham... e você fica a sós com você mesmo. Que beleza! É você com você mesmo! É a sua verdade confrontando as mentiras que você sustenta para todos. Você acaba se tornando o seu pior inimigo. O que você é luta contra aquilo que você quer ser. A mentira contra a verdade. Você está de que lado? Quem vai ganhar nesse luta?

Não sei qual é a sua resposta. Nem quero saber. Não estou sendo egoísta. É que a única pessoa que deve saber dessa resposta é você mesmo. Responda aí dentro de você o que você realmente quer fazer. Você quer viver a verdade ou a mentira? Pare de sustentar essa imagem de gente boazinha para os outros, quando dentro da sua própria casa, com a sua própria família, você é a pior pessoa que existe. Não se esconda atrás dessa armadura de pessoa forte, quando por dentro você está aos pedaços. E teus pedaços estão clamando por socorro. Mas você prefere fingir que não ouve. Você finge que está tudo bem. Você finge que está feliz. Mas a sua felicidade é que nem Photoshop: esconde os pequenos e os grandes defeitos. A sua felicidade é artificial. E até quando ela vai durar? São tantas perguntas que você precisa responder. São tantas mudanças que você precisa fazer. Porém, você continua aí fingindo que vive a vida mais feliz do mundo.

Estoure a bolha que te envolve. Essa bolha da ilusão. Permita-se às horas de solidão. Horas que te consomem e que, às vezes, te angustia. Deixa que a realidade te roube a paz. Logo, ela volta. Mas permita-se passar por esse momento de renovação. Deixe a presença dos outros. Entre. Feche a porta. Apague as luzes para não chamar a atenção de alguém que esteja passando do lado de fora. Tente se encontrar dentro dessa escuridão. Deus, às vezes, apaga as luzes somente para que percebamos que dEle vem toda luz que precisamos. A luz que emana do seu olhar de Pai nos ajuda a encontrar o caminho da mudança interior. O seu olhar nos devolve a nós mesmos.

Bagunças podem ser arrumadas. Sujeiras podem ser limpadas. Mascaras e fantasias podem ser rasgadas. Mentiras podem se transformar em verdades. E você? Você pode ser quem você é.

sábado, 8 de setembro de 2012

Numa tarde tentando tocar o intocável


Respirei fundo. Semicerrei os olhos. Desejei poder ver o que há dentro de mim com mais clareza. Desejei ficar mis leve. Desejei tocar o céu. Desejei sentir a brisa mais suave que existe. De tão suave que seja quase imperceptível aos meus sentidos humanos. Só queria que minha alma sentisse. De alguma forma meus pés saem do chão. De alguma forma minhas mãos conseguem tocar o céu. O céu que parecia tão inacessível, tão intocável, tão distante. Fechei os olhos. Enfiei a mão lá dentro e tentei tocar em toda minha força e vontade. Tentei tocar na minha alma. Mas alma não é algo palpável. Desejei profundamente poder sair de mim mesmo para esquecer-me um pouco, e apenas me sentir totalmente livre dessa condição existencial que nasceu tatuada em minha pele. De lá de cima posso avistar o chão. Mas nem ouso olhar. Não me arrisco. Tenho medo do chão me atrair com sua força brutal. Quero voar. Mesmo sem asas. Talvez eu tenha asas. Talvez todo mundo também tenha. Mas elas são invisíveis. Se a gente tem mesmo, posso dizer que as minhas estão quebradas. O que a gente faz quando isso acontece? Ah, acho que já sei. A gente tem fé. A fé me empresta suas asas. A fé me ajuda a alçar voo. Num mundo ondem a incredulidade tem se espalhado como praga em uma plantação. Eu escolhi ter fé. Sobrenatural. Acredito nisso. Acredito que agora nessa tarde quente eu posso voar entre quatro paredes. Paredes não são o meu limite. Minha condição humana e existencial não é o meu limite. O limite sou eu mesmo quem cria. Não acreditar é o maior limite que podemos criar. A gente pode acreditar no que quiser acreditar. Nós somos livres. A liberdade nos oferece o direito de imaginar, de voar, de fazer-de-conta-que, de ver luz onde há escuridão, de ver a porta aberta quando ela ainda está fechada, de ver o sol antes mesmo dele nascer... Abri os olhos mais uma vez. Meu corpo ainda está aqui. Sentado. Meus pés estão no chão. Mas, minha alma não.

A crueldade do mundo


– Oi , filho.

– Oi, mamãe.

A mãe percebeu que o filho estava pensativo. E não hesitou em perguntar:

– O que você tanto pensa, filho?

– Ah, mãe! Sabe o que é? Hoje, um menino da quarta série chamou o meu amigo de preto, disse que ele tem um cabelo ruim e que ele deveria voltar pra África. Ele disse ainda que os pais dele disseram que gente assim é tudo gente do mal.

A mãe fez um instante de silêncio e esperou o menino continuar.

– Aí o meu amigo chorou e eu não entendi o porquê daquilo. Meu amigo é igual a todos os outros meninos. O que ele tem demais? Porque aquele menino chato fez ele chorar, mãe?

– Filho, nem todas as pessoas nesse mundo pensam que nem você ou eu. Muita gente tem um coração duro e só sabe julgar. Provavelmente os pais desse menino não tiveram uma boa educação. E é claro que o filho deles também vai ser assim. Os filhos muitas vezes são espelhos dos seus pais.

O menino respirou fundo ainda indignado e triste.

– Mas, mãe... pra mim, o Ricardo não é negro, nem tem cabelo ruim, nem nada disso que o menino falou que ele é. Pra mim, o Ricardo é o meu amigo. É o melhor amigo que eu tenho. A pessoa que me faz sorrir.

– Que lindo, filho. Que bom mesmo seria se todo mundo pensasse que nem você. Mas o mundo está cheio de gente feia. Feio é quem tem preconceito. Feio é quem julga uma pessoa por ela ser negra, gordinha, gay, enfim, ser diferente dos demais.

– Todo mundo é igual, mãe. Todo mundo é gente. As pessoas deveriam ser mais bonitas. Agora estou triste porque o Ricardo está triste.

O menino chorou e abaixou a cabeça, escorando-a no colo de sua mãe. E entre os soluções continuou dizendo:

– Não quero que o Ricardo chore mais, mãe. Vê-lo triste me faz ficar triste.

O menino colocou a mão no lado esquerdo do peito. E prosseguiu:

– Estou sentindo uma coisa tão ruim aqui dentro, mamãe. Só sinto vontade de chorar, chorar...

– Quando a gente ama muito alguém, não queremos ver essa pessoa sofrer. E vê-la sofrer também nos machuca, João. O mundo e as pessoas são cruéis. Mas ele não tem o poder de fazer uma coisa...

– O que, mamãe?

– Eles não podem roubar o amor e o respeito que você tem pelas pessoas. Isso você vai levar pra vida toda, filho. É uma dádiva que Deus te deu. Na verdade, ele dá para todo mundo. Mas há muitas pessoas que se deixam vencer pelo preconceito, pela ruindade que existe dentro de si. É claro que cada pessoa esconde um bocado de bondade dentro de si. Mas que pena que elas ainda não encontraram...

A crueldade do mundo fez com que aquele simples menino notasse o que pra ele nunca fez diferença. As pessoas, às vezes, constroem imensas barreiras entre si. Uma imensa divisão. De um lado, ficam os homossexuais. Do outro lado, ficam os heterossexuais. De um lado, ficam os negros. Do outro lado, ficam os brancos. De um lado, ficam os mais ricos. E, do outro lado, ficam os mais pobres. A superficialidade e a ignorância humana criou uma linha divisória entre as pessoas. Não importa mais quem você é. O que importa é o que você tem ou aquilo que você escolheu ser. Não importa se você tem um coração bom. Ou se você é honesto e trabalhador. Os olhos de pessoas arrogantes só enxergam o que desejam enxergar. Ninguém se atreve a bater na porta, pedir licença e entrar pra conhecer. Parece que se tornou mais cômodo julgar sem conhecer. Dizer sem saber. Ele pode ser homossexual, mas pode ser mais macho que muito homem por aí, que não sabe assumir as consequências de suas escolhas. Ele pode ser pobre, mas acorda todos os dias às 4 horas da manhã, pega um ônibus lotado, mesmo com sono, mesmo cansado, chega no trabalho com um sorriso no rosto e dá o melhor de si. Enquanto tem tanta gente por aí, andando bem vestida, com estampas famosas, achando que estão pisando em nuvens. Mas, no fundo, elas sabem que são pessoas vazias. São mortas-vivas. E que ainda querem tentar matar a esperança de quem vive. Por favor, se você está trancado e amordaçado por seus conceitos tão burros, tão egoístas, tão mesquinhos. Comece a olhar um pouquinho para o lado de fora. Veja quem passa. Ele ou ela é que nem você. É gente como a gente. É ser humano. E merece respeito.

Respeite!

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Histórias que acabaram sem acabar


O coração gosta de pregar umas peças na gente. Ele gosta e sabe bem como brincar. É que nem brincadeira de criança. Esconde-esconde. Um dia, aparece. No outro dia, desaparece. Aí você acha que está tudo bem, que passou e que agora você vai ficar em paz com seus sentimentos. Mas, o tempo passa, e reaparece. Tantas lembranças. Tantas histórias. Tantos momentos. Tantos sentimentos. Tudo sem um ponto final. Tudo fruto de uma história que acabou sem acabar. Uma história que não tem ponto final. Mas você virou a página. Você pensou que havia colocado um pontinho lá. Mas, sinto muito, não tem ponto final lá. Vire a página de novo. Volta lá onde te dói tanto e veja que não acabou. Está inacabada aquela história que tinha tudo para ser linda, mas, infelizmente não foi. É que a vida nem sempre acontece de acordo com nossos planos. A vida não segue o roteiro que a gente escreve. A vida segue o seu curso normal, e só nos resta aceitar isso e lutar para que sejamos felizes.

Felicidade. Onde ela está agora? Será que você não deixou lá com aquela pessoa? Sabe, eu penso que se uma história não teve um fim, é porque ela precisa de uma continuidade. Ou, quem sabe, de um ponto final definitivo. Mas tudo depende da nossa força de vontade. Não basta apenas ficar triste por tudo que aconteceu e não aconteceu. Você precisa rever tudo. Reviver tudo. Regressar pode não te fazer bem. Regressar pode te fazer sentir tudo aquilo que você sentiu. E doeu, né? Eu sei. Há histórias que deixam marcas profundas em nós. Marcas que a gente talvez carregue pra vida toda. E por mais que a gente tente apagar, não dá. Essas marcas são uma forma da gente aprender. Será que era aquela pessoa mesmo? Será que eu não me desgastei a toa? Ou você também pode pensar assim: será que eu fiz o que realmente deveria ter sido feito? Ou será que eu desisti fácil demais?

A gente se cansa muito fácil. A gente desiste muito fácil. A vida é muita dura com a gente. Não é só com você, não. É com todo mundo. Não se faça de coitadinho. Tá, eu sei que você deve ter sofrido bastante. Sei que talvez você ainda chora as feridas que não cicatrizaram. Então, volta lá. Volta onde ficou inacabado. Reveja tudo que aconteceu. Você precisa disso. Ou você dá continuidade ou você coloca um ponto final de vez. Viver nesse meio-termo não dá. Viver nesse muro do meio, (que não existe, mas a gente insiste em criar) não dá. É viver lá e cá. Ninguém consegue viver bem o hoje se ainda está vivendo com um pé no passado.

Agora você pode decidir o que fazer. Não sou e nem ninguém que vai te obrigar a fazer isso. Você sabe muito bem de tudo aquilo que você já viveu e vive. Ninguém melhor do que você para se julgar, se confrontar, se conhecer. Você pode me dizer onde dói. Mas ainda assim eu não saberei como é sentir essa dor. Por mais que eu tente imaginar, será em vão. Assim como você jamais saberá como é sentir a minha dor. Aquela dor que a gente guarda num cantinho do coração pra ninguém ver. Aquela ferida que a gente coloca um pano pra ninguém saber que existe. A gente tem medo que alguém coloque o dedo e volte a doer. Ferida aberta dói quando é tocada. Pra não correr esse risco, por favor, tire o véu, o pano, a atadura que cobre essa ferida e cuide dela. Lave bem. Passe sabão. Deite sobre ela os melhores remédios. O tempo vai passar e ela vai cicatrizar. Não estou aqui dizendo que é o tempo que cura todas as feridas. Não concordo muito com isso. O tempo é apenas um auxilio. As feridas somente se curam de verdade quando estamos abertos ao amor. Só o amor pode curar. O amor é bálsamo que cura. O amor é brisa que refresca. O amor é força para seus pés tão calejados e cansados de caminhar. O amor é aquilo que, às vezes, a gente não sente, mas sabe que existe. Assim como as feridas que ficaram. Vez em quando nem sentimos, mas sabemos que elas estão lá. Estão esperando por você. E você precisa fazer alguma coisa. Você precisa de você mesmo agora. Esse é o seu momento. Não tenha medo. Volte lá.

Se for pra continuar, continue. Se for pra dar um fim, coloque um ponto final. Vire a página, certo que agora você pode viver uma nova história. Sem medo. Sem culpa. Sem peso. Certo de que você nasceu para ser feliz. Apesar de todos os percalços do caminho.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Me devore todo


Preciso que você me devore todo. Por completo e não deixe mais nada. Não deixe restos, nem sobras, nem algo que se possa dizer que ficou. Devore o que eu sinto, o que sou, o que quero ser, até o que não sou, até minhas imperfeições, minhas amarguras. Tenho um lado muito doce e você pode enjoar de mim. Mas, para equilibrar, também possuo um lado amargo. Que vez em quando é muito amargo e você pode sentir vontade de recuar. Desculpa, mas eu sou assim. Não consigo ser doce sempre. Tento, mas não consigo. Respeito-me e peço que você me respeite também. Não existe nada além de uma vontade simples de te dar o que tenho. Não é muito. Não sei se é tudo aquilo que você precisa. Mas é o que eu tenho aqui comigo.

Se você soubesse das tantas noites frias em que eu esperei que você fosse o meu cobertor. Se você soubesse dos dias intermináveis em que eu vivi esperando que você chegasse e me roubasse a solidão, me tomasse pela mão e me apresentasse um novo caminho. Um caminho novo. É isso. Quero um caminho novo. Sei que não dependo e nem dependerei de você para encontrar esse caminho. Porém, existem momentos em que a gente só precisa de uma mão. Uma mão que toque sem medo de tocar. Uma mão que seja o fio condutor do coração. Preciso entrelaçar meus dedos aos teus e sentir o inexplicável. Sentir segurança. Sinto-me seguro agora, mas confesso que preciso da segurança dos teus braços envolvendo meu corpo frágil e raquítico.

Deixa-me caber no teu abraço. Deixa o teu abraço ser minha morada. Moro dentro de mim e isso me incomodou por algum tempo. No entanto, agora me sinto bem morando dentro de mim. Como eu poderia morar no teu abraço se eu não havia nem aprendido a morar no meu? É verdade. Seria impossível. Não me sentiria seguro sabendo que você poderia não estar à vontade estando com o meu corpo sobre o seu. Também não estou dizendo que você vai gostar de mim ou me amar ou se apaixonar. Nem sei se tenho essa capacidade. Até hoje essas boas novas não chagaram aos meus ouvidos. Quer saber de uma coisa? Todo mundo é capaz de ser amado por alguém. Independente do tempo que dure. O amor não é um alimento perecível que possui data de validade. O amor dura por tempo indeterminado.

Até que ponto você seria capaz de me amar? Até que ponto você entraria em meu coração? Até que ponto você entraria nos meus quartos escuros e acenderia as luzes? Até que ponto você continuaria com a sua mão entrelaçada à minha? Até que ponto? Sou exageradíssimo. Pode dizer. Não me importo mais com o que você ou eles pensam ao meu respeito. Apesar de estar mentindo pra mim e (automaticamente) mentindo para os outros. É, às vezes, eu me importo sim. Um dia eu consigo mudar isso. O que importa agora é que sou exageradíssimo mesmo. Penso no fim antes do começo. Penso na reação antes da ação. Penso na queda antes do primeiro passo. Sou assim. Desse jeito tão torto, tão anormal, tão incomum, tão eu, tão Rafael João. Só não me chame assim, afinal, eu detesto que me chamem assim. E não posso te dizer como gosto de ser chamado. Você pode se aproveitar disso. Aproveite só uma coisa. A chance que está diante dos seus olhos. As portas do meu coração abertas, dando livre acesso para que você possa entrar. Entre. Mas não fique totalmente à vontade. Vai com calma. Deixo-te ir até onde posso deixar. Tenho limites. Assim como você tem os seus. Um dia você vai chegar onde deve chegar. E estarei aqui. Esperando. Sempre. Esperando.

domingo, 2 de setembro de 2012

Não tem mar aqui


O mar me leva.

Mas aqui não tem mar.

Então deve ser (a)mar.

É isso. Amar me leva.

Me leve. Até que eu fique leve.

Até que eu não me sinta.

Até que eu não me sinta e nem te sinta.

Até que todos os meus nós se desatem.

Até que minhas correntes se quebrem.

Até que minhas cadeias se abram.

E eu possa ir.

Ir e não ficar.

Amar não é ficar. Amar é ir.

Calma, eu disse ir. Não disse abandonar.

É tão diferente.

Amar é diferente.

Sinta o balanço das ondas que te levam.

Mas não vá se você não quer ir.

Amar te liberta. Amar te prende.

Amar é ter uma carta de alforria.

E ainda assim preferir permanecer sobre o domínio do seu senhor.

Amar é contradizer-se sempre.

Assim como faço agora nessas linhas que talvez você nem entende.

sábado, 1 de setembro de 2012

Crescemos juntos?


Nem parece que nós crescemos juntos. Nem parece que você me viu crescer. Nem parece que nós brincamos tanto, quando pequenos. Nem parece que você confidenciava tantas coisas do que você vivia. Eu me sentia tão especial em sua vida. Mas, agora nem sei como me sinto. Só me resta a tristeza por ver seu olhar tão irônico e tão cínico tentando encontrar uma pequena brecha para me deixar encurralado.

Diante de uma pessoa que nós amamos não deveríamos nos sentir assim. Mas, infelizmente, é assim que eu me sinto diante de você. Parece que você tenta me empurrar contra a parede. Você diz coisas que sabe que me machuca. Talvez você só diz isso esperando que eu vá dizer alguma coisa. Talvez você espere que eu te diga toda a verdade que guardo há tanto tempo. Porém, cada vez que você age assim, mais eu me sinto longe de você.

Você criou um abismo entre nós dois. Queria muito construir uma ponte só pra chegar pertinho de novo. Mas, sempre que você diz essas coisas, o abismo aumenta. E, a cada dia, estou mais longe de poder dizer o que sinto e o que sou. Não te culpo por isso, afinal, você se tornou uma pessoa amargurada e fria. Queria poder te ajudar de alguma forma. Queria poder dizer que as coisas podem ser diferentes. Mas como dizer? Como te dizer tudo? Não sei. Sinceramente, não sei.

Desculpa, talvez a culpa seja minha também. É que eu achava que a gente ainda tinha aquele coração de criança. Mas não temos. Nem eu e nem você. Crescemos. Você já passou por experiências que eu ainda não passei. Você tornou as coisas mais precoces em sua vida. Parece que você vive num arrependimento profundo por isso. Mas foi a escolha que você fez. Queria muito poder te contar das minhas escolhas. Porém, o seu coração está envolvido numa casca grossa. Tento tocar. De alguma forma, tento chegar até ele. Procuro uma fresta, um sinal verde, um sinal de passagem livre... mas não encontro. Não te encontro mais. Estamos tão perto e tão longe. Tocamo-nos, mas você não me sente. Eu ainda te sinto. Sei que ainda vive aí, dentro de você, algo que é bem conhecido e puro. Coisa de criança. Coisa de adulto que não deixou a criança morrer dentro si. Essa coisa tão linda e se chama: amor.

Tenho esperança que um dia eu possa te contar tudo. Nem que saiba aos berros e soluços. Sei que você já imagina. E, por imaginar, não quer aceitar. Logo, te encontro sempre armada. Um dia conseguirei te desarmar. Um dia conseguirei te encontrar. Você se perdeu. Não me importo em ter o trabalho de te procurar. A gente já brincou tanto disso, não é? Não nos cansávamos. Não vai ser agora que vou me cansar de você. Nem sempre as pessoas que nós amamos nos fazem felizes sempre. Te entendo. E espero que você me entenda. Um dia...