Não sei o que é liberdade. Jamais a
conheci. E se porventura em algum momento ela passou por mim, não a percebi. Faço
uma pausa para dizer que estou mentindo. Sempre invejei a forma como você se
movia. Sempre invejei tua liberdade. Por desconhecer isso que chamam de
liberdade – e me deixa tão angustiada – passei a acreditar que eu só a
conheceria me fazendo prisioneira da tua liberdade. A tua liberdade me
libertava. A menina assustada e febril vestia seu vestido mais bonito para saborear
a delícia de ser despida no meio da noite dos olhos de menino – escondidos
atrás dos olhos castanhos escuros de homem seguro. Nua e insegura a minha
solidão toda crua queria ser alimento para tua fome.
Desperdiçada.
Agora nós estamos dançando. Estou
livre da tua liberdade. Você sorri por acreditar na minha fé cega em seu amor
que jamais foi capaz de transpor as barreiras do seu próprio corpo. Dançamos.
Eu com minha solidão – maculada. Você com a tua solidão – intacta. Amar é não
ficar intacto, grito. Mas a música está muito alta. Não podes me ouvir. Nunca
fostes capaz de me ouvir. Estamos dançando sem nos tocarmos. Estamos no meio
dos escombros. E não há nada que possa ser reconstruído. (A não ser meus
próprios pedaços). Agora quero apenas me entregar ao prazer dessa última dança.
Ainda que estejamos tão longe. Ainda que não possas me ouvir. Ainda que possas
ver apenas o que sobrou de mim. Do meu vestido só resta os trapos. Entrego-me ao
prazer dessa última dança. A dança da despedida.
Adeus, amor.
P.S.: Estou ferida. Mas não choro
mais. Nem sempre o passado cicatriza.