sexta-feira, 22 de março de 2013

Não sou anjo


Sinto muito, mas eu não sou um anjo. Não tenho asas. Não sei voar. Nem tenho um bálsamo que possa te curar. Não carrego comigo o poder de estar lá (sempre) quando você mais precisar. Não, não me chame de anjo. Essa palavra traz um peso tão grande sobre meus ombros. Não sei te explicar muito bem. Só sei que anjos são criaturas tão divinas, tão puras, tão fieis. E estou muito longe de me parecer com um.
Sim, eu queria poder ser um anjo. Não pela divindade, mas porque admiro tudo aquilo que um anjo tem a capacidade de fazer. Não quero ser divino, pois sou fascinado pela minha humanidade completamente imperfeita. Minha imperfeição me aproxima mais do chão. Nunca gostei de “andar nas nuvens” como se não pertence também a esse mundo. Gosto dos meus pés assim. No chão. É onde eles devem estar sempre. Entre o céu e a terra, estou eu, procurando um caminho, que me leve até onde eu devo ir.
Quero apenas fazer tudo aquilo que devo fazer. Acredito que nasci com uma missão. Todo mundo nasceu com uma. Não sei bem se já descobri a minha e nem sei se você já descobriu a sua. Só sei que cada um de nós, sem exceção, nasceu com uma luz especial. Uma luz capaz de iluminar muita escuridão existente nesse mundo. Vez em quando me sinto meio perdido em meio a tantas pessoas. Não me sinto eu mesmo. E até mesmo nem me conheço.
Meu maior medo é perder minha identidade, me perder de mim e não conseguir me encontrar mais. Queria ser um anjo não apenas para salvar os outros. Queria ser anjo pra conseguir me salvar de mim e me salvar dos outros. Mas ouvi dizer que o dom que você recebe não serve pra você mesmo. Recebo com mãos abertas o remédio que não serve para curar minhas feridas, mas para curar feridas de corações que, às vezes, nem conheço muito bem. Mas não me importo.
Na inocência de criança a gente se lança de um penhasco na esperança de que alguém vá nos segurar lá embaixo. Confesso que já confiei em muitas pessoas dessa forma. Confiei cegamente achando que essa tal pessoa fosse me segurar lá embaixo. Mas é tão difícil ser resgatado por quem está com os braços cruzados e com o coração fechado. Vocês me falam de portas fechadas, mas o mais triste é ver corações completamente trancafiados. Ah, meu Deus, quanto medo em mim. Medo de me ver fechado, mofando dentro dos cômodos da minha alma pequenina. Não nasci pra viver trancado em mim. Sei que quando abro as portas há gente que entra pra fazer bagunça e deixar tudo aos cacos. No entanto, isso não pode me fazer desistir de mim e dos outros. No mundo ainda há pessoas que carregam em si um pouquinho de bondade. No mundo ainda há gente que precisa de ajuda, precisa de uma palavra, de um abraço, de um olhar. Precisam de apenas um gesto. Mas eu não consigo ser tudo pra todo mundo.
Então, por favor, permita-me ser o que sou para aqueles a quem devo ser algo bom. Já sei que vou tropeçar várias vezes nas inúmeras pedras das minhas inconstâncias e imperfeições, mas eu quero fazer o bem. Eu quero ser bom. Não preciso ser perfeito. Só preciso ajudar quem precisa. Só preciso iluminar quem está envolto pela escuridão. Só preciso curar quem está ferido. Sei que há alguém que agora está passando seus olhos por essas palavras mirradas que jorram aos poucos pelos meus dedos, e, sei também que esse alguém está precisando de um toque puro, desinteressado, um toque amigo e acolhedor. Queria poder te ver por dentro e poder te tocar. Queria te ajudar a curar essa ferida que se abriu, por algum motivo, na sua alma. Se está doendo e se você chora é porque algo está acontecendo. A ferida está se curando. Só se fere quem está vivendo de verdade. Não tenha mais medo dessas feridas. Deixa doer. Deixa curar. Deixa a ferida se ligar novamente. A dor passa. E você não precisa tentar amenizar com abraços vazios de amor. Deixa passar...