segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Peça-me pra ficar


Peça-me pra ficar. Na verdade, eu nunca quis partir. Sempre quis ficar. E queria ficar perto de você. Queria ser a tua pele. Queria que você me levasse em todos os cantos em que você fosse. Queria que minha alma mergulhasse na tua e fossemos uma linda mistura homogênea. Tanto querer em mim e tanta indiferença em ti. Heterogênea. Nossas almas, nossas vidas, nossos corações não se misturavam.
Se você tivesse me olhado nos olhos e me pedido pra ficar, eu te confesso que ficaria. Por você, só por você, e, por mais ninguém, eu ficaria. Mas teus lábios não se abriram. Nem teus olhos procuraram pelos meus. Então eu tive que ir. Tive que aceitar que você não cabia a mim. Minhas mãos não te alcançaram. Meus braços se fatigaram de tanto procurar pelo teu corpo fugitivo. Teu corpo não era meu. Teu corpo era de outros braços. Não sei de quem você é. Muito menos sei se você é de você mesmo. Desconfio muito da sua pertença. Acho que você deixa tudo e todos te levarem. Eu queria ir com você.
É uma merda ter que reviver isso. É uma merda sentir que, em teus braços, eu me sentiria incrivelmente seguro. Você me domaria como ninguém. Só de você me olhar eu me desmontaria inteiro e deixaria de ser eu. Eu quis ser você pra me sentir aliviado de ser eu. Mas era impossível. Eu nunca encontrei uma fresta para me acomodar dentro da tua vida.  Nunca segurei tua mão, mas sinto que ela sempre esteve entrelaçada na tua. Você era o meu esconderijo. Você era o meu refúgio. E eu fugiria com você. Nem que fosse pra sua casa, pro seu quarto. Eu poderia viver debaixo da sua cama e ninguém teria a necessidade de saber da minha existência. Bastaria somente que você soubesse. O que me mantinha vivo era essa certeza de que você sabia que eu existia e de que poderia bater em minha porta quando quisesse. Ou poderia, quem sabe, me surpreender no começo da noite com um susto e me fazer querer te xingar por isso. Bastaria um mundo só nosso. Onde eu existia pra você e você existia para mim. Mas tudo isso soa tão meloso. E agora quero vomitar todo essa doçura e amargura que estão assolando o meu peito que aspira por paz.
Você faz guerra dentro de mim. Você me afronta mesmo quando está calado. Você me questiona mesmo quando está ausente. E agora eu caí no erro de misturar passado com presente. Você é o meu passado. Tive que soltar tua mão. Tá, eu sei que nunca a segurei de verdade. Mas eu tive que soltá-la. Você nunca pediu que eu ficasse. Minhas asas estavam feridas, cansadas de tanto voar até o teu ninho. Bati asas e voei pra longe. Agora eu vivo por aí. Voando de coração em coração. Procurando o meu abrigo, o meu refúgio, a minha morada.
Já te fiz tantas confissões. Agora preciso muito fazer outra. Estou cansado. Cansei de ficar voando de coração em coração, de boca em boca, de ninho em ninho. Meu cansaço precisa descansar. Onde estará o ninho a que eu pertenço? Sou passarinho que resolveu se libertar da gaiola em que vivia. Eu me mantinha preso em você até o dia em que percebi que a porta da gaiola sempre esteve aberta. Acontece que eu tinha medo de voar, de me ver livre dos teus olhos tão profundos e instigantes. Não queria me sentir desprotegido mais uma vez. No entanto, eu tive que arriscar. Como sempre faço. Tive que me livrar de você pra me ver livre de mim mesmo e dessa dependência louca.
Não sei mais onde se encontra o teu ninho. Perdi o rumo e a direção. Não sei se isso é bom ou ruim. Só sei que agora me deu vontade de encontrar o caminho pra pousar naquele mesmo ninho. Descansar. Repousar. Me encontrar. Por isso, vem. Vem numa noite fria para que minha alma nua se vista de você. E ali se esqueça. E ali adormeça. Vem. Esse talvez seja o último pedido que eu te faço. Não queria mais pedir. Mas é inevitável.
Por favor, vem.


domingo, 6 de janeiro de 2013

Azedo


Queria ouvidos que estivessem totalmente dispostos a me ouvir e lábios que não me pedissem explicação alguma. Pois meu grito mais absurdo carece de ouvidos que o escute. Quero gritar. Quero dizer. Quero falar. Quero romper com tudo isso que está se acumulando dentro de mim. Quero rasgar-me inteiro para me ver livre de mim. Você me vê, mas não me vê por inteiro. Você me vê com seus olhos superficiais. Parcialmente me enxergas como estou. Uma parte de mim, a exterior, te sorri despreocupada e leve. É que resolvi vestir o meu sorriso mais bonito e fazer-de-conta-que. Vez em quando acontece isso. Finjo que. Faço de conta que. Digo que está tudo bem. Mas, quando mergulho em mim, sei que não é assim. Se você conseguisse mergulhar em mim saberia do que estou falando agora. E não me chamaria de louco ou dramático. Eu detesto que me chamem de dramático. Por mais que minhas palavras soem, de vez em quando, com certo drama de novela mexicana. Sou bem assim desse jeitinho. Fui feito assim. Criei-me assim. Desculpa se te incomodo. Ou se te firo com minhas amarguras. Acordei meio azedo hoje. Pior que limão. Comigo não funciona dizer "me chupa". Você não vai gostar. O problema é esse. Eu quero que gostem de mim. Quero que me amem. Não existe coisa melhor do que se sentir amado. Mas há um limite. Em tudo deve haver um limite. E meu limite se encontra no momento em que deixo de me amar para implorar o amor do outro. Não posso esquecer de mim pra implorar por alguém que só quer me virar as costas. É lindo querer ser amado. Mas é feio mendigar amor. Não quero restos e nem quero sombras. Cansei de tudo isso. Cansei de tudo mais. Cansei de mentiras. Cansei de me gastar e desgastar até a última gora por alguém que não derrama nenhum pingo sobre minha alma sedenta. Eu tenho sede. Sou um eterno ser humano insaciável. Quanto mais tentares me saciar a sede que tenho, mais serei sedento. Tenho fome de gente inteira. Tenho fome de gente que traz consigo seu coração, sua alma, sua mente. Não quero mais carcaças, corpos vazios, mentes ocas. Eu quero gente cheia, gente completa, gente que sabe onde quer ir. Gente que não tem medo de ir. Gente que insiste e, se for preciso, até persiste. Sou teimoso. E gosto de quebrar a cabeça, gosto de tocar os mesmos espinhos e sentir a mesma dor. Gosto de correr riscos e ver onde vou chegar. Mesmo me estrepando no final e sabendo que muita gente acha banal. Não é banal o que eu sinto e nem o que eu quero. Sinto mesmo! Não tenho medo de sentir. Não quero viver preso em mim. Nasci livre de mim. Livre de gente que faz todo mundo de marionete. Sei quem sou. E sei que vou. Vez em quando, te confesso tristemente, que esqueço quem sou. Mas continuo indo. Procurando. Seguindo um caminho que não sei bem aonde vai me levar.
Até logo. Vem comigo?