Estou convencida. Sim, agora eu me
convenci de que realmente sou louca. Ai de mim se não fosse assim, dessa forma,
desse jeito estranho. A cada dia eu me causo mais estranheza. Essa minha pele,
esse meu corpo, tudo está tão inconfortável e cansativo. Quisera eu que fosse
possível arrancar essa pele com a mesma violência com que arrancas meu vestido.
Eu quero me rasgar inteira. Essa sensação de afogamento não me deixa respirar tranquilamente.
Sinto que meu corpo se tornou um reservatório sem ao menos um buraco capaz de
fazer toda essa água vazar. É insuportável. Quero me livrar dessa quase-morte.
Ou quero morrer logo d’uma vez. Porra, será que não posso simplesmente me
deixar em paz? Sim, sou prisioneira e algoz de mim. Sou minha própria prisão.
Desculpa, mas esse é o motivo pelo qual te sufoco tanto. Eu te sufoco para não
ficar sufocada. Toda vez que me lanço feito uma louca, carente e sedenta, nos
teus braços, é só essa minha necessidade de vomitar toda minha alma na tua
boca. Encontrei uma forma de fazer meu corpo vazar um pouco desse líquido, tão
denso, que quer roubar o sopro de vida que me restou. Minha boca na tua boca. O
pecado e a redenção. A enferma e o remédio. Não se assuste, amor. Não corra
mais de mim. Espera, pra onde você está indo? Espera só mais um pouco. Mas você
sempre vai. Você sempre me deixa sem âncora, sem salvação. Talvez eu esteja
mesmo errada. Quero apenas que você me salve daquilo que sou. Mas você só pode
amenizar um pouco. Acredite em mim, eu te amo. E essa é a primeira vez que
consigo dizer-te isso. E como dói dar vida àquilo que sentimos. Sentir me dói
pra caralho. E estou exaurida, farta. Não quero mais sentir nem dizer nem
gritar nem sussurrar no teu ouvido do meu querer da minha fome da minha sede
nem deixar na tua pele vestígios dos meus lábios ou da minha língua nem sentir
teu corpo desenhando e dando vida ao meu corpo pequeno de menina. Eu quero
apenas dar meu último suspiro. Na tua boca.