sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Despedidas


Ainda era cedo para despedidas. Sempre é cedo quando se trata de quem a gente ama. Não há em nós o desejo de dizer adeus. Mas as despedidas são inevitáveis. Um dia a vida chega ao fim e precisamos deixar o outro ir. Os laços que nos seguram nesse mundo são tão frágeis. De repente, o laço se rompe como num piscar de olhos. A pessoa que você mais ama parou de respirar, deixou esse mundo, assumiu um corpo frio e sem vida. Era cedo. Cedo demais. A morte nunca se encaixa no nosso cotidiano. Vez em quando parece até que ela nem existe. É como aquele parente distante que raramente aparece pra fazer uma visita inesperada e indesejada. A morte não é educada e nem manda carta avisando antecipadamente que vai chegar. E é por isso que você se assustou tanto quando recebeu a notícia mais triste que seus ouvidos poderiam receber. Ele morreu. Sem chorar o pouco tempo que ainda lhe restava. Sem pensar com você tudo aquilo que vocês já viveram juntos. Sem te abraçar forte e dizer que te ama muito e quer te ver feliz sempre. Ainda que ele não esteja ali fisicamente para te acompanhar. Você só lembra do último encontro e de cada detalhe nele. Você tenta lembrar se disse que o amava e que você se sentia bem em estar com ele. Não houve tempo para um pedido de perdão pelas pequenas coisas que você disse que talvez não soaram muito bem aos ouvidos dele. De novo você tenta se recordar se em algum momento você já pediu perdão. Mas, a dor é muito forte, e o desejo de que tudo aquilo seja apenas um pesadelo te sufoca. Não dá pra pensar em mais nada. Você só quer que ele esteja vivo e te esperando. Ele está. Mas sem vida. Sem respiração. Sem o calor no corpo. Sem o suor escorrendo pela pele. Você tenta se livrar desse pensamento. Você tenta acreditar que ele estará lá te esperando com vida. Mas não está. É impossível aceitar que alguém tão especial e querido se foi. Seremos sempre inconformados com a morte. Não queremos jamais dar espaço a ela. Ela não cabe. Mas sempre encontra uma maneira de se encaixar. E quando se encaixa a gente se desencaixa do mundo. Perde o chão. Perde a direção. Não é um sonho e nem um pesadelo. Quisera fosse mesmo. Mas é real. E a realidade dói muito. A dor é sempre constante. Ela vem espreitando de mansinho. Chega no fim de tarde.  Ao deitar das sombras da noite que leva todos os dias o brilho do sol. Você espera que com o chegar da noite ele também chegue. Abra a porta. Sorria com um olhar meio cansado da labuta do dia-a-dia. Estenda-te os braços e espere que você corra ao seu encontro. Mas só lhe resta as lembranças que se escondem no baú mais bonito que é a sua memória e seu coração. As lembranças não curam a dor da saudade. Mas elas são um refúgio dessa dor tão grande que a saudade lhe causa. Nelas mora o amor acontecido em pequenos gestos. Os gestos que preenchiam o vazio dos dias. Há alguns buracos impreenchíveis que só aquela pessoa podia preencher. No entanto, o amor se mantem vivo até quando a vida chega ao seu último suspiro. Nem a morte é capaz de matar o amor. O outro se vai, mas nós ficamos. E ficamos com o amor que sentimos. O amor que mantem viva todas as lembranças da pessoa amada. A saudade só existe no coração de quem realmente ama e nunca deixará de amar.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Liberdade


Leva-me. Agora. Estou aqui. Pode me levar. Cure minhas asas quebradas pela desesperança desse mundo tão feio e cruel. Rasgue todas as roupas que me vestem a alma. Quero voar. E quero voar completamente nu. Dispo-me totalmente dos meus medos, traumas, inseguranças, incredulidades. Deixo tudo cair aos meus pés e diante dos teus pés faço uma simples prece. Liberta-me. Pois agora só me resta o desejo imensurável de desprender meus pés do chão e saltar num voo sem fim. Acredito que posso voar. E porque acredito nesse momento começo a voar até os lugares que jamais seria capaz de ir. Meus pés jamais conseguiriam ir até ali. Então minha alma voa livremente sem medo de cair, sem medo de alguém puxar de volta e dizer que não pode ou não deve mais. Há ainda algo que quer me prender. Mas digo a mim mesmo que preciso ir. Sou livre. Apesar de ter nascido preso nessa condição existencial. Sei que posso me libertar até de mim mesmo. Ser livre é muito mais que poder fazer tudo o que eu desejo fazer. Ser livre é me libertar das correntes que me prendem dentro de mim mesmo. As correntes que me prendem no abismo profundo do ódio e do desamor. E são essas corrente que me puxam para baixo. Sei que posso. Sei que consigo. E nada pode me impedir. Há amor pulsando em mim. Mesmo quando o dia está escuro e não consigo ver além dos muros da minha superficialidade. Sei que posso escalar esses muros. Quanto mais muros você levanta, mais eu tenho vontade de ir além deles. Saber o que há atrás deles. Quero e preciso ir.  O medo não apenas me prende como também me enclausura dentro de mim. Medo de sofrer. Medo de deixar doer. Medo de chorar. Medo de cair. Medo de ralar os joelhos no chão. Medo de não conseguir voar. O medo me impede de viver e ver a beleza que há na vida. O medo deixa tudo escuro. E até o que é claro acaba me assustando. Perde-se a visão do caminho e não se sabe mais para onde ir. Ou melhor, o medo não me deixa ir. O medo só me faz ficar no mesmo lugar. Quando não se enxerga nada, a melhor opção que uma pessoa encontra, é permanecer onde está. Pena que a vida não para só porque estou com medo. É natural sentir medo. O que não é natural é me deixar dominar por ele. Não há domínio que vença a força do amor. Sei que colocastes amor em meu coração. Esse amor me faz completamente livre. Quebro correntes. Escalo barreiras. Liberto-me de mim. Só assim por ir. Só assim posso voar. Ver além do que mundo tenta ilusoriamente me mostrar. Sei que as pessoas são mais do que mostram. Além de um sorriso há muita tristeza sufocada no peito. Sei que posso ajudar, estender a mão, ajudar a sentir, dividir a dor e o peso. Não me pergunte como. Mas, se me perguntares como conseguirei fazer tudo isso, a única resposta que terei será esta: o amor. Ah, o amor me levará. E a fé me dará asas. Só assim posso voar. Só ama quem acredita. Eu acredito em você. Eu acredito em mim. Eu acredito em nós.


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Não é explicável


Eu só deveria dobrar meus joelhos e levar minha cabeça ao chão. Mas nem isso consigo agora. Então simplesmente deixo minha alma se derramar como um vaso que acabou de ser lançado ao chão. Ao se chocar com o piso o vaso se quebra completamente, se transforma num monte de cacos e a água se espalha. Deixo-me cair ao chão e deixo que minha alma se derrame completamente. Há só um desejo irrevogavelmente gravado em minh'alma. Ser livre.

Derramo-me... receba-me... toma-me... enfim.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Confissões de um menino com dores na alma


Tudo o que eu mais queria era te ter aqui comigo. Bem pertinho de mim. Queria a tua pele roçando na minha de mansinho, me lembrando que não estou sozinho e que o mundo não existe quando estamos juntos. Talvez exista, mas de uma forma mais leve. É, o mundo realmente me pesa muito. As pessoas, seus conceitos, seus valores, seus preconceitos, suas regras, sua ditadura do certo e errado.
Não sei o que é errado agora. Não me interessa saber neste instante. Sei o que é certo. Ser feliz. É certo ser feliz e nada pode ir contra isso. Nem os maiores moralistas ou falsos moralistas que existem nesse mundo. Ninguém pode mais apontar o dedo na minha ou na sua cara para nos dizer que o nosso querer é feio, é pecado ou errado. Eles não sabem e acho que jamais saberão o que é ser feliz de verdade. Desisti de ser meu próprio obstáculo. Porque sim. Porque eu era meu maior empecilho. A felicidade me estendia as mãos e eu recusava. Pensei que o convite não seria bom. Mas era bom. Agora sei o quanto é bom confiar na felicidade. Se soubesse antes, teria dado as mãos pra ela e teria ido pelo caminho que ela queria me levar. Mas não há tempo para lamentos. É estranho, mas meu medo me empurrou para mais perto da felicidade. Meu medo de ser feliz me preparou para uma escolha consciente. Meus pés sabiam onde estavam pisando. Não estava calcando o escuro. Sei que não sei absolutamente nada sobre o que acontecerá comigo depois de todas as minhas escolhas. Nem quero saber. Consequências sempre existirão. Não existe uma separação entre a escolha e a consequência. No entanto, nem ela me preocupa agora. O que mais me preocupa é ser feliz. É saber-me inteiro e feliz. É saber-me em paz e com coração repleto de amor.
Há um medo tão grande mim. Tenho medo de não conseguir amar. A falta de amor me assusta. Tenho medo de quando te olhar nos olhos e não me encontrar mais neles. Tenho medo da imagem do seu sorriso, seu olhar, seu rosto não caberem mais em meus olhos. Tenho o agora, mas tenho medo do depois. Querendo ou não, o futuro sempre nos amedronta. Porque ele nada mais é que uma escuridão diante de nossos olhos trêmulos e ansiosos por saber o que virá depois. Depois, eu não sei. Mas, agora, sei que possa fazer algo. Posso dizer-te o quanto quero ser feliz. O quanto quero amar. O quanto quero ter um coração bom. Um coração que seja livre desses pesos. Mágoas. Decepções. Desafetos. Apesar de saber que tudo isso está incluso nesse imenso e infinito mar, chamado por nós, de vida.
Se eu não mergulho, não vivo. Se fico na margem observando, a vida segue sem que eu viva. Quero mergulhar mesmo não sabendo nadar. Mas a gente só aprende a nadar quando entra no mar. No contato com a água. No tentar constante. A vida acontece nessas tentativas de não me afogar. Já tive uma boa quantia de quase afogamentos. Não foi bom. Não é bom sentir que suas forças estão acabando e que você não consegue fazer nada para se manter. Mas sempre vejo uma esperança. Há sempre alguém que também está aprendendo e que me oferece ajuda. Mesmo não sabendo muito bem, há sempre alguém que não me deixa e não nos deixa morrer afogados.
Só quero que a vida aconteça. Mesmo vendo o mundo lá fora me olhando com nojo e me julgando pelo que sou. Penso que eles devem ter esquecido de fechar os olhos e se olhar por dentro. Todo mundo tem sua podridão. Todo mundo tem os seus fedores. Tem gente tão podre por dentro achando que vive a vida mais bonita que existe. Mas está quase morto. Ou já morreu. Que triste morrer em vida. Confesso-te outro medo meu. Tenho medo do não-sentir-nada. Tenho medo de morrer mesmo em vida. Tanta gente tem medo da morte do corpo. Tenho medo que minha alma morra e fique sepultada dentro desse corpo, apenas esperando o fim.
O amor. Ah, o amor é o que mantem minha alma respirando. Preciso desse oxigênio. Toda vez que me faltar o ar vou me recordar que estou precisando amar mais. Amar. Sim, simplesmente amar. Não esse amor banal. Não esse amor de novela das oito. Amor de verdade. Aquele amor mansinho. Amor que chega e fica. Amor que chega, me abraça, me descansa, mas, vez em quando, me cansa. O amor é assim. Descansa. Cansa. Depois revigora suas forças. Amor é algo que jamais uma pessoa conseguirá entender ou explicar. Pois se não ele deixará de existir em nós.
Se o mundo lá fora carregasse um pouquinho de amor dentro do peito, as coisas seriam bem mais leves e coloridas. Mas não é bem assim. Nem todos estão dispostos a amar e se deixar amar. Tem muita alma acinzentada que não se deixa colorir. Se eu pudesse, derramaria sobre todas essas almas as tintas mais coloridas que existem na aquarela da vida. Queria ver o mundo cheio de cores. Essas cores vivas. Essas cores cheias de felicidade. Deixa eu deitar sobre o teu corpo e colorir a tua alma nua com as cores infinitamente lindas que existem no amor. Por favor...

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A vida canta e minha alma dança


Tanto querer e desejar me dominam e me consomem e me dão uma tremenda fome. Não sei se gasto todas as minhas forças gritando, suplicando e invocando por alguém que liberte minha alma dessa paralisia. Ou se desisto e me entrego e desfaleço completamente ao chão. Se eu gritar, acho que ninguém me escutará, pois estou preso aqui dentro. Querendo. Desejando. Necessitando. Mas há paredes comprimindo minha alma. Meus gritos não passarão de um minúsculo sussurro. As paredes são o meu corpo fragilizado. Apenas um reflexo da alma que está mergulhada dentro de mim. E, se não bastasse as minhas limitações, tenho em meu encalço os passos de quem foi sem ir. Daqueles que, com palavras, gestos, olhares, e, de tudo um pouco mais, me fisgam, me retêm, como uma pedra no meio do percurso de um rio que flui. Lembranças dolorosas me assombram e me fazem correr pra debaixo da cama. E a vida anda, anda, anda. E me chama. E vez em quando até reclama. Vejo a vida ir e com ela desejo também ir. A vida me chama a dançar. Mas, vida, eu não sei dançar. Ouvi alguém dizer que, para viver, a gente tem que dançar conforme a música. Porém, não sei acompanhar o ritmo dessa música. A música vai pra um lado e meu passo vai para o lado contrário. Sou um pouco descoordenado e tão desajeitado. Vão rir de mim. Posso até tropeçar e de repente cair. Mas a vida é tão cheia de sabedoria, me olha entre os vincos de sua enorme face, e diz que meu corpo não precisa saber passo algum, nem ritmo, nem compasso. A vida me segredou baixinho (e tive que fazer um esforço enorme pra ouvir). Basta deixar sua alma dançar. Foi o que a senhora vida me disse. Engoli cada palavra bem devagarzinho para que o sentido de cada uma delas não se perdesse no ar. Deixa. Deixa-me. Me deixa! Deixa então que minha alma dance livremente. Não prenda mais os meus passos. Não fique mais no meu encalço. Se não queres ir, então, por favor, deixe-me ir. A vida está cantando com tanta maestria. A vida está cantando. Quando ouço essa música, minha alma sente vontade de saltar dos limites do meu corpo, libertar-se de todas as pregas que ainda existem, e simplesmente dançar. Já que meu corpo não dança, minha alma pode dançar. Agora sei. Minha alma quer dançar. E enquanto me entrego ao mover da dança sinto uma leveza impressionante. Sinto que vou seguindo e deixando cair ao longo do caminho todos os pesos que não me servem mais. Quero a leveza de viver. Quero ir sem me arrastar. Quero ir dançando, cantarolando, amando. Pois não importa o que venham a me dizer e nem o quanto tentem me derrubar. Sei que a vida fica mais leve quando me permito amar. Amar e dançar.

A vida canta. Minha alma dança. E ama...


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Foi bom te amar


O tempo nem sempre faz o que as pessoas erroneamente costumam dizer. Agora entendo que, pode passar o tempo que for, você sempre estará cravado em minha memória. Mais que isso, você sempre estará cravado dentro de mim. Você foi nada mais que uma semente plantada no meu jardim interior. No meu jardim secreto que não havia sido violado por ninguém. Tuas mãos não bateram na porta do meu jardim. Não foi preciso pedir licença para entrar. Você entrou e se plantou em mim. Germinou. Deu flor. Reguei a terra do meu jardim com a esperança que eu tinha de um dia você ser pra mim, tudo aquilo que eu era pra você.
Em vão. Tudo em vão. Agora sinto que foi em vão. Um dia poderei mudar de ideia. A vida pode me surpreender e me mostrar que você ainda pode ser mais que alguém que me controlava. Aí você cresceu em mim. Cresceu mais um pouco. Criou raiz. A minha batalha foi perdida no começo. Ao contrário de muitas batalhas que chegam à derrota no fim. Não, a minha derrota se deu justa e inevitavelmente no começo. No começo, sempre fazemos tudo no calor e na intensidade do sentimento. Andamos às cegas achando que escolhemos o caminho seguro. Enquanto isso, caminhamos em meio às serpentes venenosas que querem injetar em nós uma substância que pode ser fatal. Mas esse veneno não mata o corpo. O veneno tão temido mata a alma. Aos poucos. Gota por gota. Não fui picado por elas. Uma luz brilhou no caminho antes que isso pudesse acontecer.
O que aconteceu comigo? Onde está a sanidade de uma pessoa quando ama? E a vida me enche as mãos, mais uma vez, de inúmeras perguntas que nem sei se serão respondidas. Mas pergunto. Não me canso de perguntar. Mesmo sabendo que as perguntas nada mais são que um desejo absurdo de entender porque aconteceu comigo. Por que tinha que ser comigo? Por que tinha que ser você? Por que tinha que ser nós? Mesmo que esse ‘nós’ só tenha existido no meu mundo cheio de ilusões e esperanças falsas.
O tempo ia passando e você fincava suas raízes em mim. Dói ser enraizado por alguém. O amor dói. E a indiferença dói mais ainda. Ai. Ai. Ai. Como doía quando minha necessidade tocava na sua indiferença. Tão estranho saber que alguém se enraizou em você, mas esse alguém não te pertence. O que acontece comigo? Alguém me explique porque você não sai de mim? Não ouço ninguém me responder. O amor é mesmo um mistério insondável. Quanto mais avanço, mais me surpreendo. Você me surpreendeu alguns dias atrás. Se você pensa que senti aquele frio na barriga ou que corei como sempre fazia, você está totalmente enganado. Foi normal. Não me fez mal. No entanto, sei que você permanece com suas raízes em mim. Dentro de mim. Nada vai e nada poderá mudar isso.
Aconteceu. Não sei se a vida quis assim. Não sei se era pra acontecer. Não sei se devo acreditar no destino. Só sei de uma coisa. Eu quis. Tudo aconteceu porque eu quis. Seria muita covardia da minha parte dizer que não, tecer várias desculpas, fazer rodeios, dar várias e várias voltas. Não adianta. Sempre chegarei ali, no meu jardim, naquela árvore que cresceu. Mas que, de alguma forma, morreu. Acho que quando um amor morre, consequentemente, os frutos caem de tão maduros que estão, as folhas secam, e, só restam os galhos secos. E a raiz. É claro, ela permanecerá sempre ali. Ela sempre me lembrará você.
O amor é essa semente que a gente permite que plantem em nós. Mesmo não sabendo se dará fruto. Mesmo não sabendo se o fruto será bom. Mesmo não sabendo se a árvore resistirá ao duro e rigoroso inverno da vida. Para só depois, quando vier a primavera, voltar a ter sua folhagem e seus frutos naturais. Quem sabe o amor que eu tinha por você só esteja passando por esse inverno. Será? Se for, esse inverno está muito longo. Ou talvez, essa seja só mais uma forma de esconder mais uma falsa esperança que está tentando se acender em mim. Não permito.
A minha vida precisa seguir. Ainda há muito espaço em meu jardim. Sei que alguém poderá entrar a qualquer momento. Quero estar preparado. Com o jardim pronto para receber uma nova semente. Quero continuar sem persistir nessa tentativa inútil de regar a árvore que já está morta. Morreu. Acabou. Por mais difícil que seja entender isso. Preciso continuar. Vou continuar vivendo. Pode deixar, jamais vou me esquecer de você. Não tenho essa capacidade. E, quer saber mais uma coisa? Se eu pudesse escolher entre te esquecer completamente e continuar com sua lembrança em minha memória. Eu escolheria a segunda opção. Porque sim. Porque, além de tudo, você me fez bem. Você fez com que eu me encontrasse comigo mesmo. Com a pessoa que eu não queria encontrar. Estou repleto de lembranças. Algumas doem. Outras nem tanto. Já outras nem doem mais. E, as outras, as bonitas, ainda me fazem respirar fundo e pensar com leveza: foi bom te amar.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A minha sina


Não, não diga nada. Por favor, não diz. Você não precisa me dizer mais nada. Pode continuar com seu silêncio que antes era insuportável. Mas agora não é mais. Isso mesmo. Teu silêncio se tornou suportável. Dói. Ainda dói. Mas me acostumei. Assim como um organismo se acostuma com o mesmo remédio. No começo, seu silêncio me doía muito. Porque eu tenho urgência de palavras. Preciso de um sim ou de um não. Mas você me veio (sem vir) com esse talvez. O silêncio esconde um talvez. E o talvez me limita os passos. Não sei se vou e nem sei se fico. Na dúvida, escolhi ficar. Você me prendeu em seus braços. Não consigo ir. Não consigo prosseguir. Ainda espero uma resposta. Ainda espero que você me diga se quer ou não. Se fosse antes, eu diria que só espero um sim. Mas não. Eu escolheria o não, somente para me ver livre das suas amarras invisíveis sobre mim. Pois, enquanto fico aqui, atado a você, a vida está passando. Isso é certo? Diga-me se está certo eu ficar aqui esperando alguém que está calado por seu próprio egoísmo. Deixe de ser egoísta. Diz logo que não quer. Não precisa agir mais com essa indiferença maquiada de beijos vazios e palavras forçadas. Eu sou livre. Você é livre. Apesar da gente, às vezes, sentir vontade de prender o outro em uma gaiola para ele ser só nosso. Mas ninguém é propriedade de ninguém. Detesto quando me chamam de meu-isso ou meu-aquilo. Não sou pertença sua. Assim como você não é minha. Então, por favor, liberte-me. Preciso ir. Você é tão seco, tão frio, tão sem vida. Queria me proteger de você. Mas quando você me olha fico desprotegido. Meus braços são incapazes de te afastar. Porque, infelizmente ou felizmente (não sei), ainda te quero. E o meu querer errado (ou certo) me prende aqui. Tantas incertezas. E a vida escorre diante de mim. Meus passos querem ir ao seu encalço. Mas continuo. Aqui. No mesmo lugar de sempre. Esperando o que talvez nunca chegará. Procurando por quem não quer ser procurado. Falando para quem não quer me escutar. Dando amor para quem quer ser amado. Mas não quer amar. Só quero ir. Ir. Porque ficar não é a minha sina. Escolho ir. Pois há muita água a ser secada. Perto de você sinto que é muita, muita, muita água pra pouca vontade de secar. Quando se ama, se sacia a sede do outro. E quanto mais a pessoa é saciada, mais ela quer se saciar. A minha sede não é para você. Nada em mim é pra você. Eu vou. Com o peito um pouco mais fechado. Com cuidado. Mas eu vou. Até logo. Fique bem. Por favor. Fique bem. Eu vou tentar ficar bem. Porque, afinal, talvez a minha sina seja essa. Amar errado até encontrar o amor que não seja o certo, mas seja recíproco. É isso que importa.