terça-feira, 10 de março de 2015

A (nossa) dança


Dance. Dance comigo mais uma vez. Você me ama? Dance comigo. Sabes das minhas vertigens e das minhas incontáveis quedas no abismo de mim. Sim, você me ama. Você tirou minhas dores pra dançar e agora meu peito se esvaziou de toda essa urgência angustiante que é querer. Continuo querendo. Mas quero de uma forma quase inaudível. Você se inclina sobre mim. Espera, acho que vou cair de novo. Você me segura. Eu não te ouvi eu não te ouvi fale de novo fale só mais uma vez. Você não se cansa de tentar saber o que quero o que eu disse o que eu sinto. Escapou. Escapei. Não sei voltar. Não quero voltar. Você pede mais uma vez que eu repita o que eu disse. Inaudível até pra mim. Vez em quando é melhor me abster de saber o que quero. Só preciso querer. Baixo ou alto. Quero. Isso não te basta. Você quer mais. Você quer o meu querer. Delicadamente você conduz meus passos para que eu não tropece em nossos medos e caia mais uma vez no abismo. Se eu cair, você cai junto? Amar é se lançar no abismo do outro mesmo sem saber se haverá salvação. Se eu cair, você me salva? Salva? Não responda. Recuso-me a saber de tudo. Saber tudo enjoa. O não-saber me faz mais humano, mais gente. Estou constantemente com essa ânsia de vômito misturada com essa fome de um pedaço do mundo misturada com esses desejos velados entre os lábios e os dentes misturada com nossos medos e nossas angústias. Queria vomitar. Temo vomitar e me tornar vazio do vazio. Temo os teus temores mesmo quando você não parece estar com medo. A dança continua. A música não finda. Não sei da finitude das coisas. Nunca quis saber. Apenas dance... comigo... agora...

sábado, 7 de março de 2015

Umbilical


O mundo pode acabar em água. O mundo pode acabar em fogo. Tanto faz. É tudo lá fora. O mundo desaba. Chove torrencialmente. O mundo está desabando lá fora. Nós estamos aqui dentro. Quatro paredes. Quatro olhos. Quatro mãos. O mundo se cala quando eu desabo a minha existência nos teus braços. O mundo não pesa mais quando a minha alma desagua nos teus lábios. Vejo-te sorver de mim. Deixe-me oco. Sou teu. Deixe-me vazio. Sou teu. Não sei me ser mais. O cordão umbilical, que prendia minha alma ao meu corpo, foi rompido. O meu parto íntimo. Pari a minha alma para dentro de ti. O gozo na dor de me libertar de mim. Deixa-me doer essas dores, amor. E as tuas mãos (ah, não afaste suas mãos de mim), e os teus dedos (não, não me prive do teu toque!), e a tua pele (me queira com ela me devore com ela me ame com ela), e os teus olhos (não esconda de mim com tuas pálpebras, corte-as se quiser)... e você, você me alimenta agora. A única distância que consigo suportar é a desse cordão umbilical entre nós. Entre a minha alma e a tua. Não me devolva o que já é teu. Sim, eu sou teu. Estou num limbo terrível. Entre a vida e a morte. O limbo é o teu toque. Se você não me toca, tudo fica pesado demais e não posso respirar e não posso sentir a vida pulsando em minhas vísceras, em minha carne, em meu peito. Se você me toca, respiro, posso viver e sentir a vida jorrando pelas minhas artérias numa violência que me leva ao medo de ter minhas veias violentadas e meu coração esmagado. Você esmaga tudo em volta para que eu possa existir.