acordei no
meio da noite
a noite me
acordou ao meio
tanto faz
o que me fazia
querer gritar
no meio da
mudez de uma noite
escura e fria
era o meu
desespero por poder
reconhecer –
no meio da noite
e no meio de
mim mesmo –
aquelas vozes
que rasgavam
meus ouvidos
numa dor aguda
e silenciosa
estou cortado,
machucado, ferido
por essas
vozes que ecoam no oco
são versos
tecidos pela mão do impossível
são melodias
compostas num instrumento
inexistente
são palavras
ditas por lábios
secos e
rachados como uma terra árida
feito ácido
corroendo tudo por dentro
a palavra é
veneno quando não dita
e a noite
continua ao meio e continuo
ao meio
tentando me
juntar pra não morrer
no meio, ao
meio, na noite
mas não quero
morrer inteiro e
me jogo, me
lanço ao chão como
como um vaso
arremessado
por mãos
furiosas que desejam quebrar
tudo e todos
na esperança de romper
a si mesmo
num momento de
fúria
quebro-me
despedaço-me
esqueci de ser
inteiro.