segunda-feira, 23 de setembro de 2013

(Você não) me vê


Você não me vê. Que merda! Eu Não me escondo Mais de você. Eu rasguei as cortinas, abri as janelas e as portas. Eu rasguei meu peito. Mas você não entra. Você sempre mantem uma distância de mim. Você fica na soleira da porta só me observando. Mas não entra. Você não entra. Entre nossos olhos eu criei uma ponte. O teu ego agradeceu. Não sou tão perigoso assim. Você nem olha pra mim. Você me enche de mil desculpas. Você vive no mundo da lua. E não há foguete que me leve até você. Entre nós não existe mais uma linha tênue. Entre nós há um abismo intransponível. Quanto mais te quero, mais você se vai. Quanto mais me aproximo, mais distante você fica. Você fingi não entender o que está escorrendo pelos meus dedos, meus olhos, minha boca, minhas feridas. Porra! Você me fere e tanto e não me cura. Aquele que faz a ferida deveria ser responsável por tratar dela até que ela se cure totalmente. Apesar de não acreditar na totalidade da cura de uma ferida. Minha alma é colecionadora de cicatriz. Cada uma carrega em si uma história, um olhar, uma presença e um tanto de ausência. Não, não me venha dizer que você gosta de mim ou que você me ama. Você ama apenas o amor que eu tenho por você. Nada mais que isso. O meu amor é o objeto de desejo do teu ego. Quanto mais te amo, mais inflamado o teu ego fica. Quero te habitar, mas não caibo dentro de você. Não há espaço pra ninguém mais. O teu ego ocupa todo o espaço que há. E não há mais nada que eu possa dizer ou fazer. Estou cansado. Minha alma carece de um porto que não seja mais inseguro. Minha pende. Minha alma. Minha. Não, estou mentindo. Tua. Minha alma é mais tua do que minha. Mas você não vê. Acorda. Ainda estou aqui. Minha droga, meu vício, meu precipício, minha redenção.

[respeite meu devaneio]

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O grito do meu silêncio


Sempre detestei essa ruindade que existe em mim. Sempre quis ter um coração bom. Sempre quis fazer o bem. Sempre quis ser bom. Sempre quis ajudar todo mundo. E sempre quis abraçar o mundo com meus braços que, infelizmente, não são de borracha. Mas sou ruim. Sou ruim por natureza. E direcionar meus olhos pra dentro e confidenciar essa verdade a mim mesmo, é fazer um tratado de paz com minhas infinitas imperfeições. Sempre quis tanto, mas tanto... que quase nada consegui fazer. Esse sentimento de impotência diante da dor do outro, me dói um bocado. A dor do outro, vez em quando, dói mais em mim do que a minha própria dor. É estranho. É raro. Porque parece que endureci um pouco. Ou não. Volto a dizer do que sempre detestei. Sempre detestei sentir a dureza do meu coração. Eu já me detestei por isso. Talvez eu nem tenha endurecido. Talvez tenha se formado apenas uma casca grossa sobre a ferida. Porém, logo alguém vem. Vem e esbarra justamente no local outrora ferido. A ferida toma seu lugar de honra. Sangra. Não, eu não endureci. O sangue escorre, e posso provar do gozo e da dor que se tem quando a vida insiste em pulsar em seu peito surrado pelos nãos, pelos olhos desviados, pelos braços cruzados, pelas batidas insistentes em portas que jamais se abriram, pelas idas e vindas do amor – ou das possibilidades dele. Eu já tive vontade de me arrancar de mim. Há dias em que eu não me suporto. Dormir? Tento, mas nem sempre resolve. Ainda não existe um remédio que me cure de ser. Ainda bem. Ou não. Porque há sempre uma possibilidade. A vida é uma incerteza. Mesmo que sejamos teimosos e tenhamos uma criança birrenta gritando ferozmente bem lá no fundo da alma: eu-quero-assim-do-meu-jeitinho ou eu-quero-agora. Mas que merda! Eu já sei que sou ruim. Eu já sei que há muitos cantos sujos em mim. Só quero um pouco de paz pra descansar essa existência. Não quero ser perfeito. Credo! Deve ser horrível ser perfeito. E deve ser mais horrível ainda esperar por alguém perfeito. É preciso fazer as pazes com nossa humanidade. Sempre me acumulo em mim. Sinto que estou prestes a explodir. Não fique tão perto. Pode ser perigoso. Não quero machucar ninguém. Não suporto quando minhas feridas ferem quem eu amo. E na tentativa de não ferir, acabo ferindo ainda mais. Por quê?! Por quê?! Diga-me. Estou cheio de interrogações. Mas não me venha com as tuas respostas pré-cozidas. Você me ajudaria muito mais se ficasse calado e me abraçasse forte. Isso. Abraça-me forte, porque quero fugir. Faz nó cego em mim. Dispenso os laços. Posso te fazer uma última confissão antes que você se canse dos meus excessos e exageros desmedidos? Posso? Fa(la)rei.  Queria regressar aos teus braços. Porque eles – só eles – se ajustavam às deformidades da minha alma. E são essas deformidades e essas imperfeições e essas falhas e essas dores que não me deixam esquecer o meu excesso de humanidade.