Você não me vê. Que merda! Eu Não me escondo
Mais de você. Eu rasguei as cortinas, abri as janelas e as portas. Eu rasguei
meu peito. Mas você não entra. Você sempre mantem uma distância de mim. Você
fica na soleira da porta só me observando. Mas não entra. Você não entra. Entre
nossos olhos eu criei uma ponte. O teu ego agradeceu. Não sou tão perigoso
assim. Você nem olha pra mim. Você me enche de mil desculpas. Você vive no
mundo da lua. E não há foguete que me leve até você. Entre nós não existe mais
uma linha tênue. Entre nós há um abismo intransponível. Quanto mais te quero, mais
você se vai. Quanto mais me aproximo, mais distante você fica. Você fingi não
entender o que está escorrendo pelos meus dedos, meus olhos, minha boca, minhas
feridas. Porra! Você me fere e tanto e não me cura. Aquele que faz a ferida
deveria ser responsável por tratar dela até que ela se cure totalmente. Apesar
de não acreditar na totalidade da cura de uma ferida. Minha alma é
colecionadora de cicatriz. Cada uma carrega em si uma história, um olhar, uma
presença e um tanto de ausência. Não, não me venha dizer que você gosta de mim
ou que você me ama. Você ama apenas o amor que eu tenho por você. Nada mais que
isso. O meu amor é o objeto de desejo do teu ego. Quanto mais te amo, mais inflamado
o teu ego fica. Quero te habitar, mas não caibo dentro de você. Não há espaço
pra ninguém mais. O teu ego ocupa todo o espaço que há. E não há mais nada que
eu possa dizer ou fazer. Estou cansado. Minha alma carece de um porto que não
seja mais inseguro. Minha pende. Minha alma. Minha. Não, estou mentindo. Tua.
Minha alma é mais tua do que minha. Mas você não vê. Acorda. Ainda estou aqui.
Minha droga, meu vício, meu precipício, minha redenção.
[respeite meu devaneio]