A porta que não posso abrir

Acho que para mostrar que sou forte e que já superei tudo o que passou, prefiro mentir para mim mesmo e dizer para todo mundo que é passado, que não sinto mais nada e que você não faz mais parte da minha vida. Mas, no fundo, lá no fundo, num lugar secreto, você está bem escondido. Num quarto pequeno. Sem luz, por que eu resolvi te deixar lá, apagar a luz e sair. Tranquei a porta e não voltei mais. Joguei a chave em algum lugar só para não me render à tentação de abrir a porta e te ver.

Tenho medo de entrar lá de novo. Tenho medo de acender a luz. Tenho medo entrar e, mesmo no escuro, enxergar o brilho dos seus olhos. Toda vez que vejo sua foto, fico pensando em tudo que um dia eu ouvi dos seus lábios. Palavras e palavras. Só palavras. Promessas não cumpridas. Você é tão covarde, mas foi você quem deixou marcas em mim. E o amor deixa marcas inapagáveis. Sei bem que por mais que eu tente colocar algo em cima dessa marca, ela jamais vai deixar de existir. Não te quero como antes. Eu te queria mais que a mim mesmo. Eu queria que você tivesse coragem de seguir em frente ao meu lado. Mas eu não estava ao seu lado. Você me queria no seu bolso, em suas mãos, fazendo do seu jeito. O jeito mais egoísta que existe.

Queria me sentir gente grande e que já deixou passar. Estou vivendo num conflito de sentimentos. Não penso em você com tanta intensidade. Só estou lamentando tanto por você viver a vida que você está vivendo hoje. Sei que todo mundo deve estar pensando que ainda existe amor. Mas acho que não é isso. É que você deixou tanta coisa comigo. É impossível não lembrar. É impossível não desejar que essa história tivesse outro enredo. Mas não teve. E acho que nunca terá. Nossas vidas tomaram rumos diferentes. Nossas escolhas foram totalmente contrárias. Cada um de nós vai sofrer o peso das consequências. Só não sei quais serão.

Queria saber tanta coisa. Mas o futuro não me pertence. Nem você me pertence. Nunca pertenceu. Eu vivia de faz-de-conta-que você me pertencia. Só o momento presente me pertence. Tenho poder sobre ele. E por ter poder sobre isso, decido não voltar no quarto escuro em que você ficou. Fico aqui domando meus extintos mais secretos. Não posso voltar lá. Te deixo lá. Me deixa cá. No meu cantinho. Sozinho. Curtindo essa saudade e esse desejo que restou. Afinal, a única coisa que restou foi o desejo de te ter do meu lado. Inteiro. Verdadeiro. Sendo quem você é.