Estou
doente. Extremamente enfermo. Dói muito. Agulhas são inseridas em minhas veias.
Estão tentando – em vão – me curar. Elas, as agulhas, alcançam minha alma. Não
me venha com esse discurso enjoativo de que sou insano ou dramático demais.
Porque estou enfermo. E a doença sou eu. Sim, estou enfermo de mim. Estou
sofrendo com o excesso do que sou. Sou um transbordamento de mim mesmo. Sou uma
mistura do fui, do que sou e do que queria ser. Sempre me perco e caio na
ilusão inconcebível de achar que posso me encontrar no outro. Mais que isso:
constantemente (e estranhamente) penso que existe alguém que pode me curar de
mim. Tento encontrar no outro a minha redenção e o meu descanso. Mas o outro,
diversas vezes, me cansa muito. No outro, eu já encontrei a minha perdição.
Porque o outro está se procurando em outro alguém. Vivemos assim. Vivemos nessa
interminável procura por nós mesmos. E, quanto mais nos procuramos, mais nos
perdemos. A vida é um labirinto. Se a gente se desespera, a saída nunca é
encontrada – se é que existe mesmo uma saída. Não há motivos para desesperos.
Não há, mas a gente sempre encontra um motivo (por menor que seja) pra se
desesperar. Quando se torna perigoso demais viver dentro de mim, desejo
ardentemente uma saída de emergência. Uma porta que me permita escapar do
incêndio das minhas emoções e sentimentos. Pois há dias que são tão pesados. O
tic-tac do relógio se torna ensurdecedor. (Dor, emudeça em meu peito, por
favor.) Com sinceridade te digo que vez em quando me canso de mim. No entanto,
é com a mesma transparência que te confesso que, se eu não fosse eu, com
certeza, seria da mesma forma. O ser humano nunca está suficientemente contente
com o que é e com o que tem. Somos inconformados. Procuro refúgio e procuro mais. Procuro um
subterfúgio. Procuro uma sombra num dia ensolarado e extremamente quente. Quero
fugir. Quero me esconder. Mas não há escapatória. Tento fazer a todo custo, e
de qualquer maneira, uma transfusão do que o outro é, em mim. Porém, há uma
ligeira rejeição. Não há cura. Não! Estou fadado a ser eu. Essa talvez seja a
única doença que nunca – e jamais – conseguirão encontrar uma cura. Quando
éramos crianças geralmente chorávamos bastante e depois dormíamos um tanto
mais. Tudo para descansar de alguma dor da infância, de alguma palavra dura ou
de alguma briguinha infantil. Essa era a melhor forma de resolver nossos
“probleminhas”. Aí crescemos, e dormir se tornou um descanso ou um adiamento da
dor. Esse sono não é interminável. A dor também não é. Estar acordado, e
permitir que a dor doa, talvez seja uma forma de sentir a vida pulsando em nós.
Acho que eu não conseguiria viver num corpo que não sente dor. Se dói, é porque
estamos vivos. Não sei se há uma conclusão para tudo. Acho que não. Pensamentos
sempre se renovam e deixam de ser os mesmos. O que concluímos ontem, poderá ser
o oposto do que pensamos hoje. A vida nos trata assim. A vida nos faz assim.
Mostrando as possibilidades, revirando nossas certezas, dissolvendo nossas
incertezas, fazendo o (im)possível. Montando, desmontando, remontando o que
somos e o que desejamos ser. Chega! Desisti. Não há quem me cure de mim.
P.S.:
Só falta eu me convencer disso.
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