quinta-feira, 4 de abril de 2013

Sou uma tempestade


Pintei o meu cabelo há alguns dias só pra ver se você me percebe. Mas você, definitivamente, é um boboca. Sim, tive que pintar com uma cor bem incomum pra facilitar as coisas. Mesmo assim, você não me notou. Que merda. Será que eu tenho que andar nua em plena Avenida Paulista pra você perceber que eu existo?
Ando tão cansada dessa minha vida medíocre. Tenho fumado vários maços de cigarro, tenho bebido tanto café e comido tanto chocolate. Estou me sentindo gorda. Você me olha todas as manhãs e diz que eu sou louca e que não engordei nem ao menos uma grama. Engordei sim. Engordei por dentro. Minha alma me pesa e tenho me arrastado pelos cantos e pelas ruas e pelos bares e pelo meu trabalho e pela minha faculdade e por essas ruas frias e solitárias de São Paulo. É, por mais que as ruas estejam cheias, as pessoas andam sozinhas consigo mesmas. Meu olhar sempre se perde, procurando de rosto em rosto, um olhar que encontre o meu e possa ali descansar. É isso que minha alma deseja tanto. Descansar. Aí vem você e me diz que te tenho e não há motivos pra eu procurar em outro lugar esse tal descanso.
Você não me leva a sério. Isso me deixa irritada. Detesto quando alguém menospreza o que eu sinto ou o que eu penso. Detesto mais ainda quando você, ou qualquer outra pessoa, diz que sou dramática.
Sabe o que houve? Teus braços não me descansam mais. Teus braços não são mais o meu oásis, o meu lugar de descanso, o meu abrigo. E tudo isso porque você não me quer inteira. Você não me devora mais. Você apenas toca o meu corpo, os meus lábios, os meus seios. Teu toque não me toca mais. Teus olhos não me enxergam mais. Teus olhos eram o espelho para minha alma e agora sinto uma saudade imensa de enxerga-la nesse espelho.
Sou uma tempestade. E estou pedindo que você seja – sempre – o meu guarda-chuva. Não consigo ser garoa e nem ser chuva. Sou intensa demais. Um cafezinho não está resolvendo minha situação. A ansiedade está fazendo com que eu me sinta enclausurada dentro desse corpo. Não estou me cabendo. Queria que alguém existisse no meu lugar pra eu poder descansar um pouco de ser.
Estou com o peito rasgado diante dos teus olhos fechados.
Toda noite é sempre a mesma insônia. Minha alma está deserta. Estou sozinha mesmo estando com minha cabeça recostada em teu peito. Você acorda no meio da noite e passa os dedos entre os meus cabelos tingidos (que você insiste em não notar). Eu só queria que você me abraçasse a alma. Preciso chorar até secar a última gota que houver dentro de mim. Estou seca. Estou molhada. Estou quente. Estou fria. Estou e não estou. Sou e deixo de ser.
Peguei no sono bem tarde. Acordei bem cedo. Meu corpo se levantou e minha alma continuou enrolada entre os nossos lençóis. Eu ainda não sei qual é o motivo que me leva a insistir em nós. Se é mesmo que esse ‘nós’ ainda existe. Tenho medo de te ver partir. Ainda me lembro do último que partiu. Ele me deixou partida. E isso não é mentira e nem exagero. Sinto que você dá sentindo à minha existência. Depois que você chegou (inconscientemente) suas mãos juntaram os meus pedaços e me senti reconstruída de novo. Quando estou do seu lado, ainda que você seja indiferente e não me queira inteira, sinto que estou viva. Estou cansada de ver minhas esperanças morrerem e de sempre ter que sepultá-las. Quero viver agora.
Não se vá...
Na verdade, não estou cansada da vida. Estou cansada de você. Só que não consigo admitir isso. E dizer assim, em voz alta, parece uma loucura. Posso pintar meu cabelo de preto de novo. Posso parar de fumar tanto. Eu quero apenas que você note que eu existo.
Porra, eu te amo tanto.

(Sentou no canto de seu quarto e chorou por mais de duas horas. Depois ele chegou do trabalho. E nada mudou.)


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