quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Eu me afoguei


Queria poder me rasgar inteiro para te enfiar dentro de mim e te fazer ficar comigo pra sempre. Colado em minha existência.  Grudado em minhas carências. Enraizado em meu peito machucado por tantos nãos que meus ouvidos receberam. Sim, eu sei que a vida não é feita somente de sins. Mas o não sempre machuca um pouco. E, de não em não, a ferida vai ficando maior, e, o desejo de ser curado por um doce sim, aumenta.
O meu desejo aumentou à medida que você estava mais perto de mim. Quanto menor a distância, maior é o perigo. Sempre quis viver assim. Correndo esses tremendos riscos e esses perigos. Eu disse sim de repente e você correspondeu ao meu chamado. Nossos sins se encontraram e você chegou perto demais. Um beijo me toca a alma. E, além disso, eu só posso querer mergulhar de cabeça na alma do outro. Mesmo não sabendo nadar. Mesmo quando sua alma me parece ser um imenso mar que provoca meus medos de criança.
O medo tentou me abraçar a alma, mas fugi do seu enlace. Fugi pra longe e perdi o medo de me deixar envolver por teus braços. São dois lados. Os dois são convidativos. De um lado, o medo me dizendo que é perigoso demais, que posso me afogar, que posso me perder e nunca mais encontrar o meu porto seguro. Só que existe o outro lado. Os teus braços. Os braços que pareciam ser o meu porto seguro. Pena que nem todo porto se mantem seguro pra sempre. Naquele instante em que mergulhei em você, esqueci de mim. Somente te queria em mim. E a cada segundo, a cada batida do meu coração, a cada respiração, a cada beijo, a cada toque, a cada arrepiar, eu te queria mais. Mergulhava em você. Nadava em você. Não queria mais a superfície ou a segurança da terra firme. De alguma forma eu me sentia seguro em tuas águas. Elas me faziam bem. Elas me convidavam pra ir mais fundo e esquecer de tudo. Eu esqueci cada pequeno detalhe que me assombrava.
Eu me afoguei. Você não me queria mais em tuas águas. Eu me senti uma sujeira indesejável. Terrível é ficar onde você não é bem-vindo. Triste é querer permanecer quando estão te apontando a porta de saída. Angustiante é querer abraçar quem está com os braços cruzados. Eu quis saber o porquê. Eu quis te entender. Eu quis uma explicação. Eu não entendo porque você me convidou a nadar em tuas águas pra depois me fazer afogar nelas. Sei que meu querer, às vezes, sufoca alguns corações. Mas eu te queria tão baixinho. Meu querer nunca foi tão manso. Mas você era mais um ‘não’ na minha vida. Talvez um sim que iria se transformar em não. Na vida é assim, a gente mergulha pra depois se afogar. Vez em quando até morremos. A verdade é que eu morri em você. E agora eu quero ressuscitar em outro coração, em outros braços, em outro olhar, em outros lábios. Para poder nadar sem medo de me afogar de novo. Sem medo de morrer mais uma vez. A vida também é feita de mortes. Um dia a gente morre e no outro dia a gente ressuscita.
Por favor, vem para que eu ressuscite.


Um comentário:

  1. Já imagino a inspiração pra este texto u.u
    Mergulhe em algo mais inclusivo e que realmente te queira o bem. Há aqueles que não se importam, que são bons em teoria, que falam tudo da boca pra fora e não, de onde realmente deveria ser falado: do coração, do peito, das sensações, do sentimento... Da verdade. s2

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