Pensava
que eu tinha braços de borracha e que eu podia abraçar o mundo inteiro e trazer
cada pessoa pra junto do meu peito.
Pensava que eu podia enxugar todas as lágrimas, descansar todos os
corações cansados, dar colo aos corações carentes, dar abrigo nos dias de
tempestade aos corações amedrontados e angustiados. Mas eu nunca pude fazer
tudo. E até me senti frustrado por não poder ser o que eu sempre quis ser. Eu
sempre quis ser mais. Nunca me importei com os limites do meu corpo e da minha
vida que dizem que eu não posso e que não há como abraçar o mundo sem antes me
abraçar primeiro.
Pode
parecer estranho e meio dramático, mas eu não sabia cuidar de mim. Eu cuidava
melhor dos outros do que de mim mesmo. Recebia a vida do outro em meus braços,
mas os cruzava para a minha própria vida. Acho que eu vivia mais a vida dos
outros do que a minha. E aí vivia de adiar o que estava pedindo uma resposta e
uma decisão definitiva. Quando chegou a distância, o afastamento, a lonjura dos
corpos e até dos corações, pude perceber o quanto deixei a vida passar sem
vivê-la como devia. Deixei de me dar amor, carinho e atenção. Esqueci das
minhas feridas para cuidar de outras. Não me arrependo disso. Jamais vou me
arrepender de ter feito o que fiz ou do que faço. Se faço, pode ter certeza,
que faço com amor. Não faço pra te pedir algo em troca. Se derramo remédios e
faço curativo sobre tuas feridas, é porque assim sinto que devo fazer. Essa é a
minha missão. Mas não posso jamais esquecer que dentro de mim existe imensas
feridas precisando de cuidados. Esqueci muitas vezes de mim. E me esqueci em
muitos corações na esperança de que, as pessoas me tinham, fossem me cuidar com
o mesmo amor. No entanto, nem todo mundo cuida, nem todo mundo quer se sentir
responsável por cuidar das feridas de alguém.
Cada
um precisa aprender a cuidar de si mesmo. O outro chega e um dia infelizmente
pode ir embora. Mas nós estamos sempre ao nosso lado. Não tem como sair de
dentro de nós mesmos e tirar férias. Por mais que queiramos isso é impossível.
Eu não queria e nem quero mais viver outra vida. Quero viver a vida que tenho.
A vida que Deus soprou em meu corpo pequeno, magro e frágil. Já quis fazer as
malas, arrumar tudo, escrever carta de despedida que faz chorar e me mandar
daqui dentro de mim. Não suportava a minha realidade. Não suportava fechar os
olhos e me ver no espelho da minha alma. Eu sempre via o que não queria viver.
Pesadelo. Horror. Angústia. Tudo me comprimia como meu corpo comprimi a minha
alma dentro de mim. Queria uma resposta. Queria uma solução pra tudo isso. E
era tão simples, tão fácil, tão real. Era só abrir os braços e me receber como
aquele pai que recebe o filho depois de ter partido para uma longa viagem.
O
cansaço me fez abrir os braços. Me recebi como nunca recebi outra pessoa.
Aceitei o que sou e o que nasci pra ser. Lá, há uns mais ou menos vinte anos
atrás, quando era gerado no útero da minha mãe, me foi concedido a graça de ser
o que sou. Foi germinado em minha alma a minha missão, o meu querer, a minha
responsabilidade, os meus desejos, os meus segredos. Tudo de mim começou quando
eu comecei a ser formado e tecido. E me
abraçar foi como voltar ao útero de minha mãe para reconhecer que já nasci
assim. Condicionado a sentir mais do que devo sentir. Condicionado a amar
demais. Condicionado a deixar pedaços de mim por onde passo. Condicionado a
olhar além do corpo. Ver a alma. Ver o que ninguém é capaz de ver, e sentir o
que ninguém seria capaz de sentir. Ver beleza onde tudo mundo só vê feiura. Às
vezes, eu me confundo com as pessoas. Olho e acabo sentindo o que ela sente. É
estranho. Eu sei que é. Vez em quando eu nem entendo. Mas sentimento a gente
não entende. Apenas sente.
Agora
sei. Agora sinto. Agora vejo. Posso cuidar de mim. Posso me embalar entre meus
braços. Posso me dar amor. Posso direcionar meus passos. Posso escolher meus
caminhos. Posso ser mais feliz. E posso continuar com meus braços (e coração)
abertos para receber quem quer chegar. Quem quer amar. Quem quer se doar. Não
deixei de amar ninguém. Pelo contrário. Amo ainda mais. Porque aprendi a me
amar. E dou aquilo que tenho comigo. O amor que me tenho é o mesmo amor com que
te amo. Só. Se te cuido, cuido como se estivesse cuidando da minha própria
vida. Se te toco, toco como se estivesse tocando o meu próprio coração. Se te
abraço, abraço como se estivesse abraçando meu próprio corpo. E assim eu sigo
cuidando... De mim. De ti. E de nós.
"O amor que me tenho é o mesmo amor com que te amo." não tenho mais nada para declarar. O amor deve ser assim, nem todos querem algo tão forte, ou nos passa que eles querem, mas são rasos, então, não valem. É triste, acontece. Sempre tento chegar perto de alguém, logo me vejo que tenho que sair, é melhor, até. Mas é lindo ver amor, amor grande e doído como é, é lindo. Demais. Amei. Amo.
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