sábado, 7 de março de 2015

Umbilical


O mundo pode acabar em água. O mundo pode acabar em fogo. Tanto faz. É tudo lá fora. O mundo desaba. Chove torrencialmente. O mundo está desabando lá fora. Nós estamos aqui dentro. Quatro paredes. Quatro olhos. Quatro mãos. O mundo se cala quando eu desabo a minha existência nos teus braços. O mundo não pesa mais quando a minha alma desagua nos teus lábios. Vejo-te sorver de mim. Deixe-me oco. Sou teu. Deixe-me vazio. Sou teu. Não sei me ser mais. O cordão umbilical, que prendia minha alma ao meu corpo, foi rompido. O meu parto íntimo. Pari a minha alma para dentro de ti. O gozo na dor de me libertar de mim. Deixa-me doer essas dores, amor. E as tuas mãos (ah, não afaste suas mãos de mim), e os teus dedos (não, não me prive do teu toque!), e a tua pele (me queira com ela me devore com ela me ame com ela), e os teus olhos (não esconda de mim com tuas pálpebras, corte-as se quiser)... e você, você me alimenta agora. A única distância que consigo suportar é a desse cordão umbilical entre nós. Entre a minha alma e a tua. Não me devolva o que já é teu. Sim, eu sou teu. Estou num limbo terrível. Entre a vida e a morte. O limbo é o teu toque. Se você não me toca, tudo fica pesado demais e não posso respirar e não posso sentir a vida pulsando em minhas vísceras, em minha carne, em meu peito. Se você me toca, respiro, posso viver e sentir a vida jorrando pelas minhas artérias numa violência que me leva ao medo de ter minhas veias violentadas e meu coração esmagado. Você esmaga tudo em volta para que eu possa existir.

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