sábado, 24 de maio de 2014

A pele e a navalha


a pele é a fantasia
da alma.
em sublime calma
teus dedos me rasgam de alto
a baixo.
embaixo dos teus dedos - ou
entre eles - há
uma navalha que satisfaz a
insanidade do meu desejo
dispo-me da minha própria pele.
preciso mostrar-te as vísceras, a carne,
o peito cheio de pus, o sangue
dou-te a beber de mim
você
se sacia na fonte que está
quase
secando.
teus olhos se apartam dessa terrível
visão.
a verdade do que sou (?)
te escureceu as pupilas.
queimaram-se - as duas - nas chamas
do meu desejo e
as minhas dores
foram sorvidas pelo oco espaço opaco
vazio
estamos separados entre a superfície
e
a fundura do sentir.
enquanto eu me afogo você
me observa distante longe alheio
bebo cada gota como quem está
num deserto há dias
o sol escaldante queimando a pele
queimando as próprias chamas
entre meus ossos você escondeu
a ânsia de uma procura por aquilo
que você nunca perdeu.
também eu me ocupo em tentar
me livrar do mundo e dos seus olhos
tentando
me engolir aos poucos em pequenas
mordidas e logo estará tudo - eu você e
o mundo -
acabado.

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