quinta-feira, 26 de junho de 2014

Arrebentado


acordei no meio da noite
a noite me acordou ao meio
tanto faz
o que me fazia querer gritar
no meio da mudez de uma noite
escura e fria
era o meu desespero por poder
reconhecer – no meio da noite
e no meio de mim mesmo –
aquelas vozes que rasgavam
meus ouvidos
numa dor aguda e silenciosa
estou cortado, machucado, ferido
por essas vozes que ecoam no oco
são versos tecidos pela mão do impossível
são melodias compostas num instrumento
inexistente
são palavras ditas por lábios
secos e rachados como uma terra árida
feito ácido corroendo tudo por dentro
a palavra é veneno quando não dita
e a noite continua ao meio e continuo
ao meio
tentando me juntar pra não morrer
no meio, ao meio, na noite
mas não quero morrer inteiro e
me jogo, me lanço ao chão como
como um vaso arremessado
por mãos furiosas que desejam quebrar
tudo e todos na esperança de romper
a si mesmo
num momento de fúria
quebro-me
despedaço-me
esqueci de ser
inteiro.

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