Sempre
detestei essa ruindade que existe em mim. Sempre quis ter um coração bom.
Sempre quis fazer o bem. Sempre quis ser bom. Sempre quis ajudar todo mundo. E
sempre quis abraçar o mundo com meus braços que, infelizmente, não são de
borracha. Mas sou ruim. Sou ruim por natureza. E direcionar meus olhos pra
dentro e confidenciar essa verdade a mim mesmo, é fazer um tratado de paz com
minhas infinitas imperfeições. Sempre quis tanto, mas tanto... que quase nada
consegui fazer. Esse sentimento de impotência diante da dor do outro, me dói um
bocado. A dor do outro, vez em quando, dói mais em mim do que a minha própria
dor. É estranho. É raro. Porque parece que endureci um pouco. Ou não. Volto a
dizer do que sempre detestei. Sempre detestei sentir a dureza do meu coração.
Eu já me detestei por isso. Talvez eu nem tenha endurecido. Talvez tenha se
formado apenas uma casca grossa sobre a ferida. Porém, logo alguém vem. Vem e
esbarra justamente no local outrora ferido. A ferida toma seu lugar de honra. Sangra.
Não, eu não endureci. O sangue escorre, e posso provar do gozo e da dor que se
tem quando a vida insiste em pulsar em seu peito surrado pelos nãos, pelos
olhos desviados, pelos braços cruzados, pelas batidas insistentes em portas que
jamais se abriram, pelas idas e vindas do amor – ou das possibilidades dele. Eu
já tive vontade de me arrancar de mim. Há dias em que eu não me suporto.
Dormir? Tento, mas nem sempre resolve. Ainda não existe um remédio que me cure
de ser. Ainda bem. Ou não. Porque há sempre uma possibilidade. A vida é uma
incerteza. Mesmo que sejamos teimosos e tenhamos uma criança birrenta gritando
ferozmente bem lá no fundo da alma: eu-quero-assim-do-meu-jeitinho ou
eu-quero-agora. Mas que merda! Eu já sei que sou ruim. Eu já sei que há muitos
cantos sujos em mim. Só quero um pouco de paz pra descansar essa existência.
Não quero ser perfeito. Credo! Deve ser horrível ser perfeito. E deve ser mais
horrível ainda esperar por alguém perfeito. É preciso fazer as pazes com nossa
humanidade. Sempre me acumulo em mim. Sinto que estou prestes a explodir. Não
fique tão perto. Pode ser perigoso. Não quero machucar ninguém. Não suporto
quando minhas feridas ferem quem eu amo. E na tentativa de não ferir, acabo
ferindo ainda mais. Por quê?! Por quê?! Diga-me. Estou cheio de interrogações.
Mas não me venha com as tuas respostas pré-cozidas. Você me ajudaria muito mais
se ficasse calado e me abraçasse forte. Isso. Abraça-me forte, porque quero
fugir. Faz nó cego em mim. Dispenso os laços. Posso te fazer uma última
confissão antes que você se canse dos meus excessos e exageros desmedidos?
Posso? Fa(la)rei. Queria regressar aos
teus braços. Porque eles – só eles – se ajustavam às deformidades da minha
alma. E são essas deformidades e essas imperfeições e essas falhas e essas
dores que não me deixam esquecer o meu excesso de humanidade.
Uma certa pessoa um dia disse pra mim: Faz nó cego em mim. E sabe do que mais, ela é especial. Sente tanto quanto eu, ajuda-me a ficar bem e suporta a minha dor assim como eu suporto a dela. Devora-me às vezes com suas palavras profundas, mas, não me deixa só abraçando o vazio, pois me recheia o peito e me deixa feliz. E, ainda há um resquício de humanidade a ser encontrado nela (sempre haverá algo em falta), mas a sensibilidade que já tem, faz com que meus braços estejam sempre abertos à ela...
ResponderExcluirBeijo, no peito.