terça-feira, 2 de outubro de 2012

No silêncio da sua ausência



Desculpa, mas preciso voltar a te dizer uma coisa. Ainda sou criança por dentro. Criança birrenta, criança carente, criança medrosa, criança curiosa... enfim, em mim habita várias e diferentes crianças. Mas há uma que me veste a alma de profunda tristeza e ausência. Não posso te ver e essa é uma verdade incontestável. Por favor, não me julgue. Não posso te ver mas. É melhor assim. Não sei se é o melhor pra você. Só sei que não é bom pra mim.
Pode dizer que tenho um coração de pedra ou frio. Apesar de saber bem que não tenho um coração assim. Se realmente tivesse, não sentiria tudo isso que sinto quando estou perto de você. Perto e longe ao mesmo tempo. Há um abismo entre nós. Um abismo que o tempo fez questão de tornar mais largo e mais profundo. Penso que seria melhor não ver certas pessoas porque, afinal, elas sempre acordam sentimentos que antes estavam adormecidos. O tempo também foi o grande responsável por esse acontecimento. Carências, mágoas, ressentimentos e desafetos foram adormecidos dentro de mim. Mas quando toda vez que te olho nos olhos me sinto como uma criança de apenas sete anos que precisa de colo.
Tudo acorda em mim. Por isso, sempre evito de te olhar nos olhos. Eles sempre me entregam. É sempre assim. Meus olhos denunciam a minha necessidade absurda de correr para o seu abraço e deitar no seu colo por tempo indeterminado. Quem sabe todo o tempo que a gente perdeu se dissolva com um gesto demorado. Meu corpo deitado no seu. Meu ouvido encostado no seu coração. Talvez exista amor dentro de você. Dizem que cada pessoa ama do seu próprio jeito. Mas que jeito estranho de você me amar, né? Não sei se isso é amor. Desculpa (mais uma vez) mas acho que você não me ama. Perdoa-me se te julgo agora. Mas é o que sinto, e sempre costumo dizer o que sinto.
Toda vez que te vejo te sinto como um estranho. Alguém distante. Alguém que não tenho nenhuma intimidade e nenhum laço (a não ser o sanguíneo). Você me fez perceber que os laços de sangue se tornam muito frágeis quando não se tem proximidade e troca de afeto. A sua ausência já se tornou comum.
O tempo passou para nós dois. Não tenho mais sete anos. Já tenho vinte anos. O tempo deixou feridas difíceis se curarem totalmente. Chega um tempo em que elas cicatrizam. Mas permanecem no mesmo lugar. Adormecem. Perdem-se no tempo. Perdem-se no meio das mãos cheias de amor que outra pessoa me oferece todos os dias. Ainda bem que existe amor em outro alguém. A ausência do seu amor não me dói mais como antes. Talvez o amadurecimento sempre traz essa adaptação com as ausências que a vida tem. Não posso mentir e dizer que não dói e que não sinto falta. É claro que dói. Só que a dor é mais amena. É claro que sinto falta. Só que não é tão urgente. Não sei como foi sua infância. Talvez você me trate assim, porque foi tratado dessa mesma forma um dia. Que pena. A gente precisa fazer a diferença e dar o que não souberam nos oferecer. Quando a gente dá, inevitavelmente, recebe. É recíproco. Mas você não deve entender muito de reciprocidade. Você não deve entender muita coisa. E das poucas coisas que você entende erroneamente, é que o amor e o afeto podem ser substituídos pelo dinheiro. Que triste isso.
Fico tão triste por você. Vivo acumulando a tristeza dos outros em mim. Uma delas é a de perceber que você não consegue ser pra mim o que deveria ser de verdade. Guardo comigo, no silêncio da sua ausência, o desejo de que tudo isso mude um dia. Porque eu acredito na mudança. Sei que você pode. Sei que posso. Sei que todo mundo pode. É só querer. O que falta em você é isso. Querer. Não posso querer por você. Então queira, por favor. Queira.
Enquanto isso, vou passando pelos momentos em que preciso colocar a criança, que vive dentro de mim, pra dormir. Sossega, criança. É só mais uma tempestade. Pode dormir. Daqui a pouco ela passa. Mas, às vezes, a criança não consegue dormir. E quer chorar... 

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