Estava
tão quente. Transpirávamos tanto. Bebíamos tanta água para não ficarmos
desidratados. Mas agora o tempo mudou. Está frio. Muito frio. E meu corpo pede
calor. Meu coração pede a quentura boa dos sentimentos bons. Enfio-me debaixo do
meu cobertor. Debaixo dele parece tão seguro, tão quente, tão macio. Sinto até
uma vontade estranha de ser um só com ele. Ou ser simplesmente ele.
Não
sou egoísta e sei que muita gente está passando frio. Tem tanta gente sem amor,
sem carinho, sem afeto. Gente vazia e triste. Queria trazer todo mundo pra
debaixo do meu cobertor e mostrar que o mundo pode ser diferente. E que as
pessoas também podem ser diferentes. Não sei por que cargas d’água escrevo
isso. Só sei que debaixo do meu cobertor sinto que estou protegido. Meu corpo
frágil, que deseja ardentemente a segurança de braços fortes e sensíveis, encontra
refúgio ali.
Vez
em quando nossa alma fica tão cansada que nosso corpo acaba sentindo. É isso. O
corpo reflete o que a alma sente e tenta esconder. Mas é em vão. Nossa
fragilidade é tão grande. Basta um sopro e logo podemos nos despedaçar no chão.
Não há segurança em todos os abraços. Não há verdade em todas as palavras. O
mundo, às vezes, é muito escuro e assusta. E a criança só sente medo de abrir a
porta e sair por aí. O mundo é um mistério que nos foi apresentado no dia em
que um bendito homem nos retirou do lugar mais aconchegante do mundo. O útero
da nossa mãe. Queria mesmo era esse
cobertor feio de carne, sangue, etc... Queria me sentir protegido outra vez.
Porque quando a luz rasga a escuridão diante dos nossos olhos, ficamos
assombrados sem saber o que pode acontecer dali pra frente.
E
tanta coisa já aconteceu. O acontecido gera em nós tantas marcas. Decepções.
Alegrias. Tristezas. Amor. Ódio. Enfim, são tantas e diferentes marcas. Marcas
que fizeram de nós pessoas mais sensíveis, mais frágeis. Outras pessoas infelizmente
ficaram mais endurecidas, fechadas, amarguradas. Que triste isso... Queria
mostrar para essas pessoas o meu cobertor. Não tem nada de muito
extraordinário. Não tem nada de magia. Nada de grandezas. Nele só cabe coisas
pequenas, coisas simples. Nele só cabe o que é bom. Por isso, toda vez que me
enfio debaixo dele, deixo do lado de fora tudo o que é ruim.
Sabe
por quê? Dentro dele só cabe amor, esperança e fé. Amo o que sou. Amo os que
carrego dentro de mim. E amo até alguns que ainda nem olharam direito pra mim,
mas admiro de longe. Espero sempre ser
uma pessoa melhor. Espero sempre morrer em cada dormir. Espero renascer em cada
acordar. Tenho uma fé que você pode achar boba ou doida. Tanto faz. Acredito
que esse cobertor, na verdade, são os braços de Deus me aconchegando a cada
noite e me devolvendo pra mim mesmo. O que eu perdi. O que ainda não encontrei.
Tudo está ali. No silêncio. Na noite fria, que não é tão fria por causa do meu
cobertor. Nas palavras pensadas que, às vezes, não conseguem ser ditas pra
ninguém. Ali, debaixo do cobertor. Há sempre muito amor.
Que
nunca falte. Amém!
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