Eu estava bem. Eu estava
feliz. Minha felicidade era real. Não era euforia. Estava feliz porque havia me
encontrado. Estava em paz. Estava me cuidando. Ou melhor, eu estava aprendendo
a cuidar melhor de mim. Não é que aprendi a ser egoísta. Só aprendi a cuidar
melhor do meu jardim. Aprendi a fechar a porta quando a visita é indesejada ou
representa algum risco para ele. Aprendi a mandar embora quem não me faz bem,
quem não é honesto comigo, quem não é reciproco. Aprendi que não posso deixar
as pessoas entrarem nele, pisarem na grama e nas flores, derrubar os bancos,
jogar seus lixos pessoais, e, depois de muito destruí-lo (e me destruir), irem
embora como se não tivessem feito absolutamente nada. Quisera eu ficar com nada
em relação aos prejuízos que essas visitas me causam. Mas não quero
contabilizar os danos. O que sei é que estava tudo bem até o dia em que você
chegou.
Você bateu na porta
do meu jardim com um olhar. Pediu licença entre um passo e outro que te
aproximava de mim em silêncio. Eu abri as portas retribuindo o seu olhar. Você
entrou agradecendo com um beijo. E tudo começou. Eu te quis. Você,
aparentemente, também me quis. Só entra quem quer entrar. Não obrigo ninguém a
entrar no meu jardim. Depois que você entrou, eu te quis mais. Quis suas
palavras acalmando minhas urgências. Quis seus braços envolvendo e dando
segurança ao meu corpo frágil e tão inseguro. Quis fazer dos seus braços o meu
perto seguro. Mas só que eles são o meu porto (in)segero. E me aventurei em
fazer do seu abraço a minha morada. Esse negócio de querer alguém é tão
difícil. Não se lidar com isso. É tão difícil querer o outro sem deixar de se
querer. Quanto mais te queria, mais eu deixava de me querer. Eu te queria mais
e me queria menos. Eu te amava mais e me amava menos. O amor que eu me tinha se
perdia quando eu te olhava nos olhos e sentia o desejo de mergulhar neles. É
loucura isso. Mas muita gente viveu ou vive assim.
Amor próprio é uma
coisa muita difícil de se conquistar. Principalmente quando você ama muito
alguém. Tá, eu sei que a gente precisa se amar, se gostar, se cuidar e blá-blá-blá. Mas tente explicar isso pro seu e pro meu coração. Coração não entende muito
bem essas lógicas e o que deve ou não fazer. Tudo bem, eu me amo, eu gosto de
mim, eu me cuido. Mas confesso que te amei bastante, que te queria muito. E
acho que você sabia disso. Quando a pessoa sabe que é amada, muitas vezes, ela
usa isso contra a gente. Triste isso. Mas é verdade. Muita gente esnoba em vez
de retribuir o sentimento. É tão estranho o amor que a gente sente ser uma arma
perigosa contra nós mesmos.
Sou o meu próprio
perigo. Sou o meu próprio abismo. E esse abismo habita dentro de mim. Um passo
em falso e despenco. Só Deus sabe quando conseguirei me recuperar da queda.
Mas, me diz uma coisa: alguém já conseguiu amar sem cair, se machucar bastante
ou sem se decepcionar? Acho que ninguém. O amor também é feito de dor. Se o
amor não dói, não é amor.
Sei que posso te
querer sem deixar de me querer. Entendi isso. Mas meu coração é um pouco burro.
Coitado dele. Ou melhor, coitado de mim. Meu coração vai e eu vou junto. Sou um
João-vai-com-o-coração. Vez em quando até consigo não te querer muito. Mas logo
esqueço de mim. Aí lembro mais de ti. Esqueço-me em algum lugar, esperando que
você vá me buscar. Se me esqueci é porque queria te encontrar. Sabe, seria mais
fácil te encontrar sem me perder. Seria mais fácil te querer sem deixar de me
querer. E o que escrevo agora já está ficando tão repetitivo que acho que é uma
forma de tentar me convencer que consigo me querer mais que você. Mas, vamos
falar a verdade agora. Não consigo. E ponto. Um dia aprendo. Ou não.
Te querer sem deixar de me querer, é um complexo simples, sabe? É um doar, mas auto gostar-se por igual. O amor deve ser vindo pra somar e não pra salvar, antes sejamos felizes, com isso, podemos agregar um outro, uma cobertura para dar um gostinho a mais no bolo bom, crescido e bonito...
ResponderExcluirTenho um texto que fala sobre isso, vou por um trecho aqui: "Dosamos a vida com “a busca” por feliz ser, mas apenas basta erguermos o sorriso e passearmos nos bosques das oportunidades. O amor sonhado pode deixar-te pesaroso, mas se saiba que ele apenas é complementação à tua felicidade. Sorria-te." http://umaestrelanochao.blogspot.com.br/2012/10/sobre-felicidade-dois.html
Se quiser conferir, ta ali o link. Beijos, curti o post.