Estou
inteiramente e inegavelmente rasgado ante a mudez dos teus olhos. Aqueles
mesmos olhos que outrora beijavam a minha pele empalidecida. E como eu gostava
de ser beijado por teus olhos. Teus olhos. Teus olhos. Teus olhos. Vou
repetindo por dentro pra não me esquecer da intensidade com que os teus olhos
me olhavam e me beijavam.
Se sou
comida ou bebida pra alma, não sei. Sei que você enjoou de mim. Você me vomitou
e eu ainda não sei o motivo. Meus lábios estão cansados e meus dedos já se
calaram. Não consigo mais te escrever. Não consigo mais te perguntar o motivo
dessa tua indiferença. Pode me odiar. Sim, eu preferia que você me odiasse com
toda intensidade que você é capaz. Porque ódio dói menos que indiferença. No
ódio, você ainda é lembrado de alguma forma pela pessoa. Mas, na indiferença, você
é completamente esquecido.
Estou
ferido. Você me feriu sem me tocar. E acho que essas feridas são as que mais
demoram de cicatrizar. Você me fere com esse olhar mudo. Estou ferido. Repito.
E das minhas feridas escorrem palavras. Essa foi a minha escapatória. Esse foi
o meu remédio. Esse foi o meu cuidar das feridas. Esse é o meu porre de (quase)
todos os dias. Escrever. Escrever. Escrever. Até sentir as palavras secarem
dentro desse meu coração burro que traz o mundo inteiro pra dentro de si. Vou
acomodando sentimentos e palavras e gestos e ausências e silêncios e pessoas e
desejos e necessidades. Vou juntando tudinho dentro de mim, ao ponto de me
sentir estourar pelas beiradas.
Sou um
perigo. Sou o carro em alta velocidade a atravessar o sinal vermelho em uma
avenida agitada. Atropelo tudo. Atropelo o mundo. E me ferro. Acho que posso ir
mais. E acho que posso ir mesmo estando todo ferido.
Quanto
maior for a proximidade, maior será o perigo. Não existe ninguém mais perto de
mim do que eu mesmo. Sou o meu maior perigo. Talvez eu já tenha te dito isso.
Desculpa se volto a repetir. Palavras nunca são repetitivas. Palavras se
renovam dentro da gente. Eu, por exemplo, vivo me reciclando. Reciclo
sentimentos que já estavam tão mofados e velhinhos. Não prestava pra mais nada.
Mas aí vem o senhor amor e a senhora vida e tratam de reviver em mim o
não-mais-vivido.
Quer saber?
Quer? Se não, tanto faz. Se sim, obrigado por me escutar. Não culpo ninguém por
cair tantas vezes nesses abismos no meio do caminho. O próximo passo é sempre
meu. Sou eu quem dá o passo. Sou eu quem diz sim. Ao outro compete o convite.
Mas só a mim cabe a decisão de ir ou não. Pode dizer que eu sou doido, maluco.
Viver é mesmo assim. Não tem muita lógica. Se tiver, perde toda a graça. (Vi)ver
dói. E, se não doesse, não se chamaria vida. Se chamaria qualquer outra coisa,
menos vida.
Ai, vida, que
dor é essa? Cadê minha anestesia?
Ser humano, louco por felicidade, traidor das suas próprias vontades,apaixonado pelo o impossível, tortura suas emoções, corroem os seus ossos frágeis, derrota a se mesmo, jogando-se no mais profundo abismo [...] Ser feliz é tão simples ... colocamos a felicidade tão distante de nós ... uma vez que, ela está aqui do lado, ma sua frente, na sua porta deixa ela entrar... por favor... deixa.
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