Tantas cores. Tantos sabores.
Tantos amores. Tantos sonhos. Tantas esperanças. Tanto querer. Hoje sei que a
mudança está acontecendo. Do lado de fora, aparentemente, nada mudou. Tudo
continua da mesma forma. Mas, dentro de mim, tudo está ao contrário. E acho que
está de cabeça pra baixo. Do lado avesso. O contrário de mim. Esse sim me faz
feliz. Esqueci meus medos e minhas concepções do que era certo e errado para
simplesmente escolher o caminho da felicidade.
Se eu pudesse escrever tudo que
aconteceu em meu interior esse ano, eu não seria capaz. Seria preciso folhas,
folhas e mais folhas. E, ainda assim, seria insuficiente. Porque, as mudanças
que acontecem em nós, são grandiosas. Um pequeno detalhe, uma pequena cor, um
pequeno movimento, é capaz de mudar a nossa vida, a nossa história.
Mudei. Mudei os móveis de
lugar. Mudei a roupa de cama. Mudei as cores. Mudei tudo. Só não mudei de casa.
Tirei os tapetes. Varri a sujeira acumulada escondida debaixo deles. Quis meu
coração limpinho. E ainda o quero assim. Pois sei o quanto preciso que o meu
coração tenha rastros de bondade. Não foi fácil. Sangrei. Chorei por dentro. E
as pessoas que me olhavam não viam minhas lágrimas. Mas eu e Deus sabíamos de
tudo que se passava aqui dentro. Cada mover de um móvel dentro da minha pequenina
casa-coração era uma dor discreta em meu peito. Mas depois a dor sempre
passava. Foi um dos aprendizados mais bonitos que eu tive esse ano. Toda dor
passa. Não importa o tempo que demore. A dor não é eterna. A dor não dura pra
sempre. Ainda que ela te esmague o coração e furte todas as suas forças. Ela
passa. Nossa vida não é feita só de branduras e paz. Sabemos bem disso.
A dor mais intensa que vivi esse
ano foi ver minha irmã em coma induzido. Sua vida estava por fio. E foi por
esse fio que Deus a salvou. Deus é tão grande e tão maravilhoso que, nas coisas
mais frágeis, manifesta a sua força e o seu amor incomparável. Quando todos
achavam que era o fim, que a vida da minha irmã havia se findado, veio uma luz
e levou embora toda escuridão. Foi num dia de sol. Num fim de tarde. Onde eu
sentia o peso da quase partida. Deus olhou com compaixão para nossas lágrimas e
as enxugou. E derramou remédio sobre a vida da minha irmã. Dia após dia ela foi
se recuperando. Os médicos estavam sem esperança. E eles mesmos reconheceram
ali um milagre. Foi na fragilidade do fio que a vida da minha irmã foi
resgatada. E eu agradecerei a Deus a cada instante por esse fio que ainda
mantinha a vida da minha irmã aqui conosco. A dor passou. E a alegria do
retorno se fez presente em nosso meio. Minha irmã está bem e saudável. Desculpa,
mas ainda existe gente que não crê na existência Deus. Não sei como. Não julgo,
não condeno e nem faço cara feia. Somos livres para crer e não crer. Mas ainda
me entristece a incredulidade de muitos.
Aquela dor, de não conseguir
viver dentro de mim, me abandonou a alma. Agora me sinto livre daquele
desconforto insuportável que me causava as paredes do meu quarto escuro. Na
verdade, o meu quarto não está mais escuro. Abri portas e janelas e permiti que
a luz entrasse. A luz invadiu cada canto e aquilo que eu não queria ver se
tornou parte da minha vida. Rasgou-me todas as roupas que vestiam e pesavam
minha alma. Deixou-me completamente nu. E me mostrou quem eu sou. A busca por
ser quem somos e para que nascemos, é uma busca que jamais terá fim. Mas há
momentos em que essa busca encontra respostas intensas. A maior resposta eu
encontrei quando me permiti olhar frente ao espelho de minha alma. E não
desviar o rosto e não fazer cara feia e não sentir nojo e não sentir repulsa e
não sentir mais vontade de fugir. Simplesmente abraçar a nudez da minha alma e
acolher em meus próprios braços. Sou quem sou. E sou feliz por ser assim. Não
sou doce. Não sou azedo. Não sou salgado e nem amargo. Sou tudo ou até mesmo
nada. Mas sou. Sou aquilo que você vê e tudo aquilo que se esconde nas
entrelinhas e nas sombras do que escrevo. E escrevo na ânsia me fazer livre das
correntes que ainda tentam me aprisionar dentro de mim. Porque amar é
libertar-se de si para morar no coração de alguém.
O que mais querer se não amar?
E não me refiro ao amor entre um homem e uma mulher, ou entre dois homens, ou entre
duas mulheres. Refiro-me ao amor que precisa nos habitar sempre. O amor que nos
mantem vivos. Nasci para amar. Para manifestar esse amor em gestos simples.
Palavras escritas. Palavras ditas. Silêncios. Olhares e abraços. Em cada coisa
que faço preciso ser amor. Esse amor puro que parece ter sido maculado pelo
nosso orgulho e superficialidade. Não deixe o amor morrer. Ame mais. Não, não
diga que você ama. Apenas ame. E só.
Sinto-me agora diante de uma
porta fechada. Estou pronto para abri-la. A porta tem um número estampado.
2013. Não sei e ninguém sabe o que há atrás da porta. Somente saberei se tiver
a audácia e a coragem de abri-la. Quero abrir. Quero saber o que há. Que me
despedir com um sorriso emoldurado no rosto e com o coração saltitante de
gratidão por 2012. Quero ir. Já disse, mas preciso repetir. Minha sina não é
ficar. Por isso, eu vou. Venha comigo. Me dá aqui sua mão. Eu também tenho medo
de vez em quando. Mas juntos a gente consegue. Não seja tão orgulhoso. Nós
precisamos um dos outros. E reconhecer isso também é saber-se limitado.
Vamos juntos. A porta precisa
se abrir. Vamos seguir. Sempre em frente.