Não tenho medo e nem vergonha de expor aqui algumas coisas do que já fiz ou vivi. Há algum tempo atrás me consultei com um psicanalista. Foi muito bom, realmente eu estava precisando naquela época. Não que agora eu não precise mais. Só que agora aprendi (com ajuda dele) que posso solucionar muitos conflitos que existem dentro de mim. Preciso muito da ajuda dos outros, como qualquer outra pessoa precisa. Reconheço isso. Porém, reconheço também que preciso exercitar a autoconfiança. Confiar mais na minha própria capacidade de me levantar da cama, abrir a porta e sair do quarto escuro que tanto me aprisiona.
Estava vivendo dessa forma: aprisionado dentro do meu quarto escuro. Observando por uma janela minúscula o que acontecia do lado de fora. O quarto só ficava iluminado e cheio de vida quando algo acontecia. Ou seja, tudo o que acontecia dentro do quarto, dentro de mim, dependia única e exclusivamente do que acontecia em volta, do lado de fora. Era uma dependência terrível. Dependência que em apenas uma consulta, o psicanalista foi capaz de perceber. Eu também já sabia disso, mas não tinha coragem de encarar a realidade, de que eu só era feliz se todos a minha volta estivessem “bem” comigo.
Infelizmente a covardia nos derruba, nos cega e nos manipula como mãos que seguram um fantoche. Sabemos muito bem que estamos vivendo de uma forma errada, que precisamos mudar urgentemente, mas o medo não deixa. O medo sempre persegue. Aquele medo de deixar de ter a presença, o carinho, e, a cima de tudo, o amor do outro. Sempre tive esse medo. E quem me conhece bem já ouviu essas palavras vacilantes dos meus lábios: “tenho medo de todos deixarem de me amar”. Penso que são muitos os que carregam esse medo em seus ombros. É o medo da solidão, de não ter com quem contar naqueles momentos..
Além de manipulador, o medo nos paralisa e faz com que nos achemos incapazes de vencer nossos conflitos, andar no meio de uma tempestade, e ser feliz sem depender (totalmente) do que está acontecendo externamente. Se começarmos olhar bem pra dentro de nós mesmos, começaremos a perceber que somos capazes sim, que dentro de nós existe uma força tremenda capaz de nos erguer, capaz de curar toda paralisia, toda cegueira. Porque às vezes, a gente só consegue enxergar o outro, nunca nos enxergamos. Nós olhamos para o outro e vemos muita força, mas quando olhamos pra dentro da gente só vemos fraqueza e limitação. Realmente somos assim. No entanto, é na fraqueza que a nossa força (dada por Deus) se revela.
É momento de tirar os olhos da janelinha do quarto. Vamos olhar pra dentro dele. Não importa se ele está sujo, bagunçado e escuro. Se estiver assim, é hora de começar a trabalhar, de fazer alguma coisa para isso tudo mudar e ficar diferente. Não adianta ficar esperando o outro entrar e te ajudar a colocar tudo no lugar. Talvez ele esteja muito ocupado fazendo a “faxina” no quarto dele. Preocupemo-nos agora em cuidar de cada cantinho desse quarto. Limpar cada sujeira minúscula, deixar cada coisa, cada sentimento no seu devido lugar, acender a luz. E por fim, abrir a porta com coragem. Assim, quando alguém quiser entrar, vai encontrar paz e muita luz. Vai entender que ali dentro existe alguém que se gosta, se ama e se cuida. Alguém que aprendeu a confiar em si mesmo e na força que Deus dá em todos os momentos. Alguém que não desistiu de ser. Alguém que lutou pra vencer.
É isso que somos: vencedores. Em cada conquista, em cada lágrima derramada, em cada conflito contra a nossa própria escuridão, em todos os momentos. São vencedores os que não têm medo de ser feliz, mesmo que muitos a sua volta não contribuam para isso. Seja feliz, vencedor, seja amor para você e para os outros. E não espere nada em troca. Amor não exige nada. Amor só ama e ponto.
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