O
começo - quando te disse sim - foi o (meu) fim. Estranho, ou não, é isso. Sins
que destroem tudo. Nãos que edificam. E eu não aprendi a lidar comigo e com
esse excesso de sentir. Sinto além de mim, de ti e de todos. Estou cansado de
habitar neste corpo. Este corpo se cansou de mim. Queria viver dentro do teu
corpo só pra saber se a vida dói menos aí. Vez em quando parece que você é
intocável e inalcançável. Você vê meus olhos despidos, mas não tem coragem de
pular de cabeça na escuridão que há neles. Você não se perde em mim. Eu vivo
perdido nesse labirinto. Você prefere viver confortavelmente dentro de você. A
sua companhia é a mentira, a sujeira acumulada embaixo de um
está-tudo-bem-amanhã-eu-resolvo. Você fede por dentro. Mas eu gosto do teu
fedor. E te cheiro. E te cheiro. E te cheiro. E teu cheiro... ah, não (!) teu
fedor não saí de mim. O que restou de nós – mesmo sabendo que esse 'nós' não
existiu, mas existiram os nós que fiz em você – foi apenas o cheiro inebriante
das tuas virilhas. Agora já não há mais nada intacto em mim. Está tudo sólido
em ti. Porque, no fundo, você bem sabe que viver de mentiras é confortável. A
verdade é um tapa na cara. Você não gosta de dor. Eu também não. Mas, ao
contrário de você, não vivo em fuga e nem fico anestesiando. Deixo a dor doer.
Deixo a ferida sangrar. Deixo os olhos abertos para minha alma (você) visitar.
Que triste. Você está ocupado demais cuidando de tecer suas próprias fantasias.
Dentro de você eu não caibo. O teu 'eu' ocupa todos os espaços. Seria
claustrofóbico viver no teu corpo. É, já não quero mais o que eu queria. Já não
sei mais o que querer. Não sei nem se querer é certo. Meus braços não suportam
o peso desse cansaço. Foda-se. Você e o seu mundinho de certezas e
racionalidades. Deixa eu me perder um pouco mais. Porque, pra você, tanto faz.
Foda-se. Você e a tua incapacidade de tocar e se deixar tocar por alguém. Foda-se,
já que não posso vomitar teus beijos e nem tua saliva. Foda-se, já que não
posso me esconder dos teus olhos que ainda estão escancarados em minhas
lembranças. É o verso mais bonito e mais sincero que já escrevi. Acredite.
Porque dói. E a dor é tão pura e tão verdadeira. É a minha dor. A dor que você
não quis acariciar e nem ao menos colocar pra dormir. Ausente-se mais... e, a
cada instante, aumenta em mim a vontade de calar meus dedos até minhas palavras
morrerem nesse abismo que há em meu peito. Sim, somos abismos. Mesmo sabendo
disso, meus pés insistem em se aproximar. Perigo. O teus olhos me olharam sem
olhar fundo e eu pude sentir o abismo me estendendo os braços. Convite mortal.
Fui.
Morri.
E
ainda não despertei. Deixa-me saborear esta morte. Engula qualquer doce mentira
e acredite no que quiser acreditar. Estou degustando essas verdades amargas que
a tua ausência me oferece. Parte, mas não me deixa partido, amor. É impossível.
Eu sei. Já entendi. (C)alma, teu barulho não me deixa adormecer. Sinto minha
alma secar aos poucos. A tua ausência fez de mim um deserto sem oásis. Você não
chove mais. Estou despido. Só não me dispo da minha pele porque é impossível.
Impossível é arrancar de mim essas marcas. Tuas coxas quentes aqueciam as
minhas coxas – frias. Quando sinto que estou esfriando por dentro vou
esgueirando pelas beiradas das lembranças até encontrar tuas coxas – quentes –
outra vez. Teus olhos mudos me olhavam
por olhar. Mas me olhavam. Era o fio que me sustentava. Só que eles queriam
nadar na superfície de mim. E como te pedir pra mergulhar em mim se você nem ao
menos consegue mergulhar em si mesmo? Teus lábios sempre foram inacessíveis. Os
meus sempre permaneceram nessa sede incurável. Meus lábios ficavam secos de
tanto e ir vir pelo teu corpo. Sobre os lençóis da memória ainda me vejo
tentando sorver um pouco de você... até que em um momento me afasto de tua pele
e vejo sangue. Sim, o meu sangue tingindo tua pele morena. Quanto mais tentava
te sorver, mais eu era sorvido por você. Quanto mais queria te beber, mais você
me bebia sem saber. Talvez eu só esteja de ressaca de tanto te beber. Talvez eu
só esteja seco de tanto ser bebido por você. Talvez eu só esteja querendo te
fazer um pedido.
Volta
e chove outra vez.
Pesado, Rafinha. Lindamente pesado.
ResponderExcluirTentando suportar o peso - levíssimo - desse comentário, Ana. <3
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